3. Z.I.Z.

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Passava das 8 horas quando os radares acusaram a aproximação das tropas do norte. Os batalhões edomitas se puseram em formação para proteger o estreito como em tantas outras ocasiões. Mas dessa vez ao invés do ronco forte e compassado dos veículos de guerra em marcha lenta, o que se ouviu foi um único barulho contínuo de dois pequenos motores em uníssono, ecoando no valado.

Qos subiu em uma pedra, alcançou o binóculo na mochila e apontou para baixo. Não havia nada. Apesar disso o ruído aumentava de intensidade a cada segundo. Um pouco mais acima, flutuando a poucos metros do despenhadeiro, o sargento identificou uma pequena nave de carga. Um bimotor. O avião se aproximava rapidamente acompanhando o leito do vale.

O risco de que um sopro magnético acontecesse a qualquer momento, provocando uma pane, quase sempre foi suficiente para inibir o uso de transporte aéreo tripulado. A sucata usada pelos invasores poderia despencar do céu sem aviso. O que fazia de seu piloto um provável suicida.

– Atenção tropa! Ataque aéreo! Abriguem-se!

O comando foi repetido pelos demais oficiais, ainda confusos pela manobra inédita dos invasores. Os soldados correram para as cavernas na encosta do vale. Alguns poucos se encostaram às paredes, a fim de observar melhor como se daria a tentativa do inimigo.

O avião passou sobre suas cabeças sem fazer sequer um disparo, deixando os homens consternados.

– Selah! – exclamou Qaush enquanto corria na direção do aeroplano.

Não foi necessário dar ordem de comando. Os soldados saíram rapidamente dos abrigos e descarregaram suas armas contra o avião sem contudo infringir dano suficiente para impedir sua progressão em direção à cidade desguarnecida. Os homens de Edom então correram desesperadamente para a casa.

Ainda ao longe observaram aterrorizados a nave despejar uma única bomba. O dispositivo permaneceu poucos segundos em queda livre até explodir no ar espalhando dezenas de rastros, semelhantes a fogos de artifício. A carga química conhecida como crisântemo branco inundou a cidadela com fogo vivo.

Enquanto os edomitas corriam em direção a suas famílias, os soldados inimigos se aproximaram. Às margens da cidade, antes que pudessem socorrer mulheres, crianças e idosos, a tropa de Edom foi atacada covardemente pelas costas até ser consumida, junto com tudo o que possuíam.

***

Na casa de Qos, o ataque aéreo se manifestou como uma tempestade de chamas, atravessando a lona da tenda e consumindo o lugar. Mãe e filho foram cobertos pelo fogo, que corroía a carne enquanto gritavam de dor e desespero. A mulher reuniu forças para carregar a criança e o fuzil até o lado de fora de Selah, deixando para trás o cenário infernal.

Enquanto os corpos e as posses da cidade eram desintegrados pela investida covarde, os dois únicos sobreviventes fugiam em direção à ruína próximo dali. A pele queimada ardia ainda mais pela ação do sol escaldante. Nem mesmo o frescor da viração do dia foi capaz de aliviar a sensação causada pela bomba química.

Por fim a mulher arrastou-se para dentro da ruína do que parecia ter sido uma pequena capela, isolada aos pés de uma elevação. Ali sentou-se no chão com dificuldade, apoiou a arma na parede ao lado, e embalou o bebê enquanto ofereceu-lhe o peito. A criança aquietou-se. Os olhos se fecharam exaustos. A noite encheu o lugar.

Flores para os MortosWhere stories live. Discover now