• Capítulo 4 •

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Conforme o tempo passava e Samantha trazia montes de comida para Beatrice frequentemente, ela começou a se sentir ansiosa como já havia acontecendo há algum tempo.

Samantha Sandoval era mestre em preparar os pratos mais deliciosos que Beatrice já provara, e sempre que ingeria mais do que achava apropriado, os pensamentos ruins tomavam conta de si e ela não conseguia se concentrar em nada além do tanto que tinha comido.

Beatrice sabia que era errado, sabia que não devia fazer o que fazia, mas mesmo assim era como se ela não tivesse controle dos próprios pensamentos e ações. Sua mente trabalhava por si só, cercando-a de todos os modos possíveis.

Aconteceu depois do almoço, naquele mesmo dia em que se afogava no tédio daquele quarto luxuoso.

Ela só conseguia pensar em como devorara praticamente toda a refeição enorme que Samantha havia lhe trazido meia hora antes, os pensamentos culposos incapazes de deixá-la em paz. Beatrice então, sem se aguentar mais, se levantou da cama e, devagar e apoiando-se nos móveis do quarto, chegou até o banheiro.

Antes mesmo de se ajoelhar perto da privada, sentia a culpa por ter comido tanto nos últimos três dias lhe invadir por completo. Visões de Eliza, com seu corpo completamente curvilíneo e magro, preencheram a mente de Beatrice, além das imagens de todas aquelas garotas em suas capas de revista e o efeito que elas pareciam provocar em todo mundo.

Beatrice não era burra. Sabia que não existia um padrão de beleza alcançável e perfeito, sabia que as mulheres tão absurdamente lindas nas revistas e na TV eram falsas e nem de longe tinham o corpo que exibiam.

Sabia disso e de muito mais.

Mas, então, por qual motivo sentia a necessidade quase que doentia de pelo menos tentar se parecer minimamente com elas?

Todos pareciam gostar mais de garotas em forma, com barriga lisa e pernas torneadas. Essas garotas eram admiradas de alguma forma, lindas e hipnotizantes.

Quando Beatrice fitava seu corpo no espelho, não conseguia apreciá-lo nem um pouco. Nunca havia sido gorda, ou sofrido qualquer tipo de bullying por seu peso na época que esteve no colégio - isso tinha que admitir - mas quando observava aquelas garotas populares e lindas nos corredores e nas ruas da pequena cidade, ou quando assistia comerciais de TV e olhava as revistas de moda, podia perceber o quanto aquele tipo de corpo era valorizado, considerado lindo.

Um tipo de corpo que ela não tinha.

De repente, a pequena gordura abdominal que Beatrice sempre tivera, se tornou um problema impossível de ser suportado e superado. Perder três ou quatro quilos havia se tornado uma missão impossível, quando sempre gostara tanto de comer o que quisesse na hora que quisesse, sem nunca se importar com aquele tipo de coisa.

Apesar de sua saúde estar ótima e Beatrice não estivesse nem um pouco acima do peso normal para sua idade e altura, quando ela se olhava no espelho sentia nojo de si própria comparada as outras garotas.

Sem que percebesse, Beatrice começou a policiar cada mínima coisinha que colocava na boca, evitando o açúcar e alimentos gordurosos. Havia noites em que dormia com a barriga contorcendo de fome, e quando pensava que não aguentava mais aquela tortura, levantava-se na calada da noite e comia tudo que estivesse ao seu alcance para saciar a fome demasiada que sentia.

Depois de já ter acabado e finalmente acalmado o estômago faminto, Beatrice se deitava na cama e fitava o teto, sentindo a culpa invadi-la e a mantendo acordada. Então se levantava de novo, entrava no banheiro e trancava a porta, fazendo silêncio para não acordar o pai cansado.

Tão rápido como havia ingerido os alimentos poucos minutos antes, Beatrice colocava tudo para fora. Era rápido, aliviava a culpa e fazia com que ela conseguisse dormir.

A Rosa Mais BelaWhere stories live. Discover now