Sombras do Desejo (Romance Lésbico)

Capítulo 47

Ao me ouvir, Fernanda se aproximou e pegou delicadamente em minhas mãos, acariciando de leve, o que me fez erguer os olhos e encará-la.

- Infelizmente, é assim mesmo. - Falou calmamente, me oferecendo um sorriso confortante. - Aos poucos você vai vencendo isso... só ter paciência.

- Espero que consiga logo... - Falei desanimada, sentindo as mãos de Fernanda apertarem as minhas.

O resto da noite passou de forma "normal". Meu irmão chegou com Vanessa, Gabriel chegou de um dia com Isabel – me acalmando, pois fico com o coração na mão quando ele está longe de mim.

Fizemos nossa refeição falando sobre coisas amenas. Meu irmão e minha cunhada perguntaram rapidamente como eu estava, não prolongando o assunto, o que agradeço, primeiro porque não queria falar e segundo porque Gabriel estava presente.

Estava tudo indo muito bem, até que fomos nos deitar. O apartamento de meu irmão era bem amplo, possuindo três quartos, sala, cozinha, banheiro, área, além de vaga na garagem e uma área de lazer. Eu e Fernanda ocupamos um, enquanto meu irmão e Vanessa ficaram no deles e Gabriel ficava em outro. Eu não queria que meu filho dormisse longe de mim, mas, diante dos pesadelos que tinha, seria ruim para ele acordar comigo apavorada, então o poupamos dessas situações. Graças a Deus ele era tranquilo e adorava dormir em "seu" quarto, sozinho, então nem sentiu.

Mas, voltando, como eu estava falando, tudo estava indo bem, dentro do possível naquela situação toda, até que fomos dormir. Eu confesso que já esperava os pesadelos, já esperava acordar na madrugada chorando, buscando refúgio nos braços de Fernanda, ou seja, já esperava que minha noite, mais uma vez, fosse um inferno. Porém, dessa vez, foi pior que tudo.

Eu havia, depois de muito tempo lutando contra o sono, conseguido dormir. Fernanda estava ao meu lado, se segurando para só dormir quando eu adormecesse, o que cortava meu coração vendo ela se sacrificar assim.

Eu consegui adormecer e, tudo ia bem, eu não tinha sonho algum, o que me provocou um sono profundo, entretanto, durante esse raro momento de adormecimento tranquilo, eu me senti transportada para um local que se assemelhava ao quarto que ocupo, porém, diferente de antes, o quarto está muito escuro. Eu, apavorada, tento me levantar e acender a luminária de cabeceira, mas ela não funciona.

Com medo, passo minha mão sobre o colchão ao meu lado e, para meu desalento, ele está vazio. Nem sinal de Fernanda ao meu lado. Aquilo era atípico, pois ela tinha dormido ao meu lado, eu sabia, mas ela não estava ali.

Mesmo assustada, com as pernas trêmulas, me descubro e, cautelosamente, me sento na cama, pendendo minhas pernas para fora e permitindo que meus pés toquem o chão. Sinto um frio desproporcional naquele piso, o que faz meu corpo inteiro arrepiar.

Há um silêncio sepulcral pairando sobre a atmosfera do apartamento, o que me deixa mais arrisca ainda. Logo penso em Gabriel, sozinho no quarto, dormindo. Esse pensamento me faz juntar forças para me levantar, mas, quando forço meus pés para me apoiar, me sinto fraquejar, como se minhas pernas não respondessem ao meu comando.

Já estava desesperada, tentando sair do lugar, mas não conseguia. Sentia as lágrimas escorrendo pelos meus olhos e as forças se esvaindo de mim, lentamente. Não bastasse tudo isso, ouço, claramente, Zuma latindo, da mesma forma que ele fez naquele dia, o que me faz retesar.

Num baque muito forte, a porta se abre e logo consigo ver sua silhueta, tão ameaçadora quanto aquela sexta-feira. Tento gritar, mas a voz me falha. Quanto mais tento, mais sinto um nó na minha garganta, me impedindo de proferir qualquer som.

Ouço sua voz, machucando meus tímpanos e me fazendo tremer. Seus olhos, tão maníacos quanto antes, aquele cheiro maldito de bebida e perfume invadindo minhas narinas. Ele vem até mim e seu sorriso brilha na penumbra. Ergue sua mão para me tocar e eu, num movimento desesperado, começo a me debater, tentando afastá-lo. Suas mãos me seguram com força pelos ombros, o que me faz, finalmente, proferir um grito de pavor e me debater mais ainda.