E Vai Ao Mar

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"Um pirata só pode escolher entre dois destinos: A honra ou a morte."

Aquelas tinham sido as últimas palavras que ouvira de Eleu, o filho da puta!

–Deus, me perdoe...Deus...

–Mãe, ele acordou!

Uns segundos de balanceio sob a luz direta do sol que cegava e uma mulher entrou em seu campo de visão fazendo uma sombra tranquilizadora.

Era jovem e bastante bonita, mas cheirava horrivelmente aos odores do ofício quando sorriu exibindo os dentes que se destacaram branquíssimos contra o negror da sua pele.

–Você teve sorte. Minha rede te pegou.

–Eu disse pra minha mãe que nunca pegamos um peixe tão bonito!

–A moça riu por mais um instante. Depois ficou séria.

–Foi condenado à morte?

–O quê? Eu não!

–É um criminoso sim. Eu vi marcas de facas na sua barriga toda. –Falou outra vez a voz de criança e Bernardo desejou que quem quer que fosse pudesse se calar por uns momentos.

–Eu sou um padre. – tentou se colocar sentado, mas o mundo girou e água salgada voltou-lhe pela garganta.

–Deve ser o padre do templo mais animado do mundo. – Debochou a mulher vendo-o vomitar. – Tome – Estendeu uma garrafa de vidro– Beba e vá embora. Eu não quero você, padre ou o que seja, perto de mim e da minha filha. Ouviu bem? Você nos deve sua vida. Então seja grato e parta para sempre.

–O que? Agora? – Não achava que sobreviveria a outra investida contra o mar aberto. Três afogamentos em dois dias? Talvez se fosse uns anos mais jovem... – Olha, se me deixar em alguma vila...

Mas a mulher apontava um dedo marcado de anzol para algum ponto além do limite de madeira gasta de seu barco de pesca e recomendou em tom definitivo:

–Se nadar naquela direção vai chegar na Praia das Moças em uma hora ou menos, é perto do Lar do Império e você pode pedir ajuda. Bom, se você for um padre mesmo não vai ser problema. Mas se for um criminoso, então não me importo.

–Pula no mar! Pula no mar!

A mais jovem saltitava divertida, o vestido em tons de laranja e verde raspando o rosto de Bernardo contra o vento.

–É sério? Vai me obrigar a nadar mesmo? Escuta, eu quase morri, eu só preciso de...

–Escuta você! Eu não vou te levar pra vila. Te salvei com a rede e tirei a corda das suas mãos, agora pague sua dívida e deixe de ser problema meu.

–Mas... – Tinha que entendê-la, é claro. A quais riscos poderia expor o seu povoado levando um desconhecido para junto deles? Um homem que encontrara amarrado no mar, lançado para morrer... Podia bem ser um criminoso condenado.

 –Se não saltar agora eu derrubo você no mar e da próxima vez te pesco com um arpão!

SollisWhere stories live. Discover now