Prólogo

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Maya...

Na mitologia greco/romana Maya é a deusa da Primavera, da fertilidade, da terra e do renascimento. Era ela quem dava vida às plantas e fazia as flores desabrocharem após o inverno.

***

Nove anos antes...

Eu me olhava no espelho e adimirava o meu reflexo. 

Estava me sentindo linda. Mas não simplesmente fisicamente. A beleza vinha de dentro. Era a felicicidade que brilhava nos meus olhos e estava prestes a explodir do meu ser. Olhei o lindo anel em meu dedo anelar direito e meu sorriso escapou. Eu não parava de sorrir. Eu simplesmente não conseguia evitar que meus lábios repuxassem num sorriso a todo momento. Era quase que incontrolável.

Eu e meu noivo nos amávamos. Sim, meu noivo, meu amor, meu Arthur. Isso era incontestável. Terminei meu primeiro ano do curso de medicina com notas altíssimas, sendo a primeira da classe. Arthur estava de saída, a residência tinha sido perfeita e ele se formaria de forma louvável. 

Meu sorriso se desfez ao lembrar de Valerio Petrucelli. O pai de Arthur e também médico, estava exultante com o filho recém-formado. Ele era a terceira geração de médicos da honorável família. No início do nosso namoro, quando o Arthur me apresentou a ele como sua namorada, vi em seus olhos que ele não aprovava a menina vinda do interior, que não tinha nome e muito menos um tostão no bolso. Mas agora que estávamos noivos, a sua ojeriza por mim se tornou mais explícita.

Arthur me escolheu. Mas eu não ficava feliz com essa situação. Meu amor tinha perdido a mãe para um aneurisma cerebral, ele só tinha o pai e eu não queria que eles rompessem a relação.

Eu amo o Arthur mais que tudo nessa vida. Olhei novamente para meu anel de noivado e lembrei do dia em que Arthur pediu que me casasse com ele e o fizesse o homem mais feliz da face da Terra. Eu disse sim e estava disposta a tudo por ele. Eu amo o Arthur como sempre sonhei que seria quando entregasse meu coração ao homem da minha vida. E, definitivamente, Arthur é  o homem da minha vida. 

Olho de novo para meu reflexo no espelho. O vestido preto que o tio Nikko me ajudara a comprar é lindo. Sorrio ao olhar minhas sandálias pretas também e de saltos bem altos e finos. Arthur adora quando uso salto alto. Coro ao lembrar das várias vezes que fizemos amor e ele quis que eu continuasse de saltos. Minha maquiagem é leve, mas quis colocar em meus lábios batom vermelho. Era ousado, mas eu estava adorando. Sorrio da minha bobagem. Acho que a felicidade é assim mesmo, a gente ri até se uma brisa suave passa.

Pego meu celular e checo a hora. Ainda faltam  37 minutos para a hora que Arthur disse que viria me buscar. Eu estava tão ansiosa que uma hora antes já estava pronta. Iríamos sair pra jantar e comemorar a formatura do meu amor. A campainha toca e vou atender, feliz, desejando me jogar nos braços do meu amado. Mas meu sorriso morre quando me deparo com o poderoso Valerio Petrucelli, pai de Arthur. Fico estarrecida com sua figura imponente em minha porta.

- Posso entrar, mocinha? - ele fala impaciente com o meu torpor.

- Claro. - digo tentando não parecer apavorada com aquela visita e abro caminho para ele entrar.

Ele olha ao redor e faz cara de nojo, como se tivesse sentindo um cheiro desagradável.

- O Arthur não está aqui. - digo um tanto reticente.

- Não vim procurar meu filho. Vim atrás de você.

Fico em silêncio. Esperando a bomba que ele jogará em mim. Sim, porque sei que não é coisa boa vindo de Valerio Petrucelli.

- Maya, não é? - assinto. - Bom, Maya, você há de convir que você não é apropriada para o meu filho. - abro a boca, mas ele, num gesto com a mão, me faz parar. - Meu filho tem um futuro brilhante pela frente e você... - olhou-me com desprezo. - Bem, você é apenas uma menina que passou na faculdade de medicina, o que é louvável para alguém como você. Mas você não tem nome. Sua família seria engolida pela de Arthur caso continue com essa história de casamento com ele. Eu posso até ver o seu futuro, minha filha. Será uma medicazinha sem nenhum prestígio, que vai ganhar o seu pão em empreguinho do estado. É isso que gente pobre quer, não é mesmo? Passar num concurso?

- O senhor está me ofendendo em minha própria casa e eu...

- Casa? - interrompeu-me, sorrindo em escárnio. - Isso que você chama de casa é do tamanho do quarto do meu filho. - disse, humilhando-me. - Você não é para o meu filho, Maya. Então, desista dele agora antes que seja tarde pra você. Ou você acha que meu filho, sendo quem é, vai perder muito tempo com você? Logo logo ele se cansará da brincadeirinha que está tendo com você e vai te deixar. E quando isso acontecer... Ah, pobrezinha, você vai sofrer tanto. - fingiu cara de pena. - Então, vamos acelerar o futuro óbvio. Quanto você quer pra sair da vida dele agora mesmo?

Eu estava indignada. Ultrajada. Eu queria gritar e falar uns mil palavrões para aquele homem. Mas eu não podia. Ele é pai do homem que eu amo, então pelo Arthur eu tinha obrigação de respeitá-lo.

- Acho melhor o senhor ir embora da minha casa. - disse  firme, embora abalada com as palavras dele.

- Pense bem, Maya. - permaneceu no mesmo lugar. - Eu poderia lhe dar um bom dinheiro. Eu sei que você trabalha pra poder estudar. Eu a ajudaria com todo o custo que você tiver durante os seus estudos.

- Saia. - disse a ele, contundente.

- Escute o que estou dizendo, você se arrependerá se não aceitar minha oferta.

- Eu nunca me arrependerei de lutar pelo meu amor. - ele gargalhou.

Eu não estava mais disposta a aturar aquele homem arrogante e prepotente. Um verdadeiro déspota. Mesmo ele sendo pai do Arthur.

- Você é uma tola. - foi em direção a porta.

- Pode engolir o seu dinheiro. Eu serei uma médica brilhante e de extremo prestígio, dr Petrucelli, escreva o que estou lhe dizendo.

- Não há nada pior que um pobre orgulhoso. - riu em desprezo, mas eu continuava altiva, apesar de querer desmoronar. - Eu farei de tudo para meu filho nunca mais pôr os pés aqui.

Disse isso e saiu. Naquele momento eu desabei em lágrimas. Me senti tão diminuída. Senti tanto nojo daquele tirano.

 Mas numa coisa ele estava certo, depois daquele dia, nunca mais os pés de Arthur Petrucelli pisaram no meu pequeno apartamento.

Eu odeio meu ex-noivo (finalizado)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora