THE WINTER KING

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O inverno era rigoroso e, naquela parte do continente, se espalhava como a praga. As florestas haviam se tornado labirintos de cristal com pontas afiadas, os animais haviam se recolhido para dormir até o fim da estação, a comida havia começado a desaparecer das mesas e as lareiras haviam se tornado uma adição frívola ao lar. Nada fazia diferença quando a umidade impedia meias de secarem, quando os lobos se aproximavam cada vez mais da vila, quando a neve não durava o suficiente ‒ havia apenas o impiedoso e corrosivo gelo, que engolia tudo com voracidade. E a população sussurrava em tons amedrontados, encolhida sob seus cobertores de lã e tremulando como bandeiras hasteadas, sobre a magia obscura que rondava as beiradas dos bosques e sobre o fedor de morte iminente que impregnava o ar.

A babá da família, apesar de estar consideravelmente velha para ser uma, fazia tranças elaboradas nos cabelos escuros de Dominika Petrovna, seus dedos passando de um lado para o outro em um labirinto de fios e seus lábios se movendo enquanto cantarolava uma antiga canção infantil. Era o dia em que o senhor da casa, Evgeny Petrov, apresentaria sua nova esposa para todos ‒ o casamento havia sido realizado de maneira discreta em Moscou e agora ele retornava ao lar com uma aliança no dedo e um dote generoso no bolso.

— Ouvi dizer que se seu pai não tivesse aparecido ela teria sido mandada para um convento. — Svetlana comentou em um tom furtivo.

Inessa, agora Petrovna, vinha de uma família de aristocratas reclusos e pouco se sabia dela, além de que era considerada muito bela e que possuía certo dom para o bordado. Dominika arqueou as sobrancelhas, sentindo a curiosidade nublar seus sentidos.

— É mesmo, Svetochka? Por quê?

— Bem, dizem que ela é louca. — A mulher não tinha o hábito de servir verdades açucaradas. Levando as mãos calejadas até os ombros ossudos da garota e os apertando, acrescentou: — Sinto muito, Domka.

Era a primeira vez que Dominika via alguém oferecer condolências após um casamento, mas ela as aceitou de qualquer maneira, com um pequeno sorriso e um balançar de cabeça.

— Escute, por que você não vai checar os meninos? Eu termino de me arrumar. — Perguntou após ter a fita amarrada no final de sua trança. A babá ergueu os olhos para observá-la. — Falo sério, Svetochka. Não me importo de me vestir sozinha.

— Certo. — Ela murmurou de maneira hesitante, limpando o suor dos dedos no avental branco que tinha amarrado na cintura. — Não se esqueça de borrifar perfume nos pulsos.

Assim que a mulher deixou o cômodo e fechou a porta atrás de si, Dominika soltou a respiração que não sabia que prendia. Era difícil assistir seu pai trazer uma esposa para casa tão pouco tempo após o falecimento de sua mãe, e era mais difícil ainda sabendo que tantos comentários já haviam sido feitos a respeito da nova Sra. Petrovna. Ela sabia, objetivamente, que era tolice dar ouvidos ao que saía das bocas dos aldeões, mas seu coração ainda batia apertado no peito.

Levantando-se, abriu o armário no canto do quarto e tirou de lá um vestido vermelho sangue de mangas longas ‒ era de veludo com detalhes em dourado no torso que se assemelhavam a louros. Esgueirou-se para dentro dele com destreza, em seguida alisando o tecido para se certificar de que não tinha dobras.

Com um suspiro, abriu a caixa de joias e prendeu ao redor de seu pescoço uma corrente com um pequeno pingente de rubi que caía perfeitamente entre seus seios, realçando sua pele alva. Havia sido um presente de sua mãe, Sofiya, em seu leito de morte, colocado em suas mãos trêmulas com cuidado, amor e melancolia. "Para que você nunca se esqueça de mim, meu amor", foram as palavras que escaparam de seus lábios rachados naquela noite de primavera.

Após amarrar suas botas e esfregar perfume na parte interna de seus pulsos, Dominika deixou o quarto com cuidado para não tropeçar na barra do vestido e seguiu para a sala de estar da casa, que estava lotada de aldeões e homens que serviam ao seu pai. No entanto, não havia nenhum sinal dos noivos.

InsidiousWhere stories live. Discover now