New York New Home

Um Novo Começo

Sempre gostei de acordar cedo, os feixes de luz entram pela minha janela e iluminam meu rosto indicando um novo dia. É segunda de manhã e acabei de acordar para enfrentar o meu tão esperado primeiro dia em uma escola americana.

Meu pai conseguiu uma promoção no emprego e por isso nos mudamos para Nova Iorque no começo das férias de verão, assim tive tempo de me familiarizar com a cidade, com as vias de metrô- que são mais fáceis de se entender do que parece- e com minha nova casa; grande, antiga e aconchegante. Meu quarto fica no andar de cima, é o último do corredor, e infelizmente o mais perto do banheiro. Mas nada disso importa porque minha janela tem uma das vistas mais bonitas de Nova Iorque. Talvez esteja bem longe disso, mas mesmo assim eu não trocaria minha vista por nenhuma outra. Da minha janela consigo ver minha rua quase sem carros, as árvores majestosas com troncos grossos e muito confortáveis- a do meio é a Betty, deito nela quase todos os dias para ler- e algumas pessoas correndo no parque.

Eu levanto da cama e vou direto para o banheiro, pego minha escova de dente rosa brilhante e escovo meus dentes da forma mais cautelosa possível para os deixar limpos e brilhantes. Penteio meu cabelo e ajeito minha franja. Graças a Deus meu cabelo acordou bonito hoje, as ondas leves ficaram perfeitas.

Volto para o meu quarto e abro o meu guarda-roupa que está entulhado de coisas no momento. Meu guarda-roupa era maior em São Paulo. Começo a tirar as coisas desesperadamente das gavetas a procura da minha saia jeans que ganhei de aniversário da minha mãe. Depois de pouco mais de cinco minutos eu encontro ela embaixo de uma camisa grande e larga com a escrita "girl power" e uma grande rosa vermelha cheia de espinhos no meio. Ela é perfeita. Visto minha saia e faço um pouco (bastante) de força para ela entrar -acho que engordei um pouco-,logo em seguida chega a vez da minha blusa de "girl power", coloco a extremidade dela para dentro da minha saia depois a solto  de leve dando o toque despojado que eu queria.

Agora só faltam os sapatos. Abaixo e coloco meus braços embaixo da minha cama apalpando toda a área que eu consigo alcançar a procura do meu tênis de verniz preto. Depois de algum tempo finalmente o acho ao lado das minhas pantufas. Estou terminando de calça-lo quando ouço o grito abafado da minha mãe:

-Juliette, se você não descer em 5 minutos vai se atrasar para escola- diz ela em um tom apressado.

-Já vou mãe, só preciso de dois minutos- grito em resposta.

Corro para minha escrivaninha, pego meu rímel e meu pó e me maquio o mais rápido possível me olhando no espelho para me certificar de que não estou parecendo uma palhaça de circo. Quando acabo passo um pouco de blush para avermelhar minhas bochechas, pego minha mochila que estava apoiada na minha cadeira almofadada e desço as escadas em disparada. Quando chego na cozinha, mamãe, papai e Charlie já estão terminando de tomar o café da manhã.

-Finalmente Julie, estávamos quase comendo sua parte do café- mamãe diz apontando para algumas panquecas de ovo e bananas que ela diz ser saudável.

-Podem comer- digo sorrindo.-Não estou com fome- mas na verdade só sei que não vou ter tempo de subir e escovar meu dentes de novo, e não quero arriscar ter alguma sujeira ridícula no meu dente. Ninguém gosta de pessoas com o dente sujo.

-E aí, estão prontos para o primeiro dia de aula?- pergunta papai com a expressão animada.

-Estou mais que pronto, tirando o fato de que eu não estou.- Charlie responde se encolhendo na cadeira.

-Calma, Tuti - falo enquanto passo as mãos pelo cabelo extremamente macio dele - só mudamos de país, não tem nada de tão horrível pra se preocupar. - falo sem saber se aquelas palavras de conforto são pra mim ou pra ele.

-Julie, eu já tenho 12 anos, pode parar de me chamar de Tuti por favor?- Charlie diz enquanto olha pra mim com as bochechas vermelhas de raiva

-Tá bom, tá bom seu bobinho, mas é que é tããããão fofinho.- digo enquanto aperto as bochechas dele que imediatamente se levanta da mesa bufando.

- Já deu crianças! -Diz papai em um tom brincalhão.- Precisamos ir agora.

Todos entramos no carro, e a única coisa que passa minha cabeça é: É hoje. É hoje que minha vida vai se mudar por completo. Deixamos tudo para vir para cá, minha casa, minha cidade, minha melhor amiga Mia e meus outros amigos. Em um dia que era pra ser apenas mais um em São Paulo tivemos a notícia que mudou nossas vidas e nos guiou para onde estamos hoje, a grande Nova Iorque. Parte de mim está muito animada, isso foi o que eu sempre quis, mas a outra parte está surtando e quer muito voltar para a vida antiga. Aqui tudo é diferente, eu estive aqui desde o verão, mas só conheci lugares, não pessoas.

Vi vários vídeos no YouTube sobre como era morar aqui, como as pessoas eram, como tudo era, mas para mim era tudo uma utopia. As perguntas enchem minha cabeça mais rápido do que nunca, será que eles vão me aceitar? As perguntas sobre mim serão tão idiotas como eu imagino? Eu vou fazer amigos?  Não consigo terminar meu raciocínio porque acabamos de chegar. Eu estou aqui, enfrente a escola, enfrente ao meu futuro. É agora.