Capítulo 1

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SELENE

Respirei fundo para me preparar. As palavras de Drake ainda ecoavam em minha mente, confortando-me. "Não se preocupe, você vai conseguir. Se precisar de mim, estarei aqui." 

Seis meses se passaram desde o encontro com Aldric e decidimos tentar promover a harmonia entre as espécies. Rose e Chase decidiram fazer parte desse plano, por isso tivemos de esperar por dois meses o ex-caçador se recuperar para sair do Reino de Cobre. E agora, aqui estava eu, olhando para os dois no meio da multidão, me dando apoio moral. Drake estava longe, mas estava me escutando.

Eu já perdi a conta de quantas vezes eu subi num caixote qualquer no meio de uma cidade pequena para fazer um discurso. Mesmo assim, meu coração sempre ficava  agitado. Eu sabia que seria um processo demorado e que talvez fosse melhor ir a cidades maiores, mas eu não tinha coragem ainda. A natureza humana é contra mudanças, e era isso que impedia de me arriscar desse jeito.

Quando estava pronta, subi no caixote e pedi atenção das pessoas. Como sempre, começava dizendo que a guerra iria acabar destruindo ao menos uma das espécies, e precisávamos parar com isso enquanto havia tempo.

"Mas dragões mataram minha família!"

"Precisamos nos defender!"

"E daí se eles forem extintos? Quero que todos morram!"

Essas eram algumas das respostas mais comuns, acompanhados dos olhares de repúdio e punhos cerrados no ar.

— Pode ser que nós sejamos extintos também. Sei que é difícil de acreditar, mas podemos conviver pacificamente. Nem todos os dragões são criaturas vis e sanguinárias, muitos querem apenas viver em paz, e precisamos dar uma chance para que o ódio diminua. Claro que ninguém deve deixar que um dragão ataque! Concordo que a defesa seja importante, mas já pararam para pensar se sempre é necessária ou se o dragão apenas atacou porque se sentiu ameaçado?

— Isso é ridículo! Se a gente não mata primeiro, eles vão nos matar!

— Não é verdade, e eu posso provar que há dragões pacíficos.

Esse era o sinal para Drake sair de onde estivesse e voar tranquilamente até pousar ao meu lado. Ver aqueles olhos azuis tão confiantes sempre me dava mais força para continuar.

Estendi a mão para o focinho dele, tocando suas escamas enquanto ele fechava os olhos para demonstrar a confiança que tinha numa humana, se mostrando vulnerável. Geralmente, o público ficava pelo menos alguns segundos sem reação, de tão surpresos, e dessa vez não foi diferente. O problema era o que viria a seguir: como o povo reagiria depois do choque?

— Estão vendo? Eles não são apenas maus. Alguns podem ser bons e pacíficos, só precisamos dar uma chance.

— Mentira!

— É um truque!

— Como você controla o dragão?!

Várias pessoas gritaram ao mesmo tempo.

— Não é um truque e eu não estou controlando-o, ele está aqui por vontade, porque quer mostrar que não são criaturas irracionais. Só precisamos dar uma chance. Apenas isso.

— Não! Eles vão matar todos nós!

Então mais alguns continuaram a refutar a verdade, mesmo que esta estivesse na cara deles. Era engraçado como, às vezes, as pessoas simplesmente se recusavam a ver as coisas como eram, talvez por medo de mudanças ou mesmo por medo de dizer que estavam errados.

Entretanto, os jovens geralmente se mostravam mais abertos às mudanças, e assim, olhando para um garoto tímido que se aproximou curioso, Drake abaixou a cabeça e esticou o pescoço na direção dele. O menino ficou assustado a princípio, mas logo reuniu coragem o suficiente para tocá-lo, arrancando sobressaltos de todos ao redor.

O Labirinto de Erebos {Degustação}Where stories live. Discover now