Capítulo 13

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Marina se sentia flutuando numa escuridão sem fim. Tudo ao seu redor estava um breu, e mal conseguia tocar o pelo de Cérberus Rakim. As lágrimas rolavam por sua bochecha, e aquela tristeza só piorava ainda mais a situação. Não podia aceitar aquilo... Não podia. "Você me lembra ele", ressoava o murmúrio de Dalas em sua mente.

Mas Dalas estava morta, e o pior era a culpa. Uma sensação inimaginável de impotência e responsabilidade. Era culpa de Marina. Era a ela quem eles queriam, Drake e Dalas, Carmelle, Nayra, Ferdinando, Estrela, Geórgia, Cérberus, Stephany... Nenhum deles tinha culpa de nada.

O medo a assolou. Quantos mais teriam de morrer por sua causa? Ela seria merecedora daquilo? Por que não simplesmente se entregar aos Fênix, Anjos, Lupinos, o que for?

Aquilo tudo acontecendo... não era sua culpa, por mais que parecesse. Marina não se dava conta do tamanho de tal situação, caminhando para um fim indeterminado. No Hemisfério Earth, algumas espécies sofriam em Dunesy, pela falta de preocupação do governo. Luck recrutava seus melhores soldados. O Oráculo interagia com seus contatos. As crianças humanas começavam a interagir e uma ideia já se esboçava. No Hemisfério Fire, uma certa Gárgula entrava em contato com uma ajuda externa. Duas crianças em especial tentavam viver em condições ruins. Os Fênix aumentavam a patrulha e estenderam-na para o dia. Em Flameville os Anões começavam a se articular numa greve. Uma crise política estava se agravando em Maremote. No Hemisfério Air, Flyville era atacada por uma Hidra. As cadeias montanhosas se tornavam movimentadas. Um garotinho nômade jurava ter visto uma serpente alada à noite. Antônio não parava mais em seu próprio continente. A maioria dos soldados saíra em um trabalho. No Hemisfério Ice, a grande Feira Mundial em Freezerlake estava movimentada e os boatos percorriam. As tribos familiares estavam numa guerra fria. Mountain F há tempos não via Yuri. Alguns movimentos de caráter revoltoso surgiam por todo o continente. Os Zumbis estavam cada vez mais agitados. Na redoma Mermaid Baía, as sereias e tritões já se articulavam. O Kraken era contido e levado de volta ao Oceano Inexplorado. Os Ugallu seguiam suas vidas subterrâneas como sempre. E um grande e antigo ser marinho já se preparava para os acontecimentos futuros.

E a escuridão continuou a envolvendo por segundos que mais pareceram anos. Estava às cegas, literal e figurativamente. Enquanto a gravidade se recusava a trazê-la ao chão. Até que, num baque, Marina sentiu de novo o pelo e o corpo de Cérberus. A luz do sol lhe agrediu os olhos através da copa das árvores. O Cão Infernal estava ferido. Maldição!

Os três saíram da opaca sombra de uma das árvores. Cérberus Rakim estava dolorido demais para pousar suavemente sobre o chão; na verdade, seu ferimento era de tal ponto que ele nem podia pousar, qual fosse a forma. Quando triscou o chão, justamente com a pata machucada, ganiu em alto som e se desequilibrou. Caiu de lado na grama seca e continuou, meio rolando meio se arrastando, até bater numa grossa árvore. Mas antes disso, as crianças saíram voando de seu lombo, cada uma para um lado.

Marina voou e bateu contra o chão com o braço e a perna. Uma dor invadiu seu joelho e seu cotovelo. Ela ficou ali, caída, com a bochecha cravada no chão. Chorava um pouco no início, mas aos poucos... aos poucos aquilo se transformou numa tempestade. Soluçava e soluçava sem parar. Gritava e gemia. A terra abaixo dela se molhava, e uma pequena poça se formava.

O quente sol lá em cima parecia esfriar, e o céu azul começou a ser tampado por pesadas e cinzentas nuvens de chuva. Marina sentia algo viçoso e quente escorrer por seu joelho, e no cotovelo também. Ali perto, Cérberus gania baixinho.

— Marina. — chamou Drake em voz baixa.

Mas a garota fingiu não ouvir e continuou chorando.

Incógnita X (completo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora