Mochila

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6 MESES ANTES DO PRIMEIRO CADÁVER

Catarina estava caminhando até o aeroporto, a primeira viagem sempre faz o coração acelerar mais rápido, escolheu Boston University para cursar Jornalismo e quem sabe mudar o mundo. Em passos longos e graciosos, não demorou para chegar ao balcão de embarque, realizou o check-in, entregou a mala grande e seguiu para o avião. Localizou sua poltrona e sentou ainda sentindo seu coração saltar no peito, ouviu as orientações da comissária de bordo e fechou os olhos respirando fundo. 6 horas e 32 minutos de voo, é a distância da capital de Dakota do Sul para o coração de Boston.

Após as eternas horas no avião, ela finalmente chegou, teve que conter toda a empolgação dentro do corpo de 1,72 de altura. Correu até o táxi mais próximo, entrou e viajou até o campus, desceu desajeitada com as malas e foi até a secretária.

- Bom dia, na verdade, boa tarde eu acho. Eu sou a Catarina Johnsson, nova aluna.

- Boa tarde senhorita, seja bem-vinda! Sou a Sarah Parker, vou pegar sua lista, sente-se.

Catarina sentou-se e analisou rapidamente a mulher que parecia tão simpática. Ao voltar, a mulher estava com uma pasta amarela, sentou-se em frente Catarina e sorriu.

- Muito bem senhorita Johnsson, conseguiu uma bolsa excelente. Parabéns! Essa pasta que vou entregar, contém todas as informações que você precisa, como por exemplo, vida no campus, alimentação, deveres dentre outras coisas.

- Parece completo.

- Costuma ser, caso não seja, basta me procurar.

Catarina pega a pasta sorrindo, agradece a mulher e sai da sala pronta para a nova aventura. Caminha pelo campus tranquilamente vendo poucos alunos, afinal, quem se muda durante as férias não é mesmo? Encontra com facilidade seu quarto, pelo visto vai viver sozinha, só encontrou uma cama, uma cômoda e uma escrivaninha. Ajeitou rapidamente suas coisas e sentou na cama olhando o papel de parede desbotado e começou a organizar seus pensamentos:

Lista de afazeres de hoje, comprar um papel de parede; conhecer os estabelecimentos perto; comprar um vinho e taça; descansar porque estou morta! Catarina, você é ótima com listas, espero que seja útil para sobreviver em Boston.

Após rir de seus pensamentos, levantou, pegou o primeiro vestido na mala, o seu favorito, o vestido vermelho com corte até o joelho, decote V nos seios e costa, o cabelo cacheado ganhou um rabo de cavalo, os lábios foram preenchidos por um gloss labial. Saiu com sua mochila, repetindo a lista em sua cabeça, entrou na primeira loja em busca de um novo papel de parede, olhou as opções, imaginou cada um e escolheu por fim um papel de parede azul com pequenos girassóis. Passou a tarde toda na loja, quando saiu a noite já estava fria, mas não passava das 19h25, apressou-se até o bar mais próximo para enfim comprar seu vinho. Entrou no bar e topou com poucas pessoas que não fizeram a questão de olhar ela, todos concentrados no jogo de basquete do Boston Celtics, ela sentou-se, e admirou a vibração de cada cesta ou vaias por não ter cestas. Pediu o vinho e decidiu beber no bar junto com a torcida. Talvez Catarina tenha bebido demais, mas quando se deu por conta estava em meio a multidão torcendo para o time que pouco conhecia e nem o jogo em si, afinal já não era mais basquete e sim futebol americano.

Puta que pariu! Que horas são?

Catarina havia perdido noção do tempo, a torcida e o vinho tomaram todo seu tempo. Como se estivesse lido seu pensamento, alguém no bar com um sotaque pesado de Boston que já passava da 0h00. Catarina pegou sua mochila e saiu do bar, zonza devido ao vinho e cambaleou pela rua traçando a rota de volta, encostou na parede do beco e respirou fundo sentindo seu coração acelerado. Contou até 10, na verdade até 7, parou ao perceber uma silhueta se aproximar dela. O corpo esguio segurou ela pelo braço e anunciou o assalto, ela só conseguiu ver o par de olhos verdes brilhando, entre os soluços pediu para não levar a mochila. Sentiu uma dor insuportável no estomago, recebeu um soco no local, ouviu o barulho da bolsa sendo aberta, tudo sendo jogado no chão e pela primeira vez começou a chorar desesperada. Tentou se mover e recebeu outro soco no estomago, foi o suficiente para vomitar todo o vinho que havia bebido em seu vestido, a sombra que agora havia tomado forma, recolheu os pertences colocando na mochila e saiu correndo em meio a escuridão. Catarina encostou na parede olhando todo o vômito e xingou todos os deuses, limpou suas lágrimas e caminhou rapidamente assustada para o campus. Entrou em seu quarto, deitou no chão e apagou.

|| I'm in love with a criminal || h.sWhere stories live. Discover now