Capítulo um

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2.813 palavras.

  — Vocês sabem que creme nunca é demais, eu sempre digo isso! — Paty sorriu, passando um pouco mais do produto que lambuzava seus dedos nos cabelos.

   Dani e Fê encararam a menina, revirando os olhos de maneiras idênticas. Fê deitou na cama enorme do quarto de Paty, abrindo os braços e pernas como uma estrela do mar, em cima da colcha amarela e felpuda de girassóis.

     — E não é demais mesmo. Só da pra sentir o cheiro do teu creme do corredor. Todo mundo te conhece pela marca desse finalizador Paty. — A garota de cabelos loiros resmungou, ainda encarando o teto e os adesivos de flores presos nele. — Relaxa nega, tá pra nascer um cabelo mais hidratado que o seu nesse mundo!

     — Ele é mais definido do que o tanquinho do Thiago… — Dani comentou, encarando as manchas do chão acarpetado do quarto, curiosa. As duas safiras que chamava de olhos brilharam no rosto sardento da morena, um sorriso nos lábios.

     — Vou levar isso como um elogio. Já que você passa muito tempo olhando pra ele na educação física, deve saber do que tá falando. — A dona do quarto armou mais os cabelos crespos, um sorriso malicioso de orelha a orelha no rosto. Fechou o pote de creme com um click e Dani a encarou, irritada.

     — Se ele não liga... Olhar não arranca pedaço! Não me enche Patrícia.

     As três riram alto, os olhos brilhando com felicidade velada no rosto. Fê levantou da cama, desamassando a blusa ciganinha branca que usava e chacoalhando os cabelos loiros e de pontas azuladas, resquícios de uma pintura antiga. Paty levantou da penteadeira, dando uma última checada em si mesma. Dani tropeçou na cadeira da escrivaninha quando levantou, fazendo o vestido florido balançar e ela soltar um palavrão alto.

     — Vamos descer logo e almoçar, por quê esse corpitcho não se sustenta unicamente de luz solar. — Fê disse, passando as mãos com as unhas bem feitas por todas as dobras do corpo.

     Os pais de Paty tinham organizado um almoço na casa da família, coisa que a mãe da garota adorava fazer. Não por quê ela cozinhava, na verdade, da última vez que a mãe de Paty tocou em uma panela, a casa inteira se recordava da explosão que deixou a mancha de fumaça permanente no teto da cozinha. O verdadeiro chef da casa era Carlos Daniel — o nome de novela mexicana foi dado pela avó de Paty —, que trabalhava como cozinheiro em um restaurante popular perto do metro tatuapé, um bairro da zona leste de São Paulo. Já Dona Ângela Castello, adorava promover esses almoços e o motivo, eram as mães de Fê e de Dani, carinhosamente chamadas de tia Gi e tia Lilian. Ângela, Gisele e Lilian sempre foram melhores amigas, desde os tempos em que estudaram juntas em um colégio de freiras e as três fizeram questão que essa amizade se perpetuasse, ao saber que tinham concebido bebês na mesma época.

     — Finalmente desceram, acho que vou até agradecer o milagre. — A mãe de Paty, sentada na poltrona vermelha de veludo e madeira de lei da sala, disse com um sorriso enorme no rosto, assim que as três garotas desceram as escadas, uma atrás da outra.

     — Você sabe como eu sou mãe...

     — Sei mesmo, sou igualzinha a você. — A mulher balançou os cabelos, crespos como os da filha, um brilho de satisfação no olhar.

    — Mãe, guarda o baralho, a gente nem comeu ainda! — Fê reclamou, olhando Gisele. A mulher estava jogada no tapete estampado, um baralho decorado espalhado pelo vidro da mesinha de centro.

Perfeitamente Adolescente [DEGUSTAÇÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora