hearts don't break around here

O dia cinzento cheirava à chuva e terra molhada. A janela estava aberta, apesar de ainda estar chovendo. Na cama desarrumada, haviam duas pessoas: deitada de ponta cabeça, com as pernas apoiadas na parede, estava Lili. Pertinho dela, com seu fiel violão, estava sentado Levi, dedilhando uma melodia improvisada que combinava com o barulho da chuva lá fora.

— If I could just die in your arms... — cantarolou Lili — I wouldn't mind.

— Não é essa música. — retrucou Levi, sem parar de tocar

Lili revirou os olhos, esticando o pescoço para olhar pra ele.

— Qual é então?

— Não é música nenhuma. — ele respondeu, rindo — Eu só tô tocando qualquer coisa.

Lili voltou o olhar para seus pés apoiados na parede, balançando-os no ritmo da música calma. No pé direito ela usava uma meia verde com patos amarelos, e no outro uma meia rosa com estrelas azuis. Se ajeitou, apoiando a cabeça no colo de Levi.

Ficaram em silêncio, enquanto Levi mudava a melodia e começava a tocar outra coisa. A chuva tinha aumentado, mas ainda não estava forte o suficiente para entrar pela janela aberta.

Ele parou de tocar para passar a mão pelos cabelos cor de rosa de Lili.

Era domingo à tarde. Último dia de férias, último dia antes que eles fossem obrigados a voltar para a vida real, para os problemas, para as mudanças... E tivessem que lidar com tudo que tinham deixado pra lá. No dia seguinte, Levi entraria num avião para ir morar do outro lado do mundo, deixando Lili para trás, para lidar com seus próprios problemas sozinha. Ao pensar nisso, o sorriso deixou o rosto de Levi.

— Ainda não é amanhã, sabe? — disse Lili, parecendo ler seus pensamentos — Quer dizer, óbvio que não é. É só que...

Levi riu, apoiando o violão do lado da cama e deitando ao lado de Lili, colocando seus pés aos lados dos dela na parede.

— Eu entendi, Lili. — falou

Ela sorriu e voltou a olhar para os pés. Suas meias coloridas contrastavam com as meias pretas de Levi. Ele virou o rosto para olhar pra ela. Ela tinha cílios longos e olhos pretos feito um par de jabuticabas. A ponta de seu narizinho arrebitado brilhava por causa do iluminador, e seu sorriso tinha uns dentes meio tortos que na opinião de Levi, só o deixava mais charmoso.

Lili virou-se e pegou o garoto a encarando no flagra. Levi corou e ela riu.

— O que estava olhando? — perguntou

— Você. — ele respondeu, com uma piscadela — Você é linda, Lili.

Ela escondeu o rosto com as mãos rindo.

— Paraaaaaaa. — reclamou

Nesse momento, a mãe de Lili entrou no quarto, sem bater na porta. Ela nunca batia. Lili não se importava.

— Trouxe chocolate quente pra vocês. — ela disse, deixando duas canecas na escrivaninha — Ah, meu Deus! Não se mexam!

Ela saiu correndo do quarto, enquanto Levi lançava um olhar confuso para Lili.

— Vou saber o que ela foi fazer, minha mãe é doida.

Ela voltou, com uma câmera polaroid em mãos.

— Não se mexam! — ordenou mais uma vez

Se sentou na escrivaninha, e se inclinou para trás colocando a câmera perto do rosto para tirar a foto.