(Parte 24) - Por você, eu faria

118 15 0
                                    

          Meu corpo todo tremia diante do que estava a minha frente. Minhas mãos aplainavam sobre Kris, sem saber ao certo o que fazer. Seu sangue já molhava minha calça onde eu havia ajoelhado e a impotência referente àquela situação apenas crescia. Com o coração vindo à boca, aproximei minha mão de suas narinas, mas não consegui sentir sua respiração. Em desespero, levei dois dedos em direção a sua carótida, na esperança que eu ainda pudesse, ao menos, sentir seu pulso, mesmo que fraco. Não senti.

          Um potente grito saiu de minha garganta, rasgando toda minha carne ao procurar por uma saída. Como aquilo tinha acontecido? Corri para o banheiro em busca de uma toalha e agarrei o primeiro pano que achei, voltando para a entrada e enrolando o ferimento de Kris com o mesmo, a fim de estancar o sangramento. Conseguindo dar um nó em volta de sua barriga, levantei em busca de um telefone e liguei para a emergência. Encarei seu corpo inerte no chão; seus olhos fechados, sua expressão neutra e seu peito sem se levantar. Olhei para o lado e encarei a porta aberta por onde o canalha havia escapado.

          Meus pés impulsionaram meu corpo para cima e caminhei em direção à saída com uma extrema determinação de caçar a minha presa em qualquer canto que ela tivesse fugido. Desci os degraus sentindo meu corpo quase que anestesiado por um ódio cego, mas que não me impediu de sentir o quente sob meu pé. Ao olhar para baixo, me deparei com a mesma arma que atingiu Kris há poucos segundos.

          Covarde! Daniel havia vindo para desgraçar com o resto de sanidade que eu ainda mantinha e não teve a coragem para terminar o que planejou. Ameaçou-me de morte e tirou a vida de quem eu amava. Eu não o deixaria sair de Floratta Bay, nem que fosse a última coisa que eu fizesse.

           Apossei-me da arma e, parecendo medir a rota mais comum que ele poderia traçar, prossegui meu caminho em direção à cidade. Andava a passos largos e decididos, tendo em mente que ele não poderia estar longe e era um forasteiro, enquanto eu era nascida e criada naquele lugar.

          Deixei que o vento congelasse meu rosto e minha pele exposta, meus pés já não mais reclamavam do atrito no concreto e minhas mãos não mais balançavam trêmulas, eram firmes como as de um cirurgião plástico de prestígio. O céu trovejava, ameaçando deixar um dilúvio desaguar a qualquer instante e, ao mesmo tempo, respingava pequenas gotas, como se comedisse um choro que lhe prendia o fôlego. As nuvens aceleraram o cair da noite, deixando que os postes de luz iluminassem o caminho.

— Olívia? O que está fazendo? — Desacelerei o passo quando percebi que as ruas não estavam tão vazias assim. Sem parar de andar, encarei as figuras ao qual já ultrapassava.

— Ele está aqui. Ele está aqui e tirou Kris de mim! — Não me deixei desesperar, ele iria pagar, eu iria fazê-lo pagar.

          Serena e Karine começaram a andar a meu encalço, certas de que o melhor era supervisionar a louca segurando uma arma e com roupas ensanguentadas, em vez de discutir comigo. E eu não protestei. Continuei a seguir até a parte do cais mais próxima dali. Meus pés, no entanto, travaram no momento que enxerguei aquela sombra correr em direção a um canteiro de obras. Com meu grito superando o trovoado dado pelo céu, corri até o campo onde Daniel parara ao meu ouvir.

           Diante de seu semblante sarcástico e risonho, mirei o cano da arma em seu rosto de uma distância que sabia que nunca iria acertar, mas que me dava um controle sobre ele. Daniel rira, batendo palmas como se estivesse assistindo a um espetáculo, enquanto Karine e Serena me pediam para parar.

— Cala a boca!

— Está bem, está bem. — Seu sorriso se desfez e ele deu um passo a frente. — Assim está melhor? Precisa que eu me ajoelhe ou vire de costas?

Um pedaço de mimWhere stories live. Discover now