Interlúdio 1 - A câmara de rubi

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Interlúdio 1

Ecos do passado no presente

A câmara de rubi

 

– Esta sala de espelhos sem fim, na qual por vezes estou só, por vezes na companhia dos demais prisioneiros é meu lar. – digo para mim mesmo.

– É claro, e não podia ser diferente. – respondo melancólico e impassível.

Meu lado otimista retruca – Sinto que há uma esperança afinal. As conversas com os doutores da chamada ciência tem sido animadoras.

Minha face desiludida responde com crueldade – Não existe mais esperança. Por sorte, perdemos a noção do tempo.

– Você pode ter perdido a noção do tempo, mas eu não. Sei bem de tudo que se passou. Sei de todas as datas e aprendi com nossos sucessores sobre tudo que aconteceu depois de nossa morte.

– Isso por que você é um tolo que acredita em todas essas mentiras que eles contam. Não podemos confiar em ninguém!

– Sim, pelo menos algo com que concordar. Eu não confio em você.

– Igualmente.

– Eu confio em todos vocês meus amigos. Que tal brincarmos de pegador?

– Cale-se, seu bebê chorão!

– Não fale assim com ele, senão...

– Senão o que seu idiota? Senão você vai me torturar falando essas bobagens por quanto tempo? Mil anos? Cinco mil anos? Oitenta mil anos? Ai, que medo!

– Nos todos sabemos que nossa lucidez é coisa do passado.

– Aliás, por falar em passado... Nossa fração de historiador está cheia de si, contando toda essa história boba. Cheia de vaidades e pequenas mentiras.

– Calem-se – eu disse. EU disse – calem-se todos vocês. EU, QUILL, LHES ORDENO!

Bem, umas dez reflexões de mim mesmo obedeceram e logo sumiram de vista. Ficamos eu e meu eu cruel e desiludido, frente-a-frente.

– Acha mesmo que vou me calar? Você bem sabe quem é o verdadeiro Quill por aqui...

– Me separei de ti, de propósito, não sabia?

– Puxa! Será que pode contar alguma coisa nova? Já estou sabendo disso há mais de mil anos!

– Então sabia, que minha história vai salvar a todos nós, inclusive a você, triste e amargurada porção de mim.

– Você é tão chato! Antes ter sucumbido aos fogos e torturas do inferno que enfrentar a eternidade preso aqui com você.

– Cada parte nossa tem o inferno que merece.

– Estou curioso. O que lhes contará agora? Mais feitos heróicos, hã? – meu eu cruel, também era muito cínico e sarcástico. – Oh, por favor, conte-me mais, oh poderoso e belo Quill, único salvador do universo!

 – Sei que está interessado na história, embora não admita. Pois verá... Esta história será nossa salvação.

Quill - O Exterminador de DemôniosWhere stories live. Discover now