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Nem preciso olhar muito para dizer que o quarto dela é a representação mais direta de sua personalidade. Parece com os bares americanos, escritos em neon e luzes piscantes, pôsteres mal colados, placa de "aberto 24 horas", cama bagunçada, vinis de Heavy Metal espalhados por aí e a música baixinha tocando agora é "I Just Don't Know What To Do With Myself."

Se estivesse bêbado eu com certeza não saberia diferenciar esse lugar de um bar. Mas estou lúcido, tanto quanto Alice que me aperta em um longo abraço.

O tom de meia luz quase se ofusca nos neons, percebo que estou com calor.
A música, a iluminação e o próprio contraste absurdo porém suave de temperaturas me atordoam.
Se estivesse bêbado eu com certeza me sentiria exatamente como agora.

Há tempos não tinha uma relação próxima com Alice. Era normalmente um comprimento informal na sala e outro se nos esbarrássemos na saída, porém há algumas horas ela me ligou como última opção de quem poderia escutar seus pedidos de socorro e agora ela chora em meus ombros.

Não sei quanto tempo levei até aqui e nem sei que horas são. Perdi totalmente a noção do tempo e eu acho que da própria realidade.

Acho que consegui afasta-los dela, mas algo me diz que as coisas não vão acabar simplesmente assim, e eu tenho medo que algo esteja certo.

Alice se afasta de mim desfazendo o abraço e me olhando com desesperança.

-Obrigada por estar aqui. - Diz.

-Como você se sente?

-Sinto que fiz algo muito errado.

-Vai ficar tudo bem, Alice.

-Não, você não entendeu. Obrigado por ter vindo, mas infelizmente, chegou tarde demais.

Estreito minhas sobrancelhas, tarde demais? Olho em seus olhos e com medo da resposta, pergunto;

-Tarde demais por quê?

Alice começa a chorar e se inclina para o lado contrário de mim, escondendo seu rosto com as mãos e com cabelo.

Eu enfim olho para o que tem do outro lado da cama. Agora ficou claro.

-Alice. Você pretendia tomar esses remédios?

Ela não me da resposta, mas não precisaria. Agora eu entendo, Alice não pretendia tomar aqueles remédios.
Ela já havia tomado.

Alice E ElesWhere stories live. Discover now