Capítulo 1

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- Mas tia Malu, porque a Elsa ficava escondida no quarto? Ela é tão bonita.

- Porque ela tinha medo de machucar a Ana de novo, Nina. E também porque ela se preocupava com o que as pessoas iam falar dela. Às vezes, nós nos escondemos por medo das pessoas não nos aceitarem como verdadeiramente somos.

- Mas temos que amar a todos, não é tia Malu? Mesmo se a outra pessoa for diferente da gente.

- Sim, Enzo. Temos que aprender a ouvir as pessoas ao nosso redor, entender as suas limitações e aceitá-las com muito amor. Principalmente se forem diferentes de nós.

- E dar abraços quentinhos, igual ao Olaf.

- Isso mesmo, Valentina. As vezes tudo o que o nosso amiguinho precisa é de um abraço quentinho para se sentir aceito. Hora de abraços quentinhos, vamos, todo mundo!

Todos se levantam de suas almofadas no chão e começam a se abraçar. A Sala de Histórias vira uma algazarra e as risadas das crianças ecoam. Uma risada em conjunto, um momento tão especial em que a pureza delas é maior do que qualquer preconceito. Meu coração quase explode quando elas vêm na minha direção e me jogam no chão, me cobrindo de beijos e abraços. É nessas horas que eu tenho certeza de que nasci para ser professora.

Ouço uma batida na porta e é a Diretora Monique. Ela fica parada na entrada da sala me observando com os braços cruzados, mas um sorriso descansa em seus lábios. Eu faço o melhor que posso para convencer as crianças a me liberarem e levanto para falar com Monique, que além de dona da escola e minha chefe, é uma amiga de longa data.

Quando me aproximo dela o seu sorriso some e sei que algo ruim está por vir.

- Crianças, arrumem as almofadas e os livros no lugar. Eu já volto.

Monique coloca uma mão em meu braço e me guia até o corredor. Quando estamos a sós ela me olha bem no fundo dos meus olhos, como se pedisse por socorro e começa a falar.

- Lu, eu preciso da sua ajuda.

- O que aconteceu?

- Ainda nada, mas está prestes a acontecer.

- Ok, desembucha então.

- Vincenzo Bellini está aqui.

- Quem?

- Da Giorgio & Bellini TeleCom. - Continuo encarando-a sem fazer ideia sobre quem ela está falando. - Ele é só um dos homens mais ricos desse país, quiçá do mundo.

- Tá, e o que ele está fazendo aqui?

- Ele quer matricular o filho.

- E por que você está tão desesperada? É só uma criança.

- Você não está entendendo, Lu. Ele tem 5 anos e tem Síndrome de Asperger. Eu sei que ele deveria ser colocado na pré-escola, mas eu não posso alojar esse menino na turma da Vivian. Ela simplesmente enlouqueceria. Você é a única nessa escola que tem capacidade para lidar com um aluno com essas limitações.

- Mas Monique, como eu vou receber esse menino no primeiro ano? Ainda mais no meio do ano letivo? Se fosse no começo, eu teria um ano inteiro para trabalhar com o menino, mas eu não vou poder passá-lo para o segundo ano assim. Mesmo que ele tenha uma boa base de outras escolas, ele não vai acompanhar a turma.

- Lu, o pai dele já processou três escolas por não terem dado o suporte necessário ao menino. TRÊS ESCOLAS. Toda criança tem direito a educação e a escola deve oferecer a ela os recursos necessários para o aprendizado. Mas você já sabe disso, porque você é a única aqui que se preparou para receber alunos especiais.

Deixe-me Tentar [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now