Eu devia ter percebido que tudo ia errado, quando no sofá eu deitei e a me levantar recusei-me. Por mais que fosse preciso, por mais que eu, em disfarce, quisesse. Aconteceu muitas vezes – era um ciclo. E eu posso jurar que não era preguiça.
A preguiça não te faz pensar no sentido da... dessa coisa breve e fendida.
Devia ter percebido, também, quando larguei o heavy metal e comecei a me escutar em outras músicas – qualquer besteira melosa –; adeus guitarras distorcidas, olá violões de show acústico. Pelo menos, agora, fui parar num pouco de jazz, e isso é uma das poucas partes boas desse tumulto.
Ainda, devia ter me concertado quando comecei a achar interessante minha sombra, e o tempo sem ser clamado, à toa, e a poesia de tudo. Quando comecei a aceitar a raiva e sua ajuda inimiga.
Devia ter continuado burro. Mais do que sou agora. Ainda ser ignorante da indagação sobre o "eu existo".
Mas... não dá. Não tem mais volta.
Agora eu leio filosofia. Encho minha cabeça com belas, excelentes porcarias.
Agora, você sabe o caminho que eu seguirei na ladeira, certo?
Pois então, continuarei nele indo. Para baixo, para o fundo, enquanto no chão morto de minha casa eu respiro, em movimento, sempre em movimento, embora deitado.
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Visões do Vácuo
PoetryEsses poemas são visões da minha vida e do mundo ao meu redor, obtidas da beira de um abismo. E também são uma maneira que encontrei de me conhecer através da escrita. Enfim, esses poemas são partes legítimas de mim que eu quero compartilhar com voc...