Capítulo 1.

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Arabela F.

"Estava saindo da minha cabana e minha loba falou comigo pedindo para que fôssemos ver a beleza noturna do Vale da Lua. Acatei seu desejo e fomos para a colina, lá sentei e fiquei observando o brilho das luzes na aldeia. Ao passo que sentia o vento bater nos meus cabelos e ao mesmo tempo no meu interior sentia Kia comemorar o passeio. Seria mais uma noite calma na minha vida, mas o destino não decidiu dessa forma. O uivo do vento se cerrou com um barulho de madeira quebrando na floresta, me virei e olhei e nada vi. Apesar de nada ver, Kia me pediu para ficar atenta pois estava com medo de algo, eu obedeci, pois, sentia a sensação de ser observada.

Comecei a caminhar retornando para minha cabana, me sentindo cada vez mais observada, a sensação de estar acompanhada aumentava minha aflição e a cada metro ouvia cada vez mais barulhos pela floresta. Ao invés de medo, a aflição me gerou irritação, porque de vez em quando alguns lobos vinham me perturbar, caçoar de minha aparência. Emana por aquela sensação resolvi parar, Kia na mesma hora me pediu para seguir, mas eu não obedeci e dei um grito:

— Parem de se esconder, eu já sei que tem alguém aí, apareça.

E no meio da mata escura, dois olhos verdes surgem do meio da relva fechada e eu fico estática vendo aquele lobo enorme parado me olhando. Algo forte se contorceu em meu peito, quem era aquele lobo? Antes que eu pudesse falar com ele, um mestiço apareceu e me atacou, sem chance de reação alguma, apenas ecoei um grito de dor enquanto ouvi o mestiço dizer:

— A garota da lua, a garota da profecia, agora jás morta, todo poder é meu! – Uma risada perversa ecoou."

Em um pulo levantei da minha cama, assustada com o coração quase saindo pela boca com aquele sonho maluco que havia acabado de ter. O dia estava começando, o sol pairava no limite da colina trazendo o amanhecer e eu já sabendo que não dormiria mais, decidi por levantar e antes que eu pensasse um grunhido na minha barriga me fez decidir colher o meu café da manhã. Crescida na floresta, sem dinheiro e trabalho, me alimento de frutas, animais e água que pego e caço na floresta mesmo. Peguei um cesto de palha que fiz e fui caminhar na expectativa, sucedida, de colher alimento. No caminho vi um campo de lírios que havia recém desabrochado, o cheiro e a beleza me fizeram querer tomar meu café da manhã naquele lugar.

Após terminar, deitei-me junto às flores e me permiti observar o céu e então ouvi vozes masculinas de uma conversa vinda da cachoeira que ficava próxima dali. Eu fiquei tão curiosa que me permiti observar, foi então que vi e conheci o rosto do famoso beta do supremo conversando com um outro lobo, sua reputação era de ser o famoso solucionador de problemas da aldeia. Com muito cuidado para não ser notada e antes que ele pudesse me achar fugi da sua presença. Embora eu ouvia rumores de sua bondade e prestatividade, meus traumas me impediam de ser notada, era muito medo.  Aparentemente sem ser seguida, pude curtir mais um dia de passeios e banhos nas cachoeiras da aldeia.

Ao entardecer, decidi voltar para minha casa, no caminho para ela, vi fumaça negra subindo ao céu e em um rompante corri para lá, mas quando cheguei na minha cabana ela estava destruída, um fogaréu consumia as madeiras e palhas velhas. E agora? Vários pensamentos vieram, eu não tinha onde dormir, não tinha roupas para me aquecer do frio que viria a noite. Naquele momento despedacei em lágrimas, porque tudo na minha vida eu tenho que perder? Onde eu vou dormir? Como vou viver agora? Tudo o que me lembrava minha família era aquela cabana, o lugar velho onde fui abandonada. Kia que choramingava por mim, me pediu para ser forte e corajosa pois eu teria que enfrentar a aldeia. 

Eu não tinha saída a não ser ir para lá atrás de dinheiro para comprar cobertor e roupas, achar lugar para dormir e reconstruir minha vida, isso porque as lixeiras não eram mais opção, uma vez que eles escondiam as coisas para que eu não pegasse os restos. Minha cabana ficava a mais de 20 minutos de caminhada da aldeia e a cada passo era uma lagrima de dor e medo. Medo porque ninguém na aldeia, falava comigo, eu era estranha, considerada diferente e eu não entendia o porquê, não havia sentido para os xingamentos, olhares tortos, humilhações.

Eu sou do Supremo.Where stories live. Discover now