Capítulo 1

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Safira terminou o seu treino em cima dos ombros de suas colegas e com um dos braços para o alto. A enorme quadra do colégio estaria em completo silêncio se não fosse pela respiração ofegante de todas as meninas presentes, extremamente cansadas com o treino da coreografia que durou um pouco mais que uma hora e meia.
Assim que a líder alertou-as que estavam liberadas, saíram de suas poses antes que desmaiassem.

Mesmo que sua vontade fosse apenas de se jogar no chão e dormir um pouco no chão sujo e gelado, continuava sorrindo e agradecendo suas companheiras pelo esforço matinal a caminho dos chuveiros, torcendo para que seu cabelo longo e loiro não estivesse um completo caos naquele rabo de cavalo enquanto fazia aquilo e passando a mão na cabeça vez ou outra para disfarçar. O positivismo era o que a permitia frequentar as aulas pouco depois de tanto suor.

Colocou o uniforme após uma ducha gelada e iniciou o pequeno trajeto até a sua sala. Os corredores cinzentos, porém cheios de cartazes coloridos, estavam um tanto vazios por conta do horário, e por algum milagre, nenhum aluno parecia perdido depois das férias do meio do ano. Safira não pode deixar de se preocupar um pouco, imaginando que poderia estar atrasada para a aula mesmo com todo o seu cuidado com horários. Conciliar o tempo de líder de torcida com o de estudante nunca foi um problema.

Seu coração ficou aliviado ao finalmente chegar na sala e notar que os alunos ainda estavam fora de suas carteiras, conversando com seus amigos. Antes de ir para o seu lugar, sentiu um braço lhe segurar.

-E aí? Como foi o treino hoje? - Uma menina morena perguntou.

-Eu morri, mas passo bem! - Brincou, dando um sorriso. Assim que a outra lhe soltou, mudou o assunto. - A Daniela não chegou ainda, né? Só pra ter certeza....

-Você sabe que a Daniela sempre atrasa! E ninguém faz questão que ela chegue cedo, na real... - A professora não era nem de longe uma das favoritas da turma.

-É que eu já faltei umas aulas dela por preguiça, aí tenho medo dela me dar outra falta sendo que eu tô aqui dessa vez.

-Ela nem faz chamada direito, relaxa! - Começou a abrir o caderno, ainda que conversando com Safira. - Você pegou a matéria das aulas que perdeu? Se não, eu te passo.

-Eu não tenho do dia 3 e 10. Me passa agora pelo celular enquanto eu vou arrumando meu material!

-Beleza, vai lá! - A outra começou a procurar seu celular no bolso e Safira pode ir para sua carteira mais para o final da sala.

Sentou-se e abriu sua mochila azul, colocando o material em cima de sua mesa, satisfeita pelo colégio decidir comprar carteiras para canhotos. O material novo ainda cheirava tão bem que chegava a ser prazeroso, e as canetas de cheiro que geralmente são usadas por crianças eram ótimas para enfeitar o caderno e deixar matérias como matemática mais interessantes do que realmente eram. O caderno com um arco-íris estampado lhe gerava satisfação e medo, pois sua paranoia sempre lhe alfinetava, dizendo que alguém iria descobrir que isso era mais que um simples "fofo", e sim, que era uma representatividade.

A professora entrou e todos que estavam espalhados pela sala voltaram para seus lugares no mesmo instante percebendo a péssima atmosfera que ela transmitia. Se ela já era arrogante em "bons dias", sentia medo do que poderia surgir daquela manhã. Mesmo assim, aquilo não era o que a mais incomodava, e sim a falta de alguém na carteira da frente.

-Quais foram as páginas do dever de casa? - Perguntou a mais velha, fazendo a turma ficar em silêncio absoluto enquanto se encaravam. Ela suspirou. - Quem não fez, faz agora. Vocês têm 10 minutos enquanto eu espero o técnico chegar pra dar um jeito no projetor.

A classe abriu o livro às pressas, e os milhares de cochichos juntos perguntando quais eram as páginas faziam um barulho extremo, mas a professora não parecia se importar. Todos sabiam que quando o projetor voltasse a funcionar, ela voltaria a ser a mesma rígida de sempre senão pior graças ao humor estranho da mesma. Como Safira já havia feito o dever, se contentou em apenas apoiar seu queixo em sua mão e ficar observando a porta, esperando alguém aparecer.

Sob os Holofotes Where stories live. Discover now