Capítulo 15

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Aquilo era sacanagem, poxa... Mal haviam acabado de lidar com a Hidra, um pelotão imenso de Anjos surgira. Quando um caía, aparecia outro para substituí-lo; e quando este era derrotado também, existia mais um, infinitamente assim.

Porém ainda lutava com garra, força e vontade, derrubando até toda a população mundial se isso fosse necessário. Mordia um, jogava outro longe com a cauda, atropelava um Angelical aqui e arranhava outro Anjo. Só não se manteria quieto. Sabia também que os outros lutavam com a mesma persistência.

Mordeu mais um dos soldados alados, e seu sangue jorrou, caindo em parte dentro da boca de Drake. Durante essas batalhas recentes, isso estava acontecendo muito. Ele tentava não pensar na possibilidade improvável de se acostumar com aquilo. Abria a boca para deixar sua vítima morta cair num baque surdo lá embaixo quando ouviu um grito. Era a voz de Marina. O Draconiano virou seu pescoço para trás e fitou ali abaixo. Com a visão sobrenatural de seus olhos amarelados, viu o que acontecia: Um Anjo qualquer injetava um líquido estranho e transparente na base do pescoço de Marina. Quem ele pensava que era para fazer aquilo! Sentiu, ao mesmo tempo, um misto de ira e pavor.

"Marina!", gritou, sem ter a noção de que sua voz fraquejara.

A humana se virou, não a tempo de se salvar. O Anjo retirava a agulha de sua pele quando foi retaliado com o punhal. Ele caiu, abraçando o corte no tórax e agonizando. As escamas de Drake, apesar de não se igualarem a da espécie original dos Dragões, eram muito espessas; de modo que ele mesmo não podia ouvir seu coração enorme em disparate.

A raiva sumiu, suprida a vingança nas mãos da própria Marina — agora aquele maldito estava inerte no chão. Porém o medo continuou... O que seria aquilo? Seria mortal? Marina ficaria bem?

Uma dor lancinante invadiu o ombro direito do ser alado. Ele rugiu e se virou imediatamente para o inimigo. Um Angelical baixinho e provavelmente de baixo escalão acabara de fincar uma espada seu no ombro. Com a pata esquerda, Drake jogou-o ao chão ao mesmo tempo que o fazia sangrar com o corte provocado por suas garras. O Draconiano trincou os afiados dentes com a dor. Por fim, virou o longo pescoço para trás e arrancou a arma. Estava ensanguentada, e por baixo do líquido escarlate havia um metal claro. Diamoney, supôs Drake, um metal que só era sobrepujado pelo Aço celestial. Soltou a espada, que se fincou com a lâmina na terra, depois de passar próximo a um Anjo que quase não teve tempo de desviar.

Ainda preocupado com Marina, olhou para ela. A tempo de vê-la desabar sobre a grama, como uma pluma. Drake teve certeza de que o coração errou uma batida. Sem pensar duas vezes, desceu e se destransformou antes de tocar o chão. Rolou para diminuir o impacto e correu até Marina, consciente do vento lhe roçando o peito nu.

— Marina! — gritou, a voz embargada.

Sua visão estava embaçada devido às lágrimas se formando em seus olhos. Seu ombro humano estava imerso em sangue, que ainda corria. Estava se aproximando da garota quando algo o impediu. Sentiu suas costelas doendo, e foi arremessado longe pelo chute de um Anjo moreno. Isso foi o estopim para que Drake começasse a chorar. Chorar por dor, frustração e medo.

Viu, ainda caído no chão, o Anjo colocando Marina no ombro, como se fosse um mero saco de farinha, e alçando voo. Também presenciou a captura de Ferdinando. O Abaddon foi imobilizado por três soldados inimigos.

Ele não podia continuar ali. Sabia que aquilo seria considerado covardia. Talvez fosse, ele pensou. Mas não conseguiria continuar ali.

Por sorte, todos estavam distraídos demais com Cérberus Rakim. O Cão Infernal estava tendo um surto de raiva com a captura do dono, e era o foco principal do exército do Hemisfério Air. Por sinal estava bem menor. Talvez se ficasse e ajudasse Ferdinando, conseguissem vencer; não estava, porém, em condições de lutar. Levantou-se num impulso e desatou a correr, mal provocando som com seus passos. Saltou a cerca com relativa facilidade e continuou, indo em direção à floresta. Nem sabia em que direção estava seguindo, só queria um tempo, um espaço...

Incógnita X (completo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora