[Not So Cliche] -Cap2

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Já eram cinco e meia da tarde, Daphne chegara em casa sã e salva, sua mãe era louca o suficiente para pedir a ela que ligasse assim que pisasse no gramado. Feito isso, entrou pela porta, pegou um saco de biscoitos e um copo de leite na cozinha e subiu para seu quarto, nele esperando o seu companheiro de estudos chegar enquanto se trocava e comia.

- Ei, garota! -Ouvindo uma voz abriu os olhos de forma desajeitada. Estava escuro e não enxergava muito bem, porém se sentiu observada.

- Quem?

- Eu, Keith!

- Que horas são?

- Nove horas agora.

- O quê? Que merda.

- Olha, ela xinga. Imagine minha surpresa, senhorita pontual. Saí mais cedo do treino para poder chegar a tempo aqui e me deparei com você dormindo na janela. É perigoso, sabia?

- Chega de bancar o bom samaritano, Heller. Minha mãe deixou você entrar?

- Entrei pelos fundos, ou seja, não.

- Pode ligar as luzes por favor?

- Oh, é mesmo!

O de baixa estatura esgueirou-se pelo cômodo até chegar no interruptor, ligando a luz, deram algumas piscadas para poderem se acostumar com a claridade repentina. Olhando ao redor surpreendeu-se com a decoração do quarto alheio.

- Confesso que não é nada do que eu imaginava.

- Por acaso imaginava teias de aranhas pelos cantos ou algo assim?

A jovem que se encontrava em sua penteadeira amarrando as suas longas e cacheadas madeixas azuis, falava em um tom nem um pouco surpreso, como se já tivesse previsto a reação do ruivo.

- Não exatamente, tenho amigos de estilo parecido ao seu. Se bem que dessa forma que você falou, eu pareço ser o babaca que tem o quarto cheio de troféus em prateleiras e camisas de Baseball na parede.

- E não tem?

- Eu devia ter?

Daphne sentou-se à cama de casal cujo estilo era bem antigo e logo após teve seu ato copiado por Keith, que estava claramente entediado. Aproveitou a oportunidade e olhou mais um pouco da decoração do quarto da garota, paredes em um azul acinzentado, estante de madeira negra em estilo vitoriano recheada de livros históricos, porta retratos de mesma cor onde emolduravam fotos da jovem e sua família. Ao lado da cama haviam abajures em formato de velas. Em sua mente tudo ali seria preto e obscuro, para ele, góticos eram assim. Sabia que a menina era muito estudiosa e amava enfiar a cara nos livros, sabia de seu estilo nada comum para uma garota como essa, e foi isso que o fez achá-la interessante.

- Então, em que matéria seu estado está crítico?

- Inglês, literatura, espanhol...

- Já entendi, linguagens em geral. O que acha de começar por literatura? Temos trabalho sobre amanhã.

- Estou por você!

- Tem como você me deixar mais motivada?

- Até tinha esquecido desse seu lado irônico.

Era meia noite e ainda estavam a estudar, ouviram alguém bater na porta e sentiram o desespero pairar no ar.

- Daph, cheguei!

- Heller, se esconde! -Sussurrou a garota desesperada empurrando o garoto de cima de sua cama.

- Mas por quê?

- O que faria se você fosse uma mãe entrando no quarto da sua filha e de repente vê-se um garoto estranho-não-identificado lá dentro?!

- Não queira saber.

- Então anda logo, idiota! Já vai mãe, estou me trocando.

O jovem então escondeu-se embaixo da cama, os cobertores eram grandes a ponto de tocarem o chão, não ia ser fácil alguém enxerga-lo lá. Daphne abriu a porta e deu de cara com sua mãe, essa tinha um sorriso no rosto, uma coisa rara pois trabalhava muito e vivia cansada.

- Daph, querida -Abraçou-a com força.

- O que foi mãe? Parece feliz.

- Consegui tirar uma folga de três dias!

- Ah, isso é muito bom! Vai usá-las para descansar?

- Está louca menina? Quero aproveitar esses dias com você. Ou não sente falta da sua mãe?

Ser professora de universitários não era fácil, quase não tinha tempo para sua filha e isso a entristecia.

- Sinto e muita, te amo mãe.

- Também te amo Daphne, estava estudando de novo? -Soltaram-se do abraço e voltaram a se falar normalmente.

- Sim, vou ser professora de um colega por alguns dias.

- Um dia traga-o aqui para mim conhecê-lo. Agora vou jantar por quê estou morrendo de fome -Revirou os olhos e desceu as escadas. Daphne fechou a porta e respirou aliviada, o que ela diria a sua mãe se a mesma visse um garoto estranho no seu quarto?

- Pode sair, Heller.

- Sua mãe parece gentil e minha família me espera para jantar, sinto que não tenha tempo de me apresentar a ela, vou indo.

- Idiota. Vai sair por onde?

- Por onde entrei. Janela. Ou espera que eu durma aqui com você, querida?!

- Não ouse! Mas como você...

- Assim!

Sem pestanejar o garoto subiu na mesma e pulou para o térreo, apesar de não ter aterrissado direito e talvez ter machucado o tornozelo, ficou vivo.

- Cuidado!

- Não se preocupe comigo, não doeu.

- Sei, não é o que parece.

- Tchau Daphne, até amanhã. Deixei meu número em um papelzinho, qualquer coisa me liga.

- Por que eu iria?!

- Vai saber

E mancando o baixinho foi embora, Daphne tentou imaginar como alguém podia ser tão idiota a ponto de pular o segundo andar de uma casa. Em meio aos livros, encontrou o papel deixado pelo outro, anotou o número em seu celular e pensou consigo mesma:

-"Isso só vai ser necessário até o fim do reforço."

[Not So Cliche]Where stories live. Discover now