— Você está certa.
Na base do rebatedor, com o já famoso brilho carmesim, a imagem do Obake foi tomando forma. Seu corpo humanoide feito da mais pura penumbra surgiu sobre a pequena pedra branca pentagonal. Aquele manequim moldado pela escuridão não tinha olhos, mas nós podíamos sentir que ele nos observava com atenção.
— Você está certa, Assassina de Youkais. Foi como o Tengu disse, é uma estrategista natural, sempre analisando o terreno e o inimigo.
— Deixe os elogios para quando contar minha história no Inferno. — Yuna disse convicta, e embora fosse mais uma de suas falas arrogantes, tenho de admitir que soou mais legal do que poderia ser.
E o Obake riu.
— Você se tornou o temor de muitos youkais desde que matou Yuki-onna. Das duas vezes que nos enfrentamos, você mostrou grande habilidade em combate, mesmo sem usar seus poderes como se deve.
— Não é como se eu não tivesse tentado. Mas seu corpo parece ser revestido por chi. Não dá para congelar essa energia. Poderia revesti-lo com gelo, mas, se eu não ficasse lá para mantê-lo, não importa a grossura, acabaria sendo consumido por sua energia escura. Confesso que ainda não sei exatamente como você funciona. De qualquer forma, você é um youkai e eu sou a Assassina de Youkais.
— Suponho que tenha um sentimento negativo por mim, já que tomei a forma de seu querido pai.
A hanyou retirou sua luva do braço esquerdo, sem dar uma resposta ao Obake. Depois, ela retirou os tênis, com a elegância de uma bailarina. A garota esfregou de leve o par de pãezinhos na base do arremessador. Eram tão bonitinhos que nem dava para acreditar que um daqueles pés havia arrancando a cabeça de meu antigo diretor na Mythpool.
— Por que está se despindo? — Não pude deixar de perguntar.
— Seu pedófilo, não se anime, não. Parei por aqui. — Yuna respondeu sem me olhar, mantendo os olhos focados no youkai adiante. — Escuta, Obake, é certo que você ampliou seus poderes de metamorfose com o Kagami, mas, sinto que não está com ele. Onde ele está?
— É uma ótima pergunta, assassina. Atualmente, eu não sei. Meu objetivo com o escudo era de somente ampliar meus poderes. Contudo, minha missão era entregá-lo àquele que me deu a oportunidade de caminhar livre por esse mundo mais uma vez.
— Ora, ora, então a mais improvável de minhas teorias estava correta.
— Hmph, chegou mesmo a pensar tão longe?
— E por que não? Obakes são uma raça de youkais extinta há anos. Sim, poderia ser que um ou outro acabou sobrevivendo, e esse foi o meu primeiro pensamento quando descobri sua identidade. Mas, a ideia de que um Obake foi trazido de volta à vida por alguém, não deixou de atiçar meus pensamentos. E, já que estamos em um diálogo saudável, gostaria de saber para quem você entregou o escudo?
Vosso Humilde Narrador também gostaria. Eu estava me remoendo no banco de reservas.
— Para quem? — O youkai hesitou por um momento. — Acho que me expressei mal anteriormente. Não foi para uma única pessoa, e sim, para um grupo. Um grupo do outro lado do globo. Eles também trouxeram o Tengu de volta à vida.
— Que grupo é esse? — A hanyou fez a pergunta que não quer calar.
— A sigla é NIP. É só o que sei.
Àquela resposta, mais especificamente àquela sigla, um calafrio percorreu meu corpo, me fazendo estremecer. Naquele momento, eu não sabia exatamente a que tipo de grupo aquela sigla se referia. Nada me vinha em mente. Porém, NIP era algo que passara por meus ouvidos, e aquele calafrio devia ser um alerta a algo que eu não deveria ter esquecido.
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Yuna Nate: Blue
ParanormalA única pessoa que Yuna verdadeiramente amou em sua vida, foi seu pai, Nicolas Nate. Um soldado americano que, em uma missão na Terra do Sol Nascente, acabou se apaixonando por Yuki-onna, a Mulher da Neve. E o que esse já falecido homem tem a ver co...