A menina

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Imagine uma menina. Cabelo atrás da orelha, franja caindo no rosto, roupa de marca, batom marcado, de óculos escuros e com um Iphone na mão destacada pelos esmaltes pretos cintilantes. Bem, não é dessa menina que estou falando. Olhe mais ao lado. Essa com seu estilo único,  fugindo dos padrões,  com seu cabelo encaracolado, por pentear, sorriso marcante, olhar penetrante. Pois bem, também não é essa. Olhe ali no fundo. Quase camuflada no muro. Aquela menina sem graça, sem cor, sem jeito. Com sua roupa tão indiferente quanto seu humor. Sim, essa mesmo que caminha num meio entre cambaleando e pisando em ovos. É essa que já acostumou a passar sem ser notada e das vezes em que é vista, é tida como desleixada e escrota. Essa é a nossa menina. Talvez mais uma Maria. Ou talvez seja uma Fernanda. Por que não uma Catarina? Bem, seu nome não importa. Nossa menina tem um diferencial que a torna tão única e tão completa. Nossa menina tem asas. Essas que ela encontra pelas sucatas da vida. Essas que faz com os lixos e luxos que lhe apresentam.  São de papel e quando as lágrimas caem, elas derretem e se desmancham. São de cristal, e quando batem, por serem tão frágeis,  se despedaçam rumando ao chão. São de madeira, e de tão pesadas, frequentemente tiram a leveza do flutuar. Não, na verdade não são. São de poesia, sobem tão alto que a limitada visão humana não pode alcançar. E ela fica assim, ali no fundo, quase camuflada no muro.

Escritos da parede do casuloWhere stories live. Discover now