Capítulo 3

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Ele abriu os olhos. Sentiu um desconforto muito grande nos braços e pernas. A superfície rugosa da caverna incomodava sua pele.

Ao se dar conta de que não estava mais em seu quarto, ele levantou-se num súbito. Sentiu muitas coisas: euforia, pavor, surpresa, aflição. Ele havia mesmo sido transportado para outra dimensão. Descartou a hipótese de que talvez tivesse tido uma amnésia ou perda de memória. Pois o ar que circulava ali não lhe era comum. Aliás, sentia um frio cortante.

Ficou, por alguns minutos, entre o imóvel e o recolhimento de seus braços para aquecer a si próprio. Começava a achar que ir para um novo mundo talvez não tivesse sido uma boa ideia. Enquanto se via desorientado, com medo e incapaz de prever o que encontraria pela frente, algo lhe chamava a atenção: uma luz azulada que vinha do interior da caverna (cuja fonte era impossível de enxergar a distância), seguida de um som que parecia um sinal, só que quase inaudível.

Ele não queria ver o que tinha lá dentro, pois temia o pior. Mas sair da caverna também era um perigo, e pensou que talvez a origem da luz o conduzisse a uma saída melhor, talvez até uma volta para casa?

Só depois de cinco minutos ele se moveu. Deu um passo, hesitou e berrou:

"ALGUÉM AÍ?"

Deu outro passo, apoiando uma das mãos na parede da caverna, que era estreita.

"ALGUÉM AÍ? ESTOU PERDIDO, ALGUÉM ME AJUDA!"

Nenhuma resposta. Voltou a estar aflito. Lembrou de umas palavras que ouvira em seu sonho. Mas era só um sonho.

"ALGUÉM? SOCORRO!"

Segurou enormemente o desejo de chorar. Havia se arrependido de ter aceitado o pingente, que já não se encontrava em posse sua. E se arrependera de não ter respeitado o valor das lendas, dos contos de fadas, e de outras fábulas que um dia desprezara.

"Se estou aqui, foi porque não dei ouvidos a palavras escritas a centenas de anos atrás, por pessoas com sabedoria ímpar. Eu subestimei o valor dessas palavras. Elas se tornaram reais. Eu achava que tinha o domínio sobre elas. Agora elas que tem o domínio sobre mim..."

Engoliu uma pesada saliva. Apesar do receio, caminhava instintivamente, atraído pela luz. Até porque, quanto mais se aproximava, mais calor emanado pela luz sentia. Natural que se guiasse até lá.

O caminho não era reto. Teve que se esgueirar entre paredes, para ter acesso a um lado melhor. Só depois de algumas curvas ele sentiu a intensidade da luz aumentar. E, chegando na última curva, alcançou a sua fonte!

A luz era tão forte que mal conseguia enxergar! E um vento soprava entre a fonte, levantando uma tímida poeira.

A fonte se erguia... levitando suavemente.

Ele ainda não conseguia enxergar bem a fonte... mas, numa rápida piscada, notou que havia uma forma de dorso. E outra olhada rápida detectou a forma de uma armadura!

Uma armadura... de cavalheiro? Talvez, mas não como daqueles cavaleiros da idade média. Era algo mais... moderno, sofisticado. Algo que na verdade mesclava a elegância de uma armadura da idade média com o rigor de uma máquina de combate.

De repente, a luz foi se enfraquecendo... até que já não inundasse a caverna com seu azul esplendoroso, mas que se recolhia tão somente a verter-se como cobertura da armadura. E não tardou muito para que a luz desvanecesse completamente da armadura.

No final das contas, a armadura não era tão azul assim... na verdade era roxa. Ou púrpura. Ou entre roxa e púrpura, melhor assim. Era de um tom muito parecido com o tom do pingente do tio Anderson.

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