Capítulo 1

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Todos os dias eram a mesma coisa.

Todos os dias.

(...)

Ele abriu a janela do quarto. Um sol magnífico irradiava sua luz e aquecia seu corpo. O quarto parecia mais vivo e bem apresentado com o brilho da manhã, disfarçando a bagunça dos livros espalhados no piso de madeira e as roupas largadas na cama.

O computador permanecia ligado 10 horas por dia. Para ele, isso é natural. 

Seu quarto era pequeno, de cor azul opaco. A cor da janela era branca. Ele não tinha escolhido as pinturas. Tinha outras preferências. Achava tudo aquilo bonito demais. Não combinava com o seu humor.

A mãe o chamava para o café, no primeiro andar da casa.

Ele desceu, e no instante em que entrou na cozinha percebeu que havia visitas. Seu tio Anderson e seu primo Montanha (carinhoso apelido).

- Ainda come panquecas depois do que o médico lhe disse, Renê? - perguntou o tio Anderson.

- Há coisas que não são cortáveis. Pelo menos, será assim comigo até eu aguentar. - respondeu a mãe dele.

- Você quem manda. E como ele está? Ah, olha ele aí! Ainda tá de pijama, garoto? Não tem compromisso na faculdade hoje?

- Bom dia mãe, tio, Montanha. Infelizmente tenho, mas estou atrasado.

- Não dormiu a noite toda. Ficou jogando online, como sempre. - respondeu Renê. - Ele fica trancafiado naquele quarto e não sai pra passear, ver o mundo, conhecer garotas. Eu ficaria tranquila se ele estivesse estudando, mas essa preguiça dele de ir a faculdade me preocupa, Anderson.

- Também te amo, mãe. - Ele respondeu, mastigando um pedaço de cream cracker na boca enquanto pegava o leite.

- Coisa de jovem, irmã. Coisa de jovem! Tenho certeza de que ele vai... Montanha, o que está fazendo? Desça já daí!

Montanha brincava entre o vão da escada. Tinha achado ali mesmo um dos livros de seu primo. Chamava-se "contos de Hans Cristian Andersen". Correu, apressado, não para obedecer a seu tio, mas para indagar seu primo de uma certa coisa...

- Esse livro é bom?

Ele ficou meio surpreso com a pergunta, sem nenhuma razão aparente.

- Eu acho que... Bah, são contos-de-fadas. Bobagens. Quer dizer, talvez para sua idade eles sirvam. Mas para mim não. Esses tempos já acabaram. Pode ficar com ele, se quiser.

Renê entrou no assunto.

- Qual livro?

- É de contos de fadas! - respondeu Montanha.

Renê fez pouco caso. Estava mais preocupada em cortar os vegetais no tamanho certo do que pensar em contos de fadas. Ela é daquelas mães que fazem o almoço bem cedo!

- Vai emprestar o livro pra ele, filho? - disse, sem tirar os olhos da cenoura.

- Sim. Posso doar também. Não me importar.

- Doar? Mas faz parte da sua coleção, não?! - disse Renê, num tom meio tristonho.

- É uma coleção de 12 anos, mãe. Não tem mais sentido pra mim. Já passou. Eu sou grandinho agora. E faço coisas de gente grande. É o que eu tenho que fazer. Não tenho tempo para ler historinhas que não mudam em nada o meu dia-a-dia. Esse livro deve ficar com alguém que precisa, como o Montanha.

Tio Anderson, que saboreava um petisco, nada dizia. Mas estava atento a conversa.

Fez-se uns dez segundos de silêncio. Ele rompeu:

Nupi - A aventuraDonde viven las historias. Descúbrelo ahora