II

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"Foi como uma chuva de verão. Revigorante, inesperado e breve. Eu ainda consigo me lembrar. Eu me lembro de tudo, Francesca."

— Conde de Plimont, um mês e cinco dias após a partida.

Quarenta e cinco pés e alguns dedinhos.

Essa era a distância de um lado para o outro do saguão da Residência Amendale.

Francesca sabia disso porque tinha descido do quarto no segundo em que o primeiro raio de sol apontou no céu através da janela de vidro, que propositalmente não havia sido tampada pelas cortinas na noite anterior, e não parou de andar de um lado para o outro desde então.

Não é que ela estivesse nervosa... Só estava completamente apavorada!

A expectativa gelava os seus ossos e os fazia tremer. Ela queria pular, gritar e chorar baixinho debaixo das cobertas. Tudo ao mesmo tempo. Era uma sensação de liberdade precoce que a inquietava de maneira turbulenta, como se o universo dissesse: este é o momento, o momento que separa quem você era de quem você será.

Nada seria como antes.

Se ela tivesse sorte, tudo mudaria.

Ela mudaria.

Ou então teria que ser forte para aprender a ser fraca durante o resto de sua vida. Para sempre uma subordinada, à sombra de um grande homem, carregando nas costas o peso de seu título.

Francesca nunca estaria preparada para aquilo e nunca entenderia o porquê de, dentre todas as moças do mundo, logo ela ter sido a escolhida para exercer aquele papel.

— Querida? — Sua mãe surgiu no topo da escada.

A condessa trajava um robe de seda vermelho e tinha a feição sonolenta de quem acordara não havia muito tempo.

— O que faz aqui embaixo?

Francesca não respondeu, envergonhada por ter sido flagrada em sua impaciência. Ela cruzou os braços e abaixou o olhar para os pés, logo depois ouviu o som dos passos da mãe e soube que ela estava se aproximando.

— Francesca Elizabeth Windsor. — Embora aquela fosse uma reprimenda, a voz da condessa estava carregada de afeto.

Francesca suspirou, sentindo-se bastante patética. Não era suficiente que ela estivesse tão ridiculamente amedrontada, sua mãe e, consequentemente, seu pai teriam que ficar sabendo disso.

Ótimo, fantástico!

— Não quero correr o risco de me atrasar — admitiu, envergonhada.

— Querida... — falou a mãe docemente e passou a mão por seus longos cabelos vermelhos, que estavam presos em uma trança desarrumada que ela mesma tinha feito. — Você nem deixou que Anne fizesse seu penteado.

Em sua pressa, Francesca nem pensara em chamar a criada. Por aquela ter sido a primeira vez em que se arrumara sozinha, ela tinha ficado bastante orgulhosa de si mesma.

Até aquele momento.

Céus! Ela nem conseguia arrumar o próprio cabelo de maneira decente, como alguém poderia esperar que fosse uma boa esposa para um duque?

— Ela não está acordada — mentiu, sentindo a voz embargar de repente.

Ansiou pela oportunidade que aquela semana traria durante a vida inteira, e, no entanto, tudo que queria era chorar compulsivamente no colo da mãe.

Tinha medo de ir, tanto quanto tinha de ficar.

Era provável que, caso ela não conseguisse causar um escândalo bom o suficiente para fazer com que o duque desejasse dissolver o contrato, aquela semana na companhia de uma dúzia de damas mais apropriadas que ela, serviria, principalmente, para acentuar seu próprio despreparo.

Os segredos do conde de Plimont (degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora