O Templo dos Gatos

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Sinopse do conto: Um mediador espiritual é convocado a um templo para expurgar os maus espíritos. Mas ele acaba descobrindo que o que assusta os visitantes é de carne e osso.


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Já fazia um tempo que Thomas não era chamado para fazer um intermédio e expulsar um espírito.

O trabalho de mediador espiritual era o único que ele fazia com confiança. Mas ultimamente suas experiências não tinham passado de frustrações: Thomas muitas vezes recebia falsos convites de locais assombrados apenas para entretenimento de seus contratantes. Apesar de essas curiosidades lhe renderem algum dinheiro, ele sentia que sua habilidade era cada vez mais inútil.

A última carta recebida, com uma solicitação de um templo numa cidade distante, havia sido rasgada. Foi somente após um sonho, onde uma jovem revestida de luzes lhe falava com voz etérea, é que o mediador espiritual recuperou a carta escrita à mão que estava no lixo. Pousou os olhos mais atentamente sobre a caligrafia: era toda a nanquim. Deixou-a sobre a mesa prometendo a si mesmo que pensaria melhor no assunto.

Naquele mesmo dia, enquanto ia ao mercado, um panfleto havia voado até suas mãos. Era um anúncio do mesmo templo que havia lhe solicitado o serviço. Quando seus olhos percorreram o papel, a voz da moça com quem sonhara ressoou em sua mente:

"Encontrará o que procura"

A dama envolta em luz não fora mais específica do que essas simples quatro palavras. Para garantir que não as esqueceria, Thomas anotou com um lápis na lateral do panfleto. Resolveu aceitar o pedido como última chance para seu ofício de mediação.

Como resultado, lá estava ele naquela fria manhã de outono.

— O "demônio do templo", eles disseram na carta... - murmurou enquanto caminhava por uma longa trilha calçada por pedras, não muito íngreme, em meio a árvores centenárias. Se ele olhasse para cima ou para baixo não poderia ver o início ou o final do percurso.

Enquanto andava Thomas reparou, à sua esquerda e direita, que as árvores que ladeavam o caminho de pedras eram adornadas por chocalhos, sinos e fitas de cetim bordado. Tudo isso como proteção aos visitantes até o templo espiritual que se encontrava embrenhado no meio da reserva florestal.

"Parece que não está adiantando muito", pensou. De seu bolso interno, retirou pela enésima vez o panfleto e o leu. Já quase havia decorado suas palavras:

"O templo espiritual Sopro de Aurora traz aos visitantes uma limpeza de mente e alma, independente de suas crenças ou religiões, e brinda a todos com a presença mística dos vários felinos que aqui residem. Por este motivo, o Sopro de Aurora é também conhecido como o 'Templo dos Gatos'.

Venha ter momentos únicos e sublimadores em meio à natureza e aos nossos protetores espirituais dos quatro ventos.

Aproveite para adotar um dos felinos nascidos aqui, para levar consigo a proteção espiritual do templo Sopro de Aurora"

Sem pressa para chegar ao seu destino, Thomas parou e sentiu o ar à sua volta. O vento despenteou alguns dos fios castanhos de seu cabelo, antes tão alinhados, e fez com que ele fechasse alguns botões do casaco. Coçou a barba curta sob o queixo e retirou do bolso um pêndulo de cristal. Os sinos e chocalhos presos ao tronco das grandes árvores tilintavam com a brisa.

— Silêncio - ordenou.

Segundos depois, tudo se calou. Nenhum vento se manifestava num raio de vários metros em volta de Thomas. Só então ele começou a fazer sua medição: segurou o cristal translúcido nas mãos, para deixá-lo imóvel, e esticou a corrente de prata presa a ele. Ao soltar o cristal, ficou atento a seus movimentos.

Gatos Pervertidos - Contos YAOIWhere stories live. Discover now