Capítulo 1

44 6 5
                                    

Novo Mundo.

As árvores chacoalhavam com a brisa do outono e as pétalas amarelas na grama não estavam perfeitamente colocadas.
"Ei Lassie, espere por mim!" A irmã mais velha fala erguendo a mão esquerda, desistindo da corrida.
Apesar de sua idade, ela adorava passar o tempo com suas irmãs, mesmo que isso significasse sujar ou rasgar alguma parte do traje belíssimo que sempre a vestia.
Abaixou a mão até o peito, o coração batia tão forte que a assustou de princípio, mas o grito feminino e cheio de dor agonizou seu ouvido e foi o suficiente para que ela caminhasse rapidamente até o som.
Leanne, a que não se parecia com as outras irmãs-iguais, estava sentada na grama do enorme jardim, chorando.
"O quê aconteceu?" Sua pergunta sai como um sopro, a intensidade do Sol brincava com seu cansaço e as pernas curtas.
Suas irmãs haviam nascido juntas, três de uma única vez. Apesar de todas as Filhas do Norte não se parecerem, Aileen as considerava como irmãs. Além do mais, as garotas-com-o-cabelo-cor-de-fogo faziam com que a princesa reconsiderasse menos o seu futuro reinado. A vida delas não exigia muita preocupação além de qual seria a próxima brincadeira ou se precisariam tomar banho; e participando de suas vidas, ela sentia-se de novo uma criança.
"Aileen! Eu matei um animal!" Leanne, ergue seus pequeninos olhos para a soberana.
A pele claríssima respingava algumas gotas de água, os olhos verdes como ervilhas piscavam rapidamente enquanto as mãos firmes porém macias seguravam um inseto morto.
"Não seja exagerada, Lea!" Lauren diz em tom bravo, suas mechas do topo do cabelo estavam molhadas de suor.
"Linguagem!" Aileen diz com uma postura severa por ter que repetir isso novamente.
"São apelidos!" Corrige. A soberana de olhos claros como o céu na época da colheita de maçãs, não se importou com o nome que a pequena inventou. "Perdoe-me, Alteza" A última palavra, na qual deveria denominar algo que a jovem ganhará de nascimento, caiu-lhe em forma de provocação e ela pôde sentir que essa era a intenção da pequena.
A princesa havia dispensado a serva que cuidava das atividades das crianças durante todo o tempo de viajem dos monarcas ao Oeste, para evitar que elas ficassem sozinhas-sem o apoio da mãe, contando que o rei, claramente não havia tempo para as descendentes do trono- e naquele instante gostaria de ter voltado atrás em sua decisão.
"Leanne, eu tenho certeza de que não fez de propósito" Diz Aileen paciente, observando Lauren, elas teriam uma conversa sobre seu comportamento depois.
"Ele está em um lugar melhor, Aileen?"
Ela se surpreende com a pergunta e procura de onde veio o som, mas logo outra ruiva decide falar.
"Está com o Senhor não é?"
Aileen apenas fecha os olhos, cansada das meninas.
"Não seja estúpida, Leanne!" A princesa franzi a sobrancelha com a grosseria mas não interrompe, queria ver até onde sua meia-irmã iria. "Animais não vão para o céu" Lauren fala aparentemente brava.
Caso exista algum céu.-As incertezas controlavam seu cérebro mais uma vez.
"Chega dessa conversa!" A loira soltou as mãos e abriu os olhos, dizendo aquilo para si mesma.
Havia coisas em seu mundo que discordava ou duvidava mas convencia-se de que era algo de sua idade. Há tempos não encontrava alguém com o mesmo tempo de vida. Mesmo assim, homens e mulheres-muitas vezes até em posições menores que a dela- afirmavam que ela deveria manter seus pensamentos para si e que raramente deveria falar em público ou demonstrar suas ideias.
Mas para uma jovem de dezessete anos e meio, descendente de grande parte do seu mundo, ela simplesmente ignorava toda vez em que sugeriam isto.
O Grande Sino toca. Era hora de toda a realeza aprontar-se para a missa.
"Ah não" Resmunga Leanne.
"Vamos princesas!" A mais velha encoraja as garotas, levantando-se. O simples vestido verde cintilante estava com algumas poucas folhas de tom amarronzado e galhos. Mas isso de forma alguma deixava-a menos angelical.
"Como sabe que nós somos princesas?" Lassie questionou a irmã.
Aileen lembra de quando escolheu esse nome para o segundo bebê que havia nascido, seu pai disse que ela poderia fazer as honras e de acordo com os antigos, quando se da um nome a criança, toda sua personalidade é colocada nela, qualidades e defeitos, e a obrigação desse mentor é ensinar a pessoa o que é certo ou errado e adorar a Deus.
De qualquer forma, a princesa mais velha cuidava de todas suas irmãs desde o nascimento, e uma profecia ou passagem de livro não iria justificar algo que ela já fazia com amor. Entretanto ela via um pouco de si em cada uma das meia-irmãs.
"Além de nosso broche real, é claro" A pequena acrescenta dificultando a pergunta.
Somente após a fala, Aileen recordou-se do questionamento. E não era surpresa que elas faziam esse tipo de coisa.
Todos os membros das cortes, com exceção aos reis, do Norte e Leste, e alguns conselheiros, tinham um broche com alguma figura. A família real do Norte carregava uma Águia de prata, com garras prontas para destruir sua presa. Era-cruelmente-isto o que a coroa significava.
"Eu.." Aileen para por alguns segundos, escolhendo as palavras certas, é uma pena que não tenha alguma empregada para também fazer isso por ela. A loira olha para o piso feito de grama e encontra gravetos, três mais especificamente, de uma cor específica do outono. Sorri para si mesma ao ver que aquilo serviria como exemplo. "Ao carregar o sobrenome real, vocês automaticamente entram na 'lista' caso o rei.." Ainda não estava do jeito que gostaria de transmitir. "Quando o papai" Aileen falou rápido a última palavra, com receio por chamar o soberano daquela forma em voz alta e torceu para que as pequenas não aderissem. Mesmo aquilo sendo verdade, mesmo que o rei do Norte fosse pai delas. "for para o céu," Todos da corte exceto, a família real, duvidavam do fato "eu assumirei seu lugar, como rainha e terei que me casar com um rei. Porém assim que isso acontecer.." Ela entrega os gravetos. "Coloquem na cabeça!" Pede sussurrando. As irmãs entreolham-se rindo porém obedecem. "Assim que eu me tornar a Rainha do Norte, coroarei vocês como minhas descendentes e serão princesas até assumirem o trono"
"Está respondida minha pergunta" Lassie acena com a cabeça o que faz seu galho cair.
A jovem recolhe-o e sorri, podia sentir as bochechas vermelhas por conta do vento.
"Obrigada rainha Aileen" Leanne sorri também tentando enxergar a "coroa" de sua cabeça.
"Mas por enquanto, há apenas uma rainha do Norte.." Bristol inclina-se na direção das garotas entrando na conversa.
Seu cabelo estava mais escuro que o normal, preso em coque alto, e tentava-ao máximo-transparecer comum a cena em que encontrava-se: Quase ajoelhando no jardim com o vestido dourado repleto de pérolas roses e o espartilho contraindo todos seus ossos.
Mesmo assim ela tinha que sorrir e acenar. Aileen admirava isso.
"Mamãe! Você voltou!" Lauren e Lassie dizem juntas abraçando a mulher com o grande vestido.
"Trouxe algum presente?" Leanne pergunta erguendo a sobrancelha clarinha. Diferente das outras irmãs não abraçou de cara a soberana.
"Leanne!" Aileen repreende-a, até lembrar-se que a rainha, mãe da criança, estava presente. "Majestade" fez uma pequena reverência. "Como foi a viagem ao Oeste?"
Toda vez em que olhava para a rainha, sua mãe vinha aos pensamentos, não se lembrava muito, porém sempre ao deitar, a última coisa que conseguia pensar era na música que sempre murmurava enquanto estava viva.
"Aileen" A rainha Bristol a desperta do pensamento. A princesa fecha a boca rachada por conta do outono e estala a língua.
"Majestade..."
"Você perguntou como foi a viagem"
"Ah!" Se permite fazer a expressão de que imaginariamente havia partido para outros planetas.
Talvez para o planeta onde as pessoas boas ganhavam o reconhecimento necessário. Mas o que Aileen sabia sobre justiça?
Nasceu sobre uma cama rodeada de ouro e prata, teve uma infância feliz e hoje em dia precisa apenas se preocupar com o tecido dos vestidos chiques que usa durante algum baile. Algo que ela está cansada de frequentar.
Ela poderia ter sido uma jovem pobre, trabalhando desde sempre para conseguir um pedaço de pão duro. Ajudando a manter seus pais e irmãos vivos-mas não em condições humanas-; Aileen não fazia a menor ideia do que moradores do Sul passavam, ela sabia que suas vidas eram difíceis mas não podia fazer nada, e com o passar do tempo ela se acostumou com esse vazio e incompreensível
nada.
"Exato" A princesa disse apenas por dizer, não queria que a figura superior pensasse que era uma pirada. Ou que consumava deixar seus pensamentos invadirem a vida real-Às vezes isso acontecia, somente às vezes-.
"Tudo ocorreu incrivelmente bem!" Bristol solta as mãos diante do corpo. A rainha tinha o costume de exagerar em suas expressões. Aquilo a tornava pura porém perigosa. "Provamos pratos maravilhosos feitos com a nossa tecnologia e livros do Leste"
"Posso imaginar" Responde desviando o olhar para os guardas atrás da soberana, mais especificamente, o garoto com cabelo negro e sardas. Ele não percebe que a princesa o observa, na verdade, ele nunca percebeu.
Aileen se assusta quando outro guarda, mais próximo a soberana, sussurra algo para a rainha. Deveria estar à parte de tudo pois algum dia assumiria seu lugar. Mas ela não queria, não por enquanto. Seu pai administrava as coisas bem, e no momento apenas gostaria de brincar com suas irmãs e participar de paradas. Até iria à bailes se fosse necessário.
Não que ela não tinha responsabilidade para tal coisa, havia muitos motivos, que ela guardava dentro de si, para dever assumir o trono, mas tudo estava funcionando bem. E então, para quê se dar o trabalho?
A princesa olha mais uma vez para Bristol, a rainha parecia atordoada. "Será por conta do que o guarda sussurrou?" Aileen pensava curiosa. Ou talvez a rainha já soubesse o que aguardava-lhe.

Beta T- Uma Segunda ChanceWhere stories live. Discover now