mancha de ketchup

516 91 67
                                    

sem aviso, jeno saiu de todas as suas roupas velhas. ombros largos demais para suas camisetas desbotadas e pernas compridas demais para seus jeans desgastados. ninguém conseguia identificar quando ou como ele havia crescido desta forma.

então, jeno começou a usar as roupas de todo mundo. ele nadava nas camisetas de doyoung, se contorcia para que os quadris se encaixassem nos jeans skinny de ten e tropeçava nos cadarços dos sapatos de donghyuck.

mark fingia que odiava ver jeno entrar em seu quarto cinco minutos antes de saírem para as ruas, a meia de yukhei em seu pé direito e a esquerda de renjun. ele fingia que odiava quando jeno pegava emprestado seu moletom favorito e o devolvia duas semanas depois com uma mancha seca de ketchup na manga.

jeno parecia culpado, como se houvesse mais do que apenas o ketchup. ele já não se importava mais com o lábio inferior vermelho de tanto ser mordiscado.

— desculpe — disse, o tecido grosso do moletom curvado em suas mãos. seu cabelo era uma ba. — por levar tanto tempo pra te dar isso de volta — caminhou de cabeça baixa, colocando a roupa na cama de mark.

mark levantou o olhar do livro.

— lee jeno se desculpando por algo? o apocalipse está próximo — zombou. jeno simplesmente o olhou. os cantos da boca mal se moveram. mark o olhou de volta com o cenho minimamente franzido. — está tudo bem?

— oh, uh...  — jeno balbuciou. — sim. sim. tenho que ir, prometi a jaemin que eu o ajudaria a preparar o jantar.

jeno saiu, fechando a porta cuidadosamente atrás de si. pondo o livro na mesa ao lado, mark levou o moletom largo até o nariz e cheirou — suor e sonolência. pensou em jeno em frente ao espelho, ajeitando as extremidades do moletom com um beicinho para que a roupa ficasse confortável em seus ombros largos.

sem aviso prévio, seus pensamentos foram levados para as pernas de jeno, de repente longas como a viagem de seul para busan. borboletas — não, um rebanho de pássaros — voaram impiedosamente em seu estômago.

mark vestiu o moletom e se esqueceu de tirá-lo.

jeno pôs uma panela grande na mesa e abriu a tampa, o vapor voando até enrolar-se em sua franja. estava usando a camiseta de youngho, chegando ao meio das pernas. mark apenas fingiu que seu interior não estava derretendo-se nem um pouquinho.

donghyuck e renjun lutavam por um pedaço de frango até que jaemin o roubou deles. yukhei contava a sicheng pela quinta vez a mesma história que acontecera de manhã cedo, chenle tentava sufocar suas risadas e jisung jogava com seu nintendo ds embaixo da mesa. através de tudo isto, jeno empurrava sua comida ao redor de seu prato, os ombros tensos. como se estivesse esperando por algo.

mark arrastou a mão sobre o rosto, fazendo um caminho até o bolso do moletom. seus dedos se fecharam em torno de algo. puxou uma embalagem de doces dobrada como um pequeno grou de origami — suas asas estavam parcialmente danificadas. mark o desdobrou.

'eu gosto muito de você' estava escrito com o manuscrito apressado de jeno, e a única coisa que mark conseguia fazer era fitar aquela frase que parecia uma arma apontada para o seu rosto. o muito foi sublinhado três vezes.

assim, tudo pareceu se encaixar. o humor estranho de jeno quando devolveu o moletom poucas horas atrás, o olhar dele subindo inquietamente — ainda com a cabeça abaixada — para checar mark desde que juntaram-se na mesa, e agora a mensagem nada previsível no moletom que anteriormente estava nas mãos de jeno.

ele sentiu uma trilha de calor subir do tórax até seu rosto e, novamente, o rebanho de pássaros impiedosos gritavam por suas vidas. subindo o olhar, mark viu jeno muito ocupado brincando com brotos de feijão para notar seu pequeno desespero.

mark não conseguia fingir que não estava corando ao ponto de que suas bochechas poderiam ficar com tal cor para sempre. nada delicadamente, chutou a panturrilha de jeno embaixo da mesa. ele pulou um pouco, mas logo depois foi tomado por um semblante confuso, quase irritado. mark segurou a embalagem de balas amassada por causa do antigo origami ao lado do rosto. nervoso, os lábios de jeno juntaram-se em uma linha.

"eu também gosto de você", mark apenas mexeu a boca, falando mudamente.

franzindo a testa, jeno respondeu da mesma maneira: "o quê?"

mark revirou os olhos, repetindo a fala, desta vez os movimentos da boca mais nítidos para que jeno entendesse. o último, porém, repetiu a mesma pergunta feita anteriormente, ainda mais confuso.

— ele está dizendo que gosta de você também — a voz de jaemin ecoou alta. um barulho robótico de derrota foi escutado juntamente com um gemido decepcionado, e logo um jisung confuso levantou o olhar do nintendo.

indiferente, jaemin enfiou outra colher de sopa na boca. os olhos grandes brilhavam falsa inocência, alternando-os entre mark e jeno.

jeno se levantou da cadeira.

— mark, podemos conversar?

todos os outros fizeram da mesa um tambor, os copos e talheres chacoalhando e tinindo. jisung aumentou o volume em seu nintendo e o manteve acima de sua cabeça, tocando a música de batalha de pokémon.

mark seguiu jeno para fora da cozinha.

— então...

— então... — jeno repetiu com um sorriso tímido, encostado na parede do corredor. mark tinha as costas apoiadas na outra parede.

ambos tinham as mãos juntas atrás do corpo, o canto da boca torto, um pé batendo nervosamente no chão, olhares achando o piso de madeira mais interessante do que iniciar a conversa que já deveriam ter tido há semanas. nenhum deles colaborou.

passaram-se torturantes segundos preenchidos pelo silêncio. com um passo, mark cobriu as bochechas de jeno e selou os lábios. não satisfeito, ele puxou as laterais do moletom de mark e o beijou na boca. a única coisa audível era o som dos lábios se chocando e o rebanho de pássaros voando livremente no estômago de mark.

as mãos se esgueiraram sob a camiseta larga para tocar a pele de jeno, provocando uma série de arrepios em sua espinha. seus dedos, frios. sua língua, quente.

— eu prefiro pegar suas roupas emprestadas — ofegante, admitiu jeno. ergueu uma mão e empurrou uma mecha de cabelo para trás da orelha de mark, e logo voltou para a cintura dele. — porque eles... você sabe. têm seu cheiro.

— bom. e eu prefiro que você os pegue — mark respondeu com um sorriso. estava muito whipped para falar qualquer outra coisa.

quando jeno e mark voltaram, com os dedos mindinhos enrolados, suas respectivas comidas estavam frias.

isso tá uma merda de aleatório e esse final tá horrível meu deus mas markno namora muito e eh isso o que importa tchau

sweet spontaneous.Where stories live. Discover now