"Ah, vovó!" As lágrimas já caem novamente. "Não tem nem vinte minutos que descobri e já amo o meu bebê. Como isso é possível?"

"Amor de mãe é inexplicável, Melissa. Ele nasce sem pedir licença e quando vemos, já tomou conta de nossa alma." Afasta-se, passa as mãos no rosto para enxugar as poucas lágrimas que derramou. Até para chorar minha vó tem classe, não é como eu que figo parecendo um moribundo gripado. "Vamos fazer uma ultra-sonografia para vermos esse lindo bebê."

Deito na maca enquanto vovó faz todos os procedimentos para o exame. Quando passa o gel gelado em minha barriga, compartilhamos um sorriso cúmplice. Não tiro os olhos da pequena tela quando vovó coloca o aparelho em contato com minha pele. Não demora para aquele som alto, conhecido aos meus ouvidos preencha a sala. É o tum, tum, tum mais bonito do mundo. A confirmação da vida que cresce dentro de mim. Olho com atenção as manchas escuras, que no princípio parecem apenas um amontoado de borrões disformes, até reconhecer aquele pontinho diferenciado, que me encanta e aumenta as lágrimas.

É o meu bebê. Meu bebê e de Gabriel. O fruto de nosso amor.

"Seis semanas." Dois meses que meu bebê está se desenvolvendo escondidinho e só agora fez a mamãe idiota notá-lo. Já pensou se tivesse demorado mais, eu levaria um susto quando daqui mais uma semana ele começasse a se mexer. "Está tudo bem com ele, mas precisa ter muito cuidado. Tem conhecimento que os três primeiros meses requerem cuidado redobrado por causa dos riscos de aborto. Vai fazer uma bateria de exames para sabermos como realmente está."

"Vai ser nossa médica, não é vovó? Vai me ajudar a trazer meu Feijão ao mundo?" Seu sorriso é a resposta que preciso para respirar aliviada.

"A vantagem de ser mãe cedo é a de ter força e lucidez para cuidar até dos bisnetos." Limpo o gel da minha barriga, tomando cuidado para não fazer uma bagunça. Estou tão feliz que nada é capaz de estragar essa felicidade.

"Preciso contar ao Gabriel. Quem sabe ele não acorda ao ouvir que seremos pais?" Beijo o rosto de vovó e consigo sair depois de ouvir inúmeras recomendações sobre ter muito cuidado.

Tomo um banho na velocidade da luz e pela primeira vez vou visitar Gabriel com o coração leve, distribuindo sorrisos em todas as direções. Se estou feliz, meu Feijão também está feliz. Passo a mão na barriga quando estaciono o carro em frente ao hospital. Fica a quase vinte minutos de onde trabalho e nunca pareceu tão longe como hoje, mas não importa.

Apresso os passos ao me dar conta que está na metade do horário de visitas. Tomo o devido cuidado para não tropeçar nos próprios pés enquanto adentro o hospital. Cumprimento o porteiro e a recepcionista de plantão com quem fiz amizade nas últimas semanas, então, subo até o segundo andar naquele elevador lerdo. Quando as portas metálicas se abrem, vejo Milena e Gael ainda com os uniformes do colégio. Ambos sorriem ao notarem minha presença, mas percebo o olhar estranho que trocam antes da loirinha alta e bonita se levantar para me abraçar apertado.

"Ele acordou, Mel. Meu irmão acordou."

Meu corpo congela, o coração começa a bater descompassado contra a caixa torácica. Meus olhos ardem mais uma vez de felicidade, alívio, um mundo de coisas a me consumir.

Minhas pernas ganham vida própria e avanço em direção ao quarto, desejando ver com meus próprios olhos, a realização de um sonho desejado com tanto fervor. Antes que possa abrir a porta, sinto uma mão segurar meu ombro, olho para Gael estranhando sua atitude.

"Mel... olha, meu irmão acordou meio confuso." Pigarreia e tenho a certeza de que algo não está certo quando desvia os olha para o teto. "O médico está aí dentro conversando com meus pais e meu irmão. É melhor esperar até que deem autorização para entrar."

Série Corações Feridos: Não me esqueça (Vol. 4) ✔Where stories live. Discover now