10.0 - Relieve me

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Hallo hallo, povo! Prontos pra mais um capítulo? Antes de começarem a ler, vou deixar algumas informações para poderem entender melhor.

Primeiro, eu sei que o nome Clara não era um nome usado no Egito, mas, como desconheço qualquer adaptação do nome para a cultura, peço que me concedam esse momento de licença poética -q Mas se alguém conhecer uma versão egípcia para o nome Clara, diga nos comentários porque gostaria muito de saber xD

Algumas noções sobre mitologia egípcia, pra ninguém ficar perdido:
Amon/Amon-Rá/Rá = deus sol e principal divindade egípcia. Segundo algumas versões do mito, todas as formas de vida teriam sido criadas por ele.
Osíris = deus associado à vegetação e à vida pós-morte. Responsável pelo julgamento das almas dos mortos na "Sala das Duas Verdades".
Anúbis = deus da morte, da mumificação e do submundo. Uma de suas funções era proteger as tumbas e guiar as almas dos mortos no além.
Duat = também conhecido como Tuat, é o reino de Osíris e residência de alguns deuses e seres sobrenaturais, além de ser a região onde acreditavam que Rá viajava de leste a oeste durante a noite, além de também ser o local por onde as almas dos mortos passavam até os salões de julgamento.
Ao chegar à Sala das Duas Verdades, os egípcios acreditavam que a alma da pessoa era posta em julgamento em uma balança, ficando de um lado o coração da pessoa e do outro a pena da verdade. Caso o coração fosse mais leve do que a pena, era concedido vida eterna à pessoa, caso não, seu coração era devorado pelo demônio Ammit.

As informações históricas estão nas notas finais. Boa leitura ;)

XXX

"E agora o tempo não pode voltar atrás,
Posso ouvir o ranger das portas negras das terras eternas
Porque Anúbis está à minha espera
Para pesar a minha alma."
- Duat, Myrath

Tebas, Alto Egito, 1089 A.C.

- E no reinado de... - Donkor permanecia explicando para o estrangeiro, tendo sua voz calma e professoral a tomar conta do recinto, enquanto o homem de roupas estranhas ouvia-o aparentemente interessado, apoiado na lateral da mesa, mantendo as mãos nos bolsos da casaca enorme, da qual Clara sequer sabia o nome da peça.

A jovem apenas sorriu de canto, observando Donkor transcorrer em sua fala sobre as últimas linhagens faraônicas e acontecimentos no reino. Coisa que ela já sabia de cor, afinal, não cansava de ouvir a voz do escriba sempre que tinha uma folga de suas obrigações como cantora de Amon, o que acontecia várias vezes ao dia, tendo finalizado sua parte em algum dos rituais diários, caso não houvesse nenhuma procissão festiva nos complexos do templo de Karnak.

- Tenho certeza que escrevi sobre isso anteriormente em algum lugar... - o escriba comentou, coçando o queixo liso e sem barba, virando-se em seguida em busca de algum rolo de papiro com qualquer que fosse a informação que o estrangeiro perguntou. Clara até tinha perdido o rumo da conversa, mais absorta em seus próprios pensamentos.

Desviando seus olhos do escriba, ela voltou-os para aquele que se denominava como Doutor, que ajustava os óculos - Clara tinha certeza de que era assim que ele nomeara o objeto - em seu rosto, aproximando a face do papiro.

- Ah, Ramsés II... Ele era um grande homem, sabe? Uma pena que tinha certa obsessão por guerra e escravidão. - O estrangeiro ergueu-se em um único movimento, enfiando as mãos nos bolsos da calça.

Clara arqueou a sobrancelha, estranhando o estrangeiro comentar sobre um de seus antigos faraós como se o conhecesse em pessoa. A cantora voltou seus olhos novamente para Donkor, porém ele estava mais interessado em dividir sua atenção entre os inúmeros papiros, pelos quais seus dedos rápidos e esguios percorriam com facilidade, e o monólogo do Doutor sobre os inúmeros Ramsés que governaram o Alto e Baixo Egito antes de seu soberano atual, Ramsés XI, o Grande Hórus Vivo. Clara sempre se esquecia do título completo, o que a maioria das pessoas, e seu pai principalmente, consideravam como uma certa heresia.

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