Sento novamente ao lado dele. Meus pais já me falaram sobre ele: filho único da família, perdeu uma perna andando de skate ou algo do tipo.

— Então, como está sua perna? — Pergunto nervosa. Só percebo o que falei após as palavras saírem da minha boca. Que droga foi essa?

— Acho que do mesmo jeito que seus olhos.

— Isso foi pesado — Digo olhando para onde vem sua voz.

— Não, o que quis dizer é que eu já acostumei a não ter ela, então atualmente é algo que não penso muito a respeito, assim como você lida com o fato de não enxergar.

— Como sabe que lido assim com isso?

— Eu vejo você na escola... Na verdade vejo você em qualquer lugar. — Ele fala a última parte tão baixo que quase não ouço.

— Como assim? Você me persegue?

— Não, claro que não. É só que eu gosto de cuidar de longe para ter certeza que ninguém vai fazer nada contra você, as pessoas na escola tendem a ser idiotas.

— Por que você fica cuidando de mim de longe? — Pergunto sem entender.

— Eu não sei, eu era um idiota que fazia pegadinhas antes, mas depois que perdi a perna ano passado, isso mudou, eu passei a ver o mundo pelo lado de quem sofria com isso... E me preocupo com você.

— Hum, obrigada, eu acho.

Fico sem jeito com a pausa que ele faz antes de terminar de falar a última frase. "Me preocupo com você". Por que alguém se preocuparia com outra pessoa se nem a conhece direito? Ok, tem todo esse papo de ele perder a perna e tudo o mais, mas mesmo assim, devem ter outros cegos na escola para ele se preocupar.

— Backster, me responde uma coisa, meu cabelo tem a cor do oceano?

— Qual deles?

— Eu não sei, pedi pra minha irmã pintar da cor do oceano que ela achasse mais apropriado para mim.

— Olha, eu acho que ela errou o tom.

— Como assim?

— Seu cabelo tem um azul atlântico, mas os mares antárticos seriam mais apropriados, apesar de não serem tão lindos quanto você.

Sinto meu rosto corar, não sei como é o vermelho, mas todos dizem que é assim que ficamos quando coramos. A mão dele está em meus cabelos e eu esqueço de respirar. São reações involuntárias, estranhas e deliciosas. Volto a respirar quando ele tira a mão, mas ainda me sinto sem graça.

— Acho melhor eu entrar, quer dizer, devem estar me esperando — Digo levantando do banco com o apoio do corrimão, mas antes que eu possa ir embora, sinto a mão dele em meu pulso. Uma onda de eletricidade parece subir pelo meu corpo com seu toque; outra sensação involuntária, estranha e boa, eu poderia me viciar nisso.

— Espera, posso te fazer uma pergunta?

— Pode, eu acho — Respondo voltando-me para sua direção novamente, tentando disfarçar o rubor em meu rosto.

— Como você se apaixona?

— Como assim? — Pergunto sem entender.

— Quer dizer, você já deve ter tido um namorado né, como você se apaixonou, como sabia que gostava dele se não podia vê-lo?

— Acho que essa não é uma pergunta que eu possa responder, eu nunca tive um namorado.

— Ah — Diz ele soltando minha mão com calma — Espero não ter ofendido.

Natal Para CegosWhere stories live. Discover now