Capítulo 29

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Celina

A cara de choque da Rafaela após contar minha história, sem os detalhes muito sórdidos, é impagável. Depois do apoio que ela me deu hoje, num momento tão delicado sem ao menos me conhecer, fez com que eu confiasse nela. Não posso ser julgada depois de tantos anos sofrendo calada por dividir minha história com alguém, e além de tudo ela não está envolvida nisso, então as chances de sofrer consequências por toda essa escória que é minha vida, é mínima. Sinto-me mais leve e tranquila agora, é como se tirasse o peso do mundo das minhas costas, confesso que não foi fácil, mas agora eu sei que falar ajuda muito.

– Uau. – é a primeira coisa que ela diz colocando a mão na boca – então quer dizer era órfã, foi adotada pelo seu tio que abusou de você, fugiu, virou acompanhante, conheceu o amor da sua vida, engravidou, seu tio voltou e você​ fugiu de novo só que agora do amor da sua vida?

Dou um sorriso sem graça.

– É, basicamente é isso. – digo, procurando alguma coisa que diz que ela está me julgando, mas não encontro, tudo o que vejo é compreensão.

– Garota, sua vida dá um livro. – ela ri, de nervoso eu diria – Bom, você não acha que deveria denunciar esse escroto nojento do seu tio?

Nego veementemente com a cabeça.

– Eu já pensei nisso. Mas faz muitos anos e não tenho prova nenhuma contra ele. Quem ia acreditar.

Vejo-a batucando na mesa onde estamos sentadas tomando suco com um lanche que ela fez e praticamente me obrigou a comer, alegando que agora alimento dois. Claramente está pensando em alguma coisa.

– Tá, então você pode ficar aqui em casa por enquanto até que a gente descubra um jeito de denunciar ele.

– Eu agradeço. Mas não posso. Se ele descobrir que estou aqui, vai fazer alguma coisa pra te prejudicar e sinceramente, eu não quero envolver mais ninguém nessa história.

Ela acaba concordando, no fundo sabe que não é uma boa ideia. Rafaela me ajuda a marcar um médico para daqui dois dias para poder saber se está tudo bem com o meu bebê. Trocamos nossos números de telefone, quando ela me faz prometer que ligarei se precisar de qualquer coisa, e eu vou embora. Faço o caminho todo até em casa agradecendo a Deus pelo presente no pior momento da minha vida. Nunca pensei que um dia estaria preparada para ser mãe, só que, saber que o meu corpo agora trabalha em prol de gerar uma criança, criança essa que é fruto do meu amor com Antônio, é simplesmente encantador.

A minha barriga ainda não mostra sinais nenhum que há uma vida extra aqui, porém eu me pego chorando com uma mão acariciando o lugar, dessa vez de felicidade, porquê agora há esperança de que eu possa ser feliz, por essa criança, com ela. E eu farei de tudo por isso e acima de qualquer coisa protegerei ela de todo o mal.

Quando chego no corredor do meu apartamento uma angústia me aperta e eu sei que ele estará do outro lado da porta, me esperando. Ele não deixaria quieto minha saída de casa tão repentina. Abro a porta, que para confirmar minhas dúvidas, estava destrancada e vejo-o no mesmo instante, meu estômago se contorcendo em resposta. Está sentado no sofá com uma perna dobrada em cima da outra, a televisão está ligada e ele parece atento ao que passa na tela, em sua mão uma garrafa de uísque barato está pela metade. Engulo em seco e decido ir direto para o quarto, caso ele não perceba minha presença eu possa ficar em paz.

Ledo engano.

Quando estou fechando a porta do quarto ele põe o pé na frente, impedindo que eu o faça. Meu coração parece uma escola de samba e instantaneamente começo a suar, o medo se alojando em cada célula do meu corpo. Sem fazer muita força ele abre a porta e eu, em toda minha insignificância, ando para trás até bater na beira da cama, caindo sentada na própria.

– Onde você estava menininha? – ele pergunta andando lentamente em minha direção, como se eu fosse sua presa.

– Fui ao mercado e a casa de ração. – digo com a voz embargada.

Ele olha para as sacolas que deixei ao lado da porta e depois olha para mim de novo.

– Fiquei tão triste quando cheguei aqui e não te vi – ele toma mais um gole da sua bebida e faz uma cara lamentável de quem está triste – estava tão excitado, louco para meter nessa sua bocetinha. Porque eu te poupei bastante até agora, mas tá na hora de matar a saudade.

Lágrimas vêem a borda, mas eu respiro fundo para controla-las e para controlar o enjoo que eu sinto agora. Não pode ser possível. Eu não posso estar indo viver o inferno novamente. Luto para que ele não perceba o quanto me dá medo, pois eu sei que isso o excita ainda mais. Ele para a dois passos a minha frente e coloca a garrafa na mesinha ao lado da cama e em seguida tira a arma do cós da calça, colocando-a junto com a garrafa. O esforço que faço para parecer controlada é sobrehumano.

– Agora tira essa blusa, tá muito calor para estar com isso.

Eu tiro, porquê agora seria pior contrária-lo. Penso no meu bebê. Eu tenho que ser fortes por ele. Não vou deixar que isso aconteça.

Os minutos seguintes é de completa tortura, sou obrigada a vê-lo se masturbando na minha frente e a ouvi-lo dizer o quanto eu o excitava quando mais nova. Começo a pensar num plano quando ele vem para perto de mim e rápido demais me coloca deitada na cama, minha cabeça trabalha rápido demais, porém nada que eu penso me tirará dessa situação fácil e eu preciso proteger o meu bebê.

Ele tira os meus sapatos e a minha calça com uma violência assustadora, parece desesperado para ter o que quer. Só percebo que estou chorando quando ele diz:

– Por quê está chorando menininha? Pensei que gostasse de me ter entalado em você.

– Por favor, não! – peço me debatendo. O que falho miseravelmente já que ele é bem maior e forte que eu.

– Oh, por quê não? Olha o quanto você está excitada.– senti-lo passar a mão em minha intimidade por cima da minha calcinha me faz paralisar de medo, lembrando de tudo que já me fez quando eu era mais nova. A dor que eu sempre sentia quando, sem escrúpulos, me penetrava, machucando-me até a alma.

A minha imobilidade faz com que ele dê um sorriso nojento, segurando minhas mãos acima da minha cabeça e com a outra rasga a minha calcinha. Quando eu percebo que ele está prestes a me penetrar, lembro-me de algo que funcionou uma vez.

Faço xixi. E tudo acontece rápido demais. Ele ruge como um animal e sai de cima de mim, secando sua mão e sua intimidade em minha calça que estava jogada no chão.

– Sua puta nojenta. – ele grita – minha vontade é matar você.

Eu me encolho em posição fetal e tento me cobrir com a colcha da cama, sem me importar que esteja molhada.

– Você vai pagar por isso. – ele fala baixo, queimando de ódio.

No momento seguinte ele está em cima de mim de novo, só que dessa vez eu só tenho tempo de proteger minha barriga, antes de sentir seus socos em minhas costelas e em meu rosto.

Depois disso tudo que eu lembro é do escuro.

Darling (Completo)Where stories live. Discover now