— Não, eu vou contar. Só preciso assimilar tudo. — o ex-capitão do Hill Legion, maior rival do outro, responde descrente.

Eu assisto os dois. Os dois que se conheceram pelas perdas, os dois que se unem por elas novamente. É bonito e triste de ver. A Brittainy segura a minha mão, e eu encosto a cabeça no ombro dela.

— Posso te contar um segredo sem relação com o que está acontecendo? — pergunta baixinho.

Levanto a cabeça o suficiente para ouvir.

— Eu acho que sei onde a Lindsay está. — confessa. — Ela disse uma vez que os pais dela são do Maine e iam voltar para lá, já que ela ia para a faculdade. Sei que este é o pior momento pra me dar conta disso, mas veio na minha cabeça.

Lembro que ela falou algo assim, mas não liguei os pontos. Aliviada por uma notícia boa, comento com a garota:

— Não se importe com o momento, todos precisamos respirar um pouco fora da dor. Eu sei onde é a casa dos pais dela. Fiquei lá uma vez por causa de uma conexão para Quebec. Podemos fazer uma surpresa algum dia.

— Você acha que ela gostaria? — pergunta tensa. — Eu vi ela saindo da casa, parecia furiosa demais para o próprio bem.

Aperto a mão dela, pensando nisso.

— Sim, ela gostaria. Está irritada com o Victor, não conosco. E se ela teve um bebê mesmo, alguns presentes podem ajudar. Você já viu o preço da fralda? — brinco para descontrair um pouco.

Mais tranquila com a minha palavra, ela volta para perto do Zack e eu converso com a Heaven sobre as últimas leituras dela, outro assunto para me distrair, já que o Peter foi falar com a Gwen. A garota me dá recomendação de duas séries, uma cujo uma garota entra numa floresta e acaba em uma casa onde todos usam máscaras e magia, que despertou a minha curiosidade e outra sobre uma guerreira, nas palavras da Heaven, que é cotada para ser a Campeã do Rei e precisa vencer desafios para ganhar o título.

— Eu acabei de ler o último desta série, vale muito a pena, acredite em mim.

— Ah, eu acredito, você sabe que sim. Já vou olhar uma estante para ter no Massachusetts.

Curiosa, ela pergunta:

— Você tem uma casa lá? Ou vai alugar algo?

Minha boa condição financeira nunca foi escondida dos meus amigos, afinal eles iam às minhas festas de aniversário. Só que isso não impede a estranheza de admitir que minha família tem uma casa em Boston.

— Pela proximidade com o Canadá, onde eu passava as férias aprendendo francês. — explico.

— Sim, eu me lembro. As férias que passamos lá foram muito esquisitas, eu tinha acabado de chegar de casa, então minha cabeça estava em português, o Zack e o Tim estavam falando inglês e você francês. Faltou o Peter falando alemão pra eu enlouquecer lá. — brinca.

— Faltou eu onde? — o mesmo pergunta atrás de mim, os olhos meio inchados e a Gwen dormindo no ombro.

— Na casa de inverno, em Boston, dois anos atrás. Onde vamos morar pelos próximos anos. Você quer ir embora? — questiono ao ver o estado completo dele. Ah amour, tanto sofrimento que não lhe é merecido!

Ele nega, alegando que estar no meio de mais gente faz bem. A Heaven abraça ele de lado quanto senta.

— Você já contou pra Noelle que tentou me afogar quando eu tinha uma semana de vida? — Ela cutuca ele.

— Inferno, eu não tenho culpa se não sabia segurar você. Eu tinha cinco anos. A Gwen tem cinco anos e pega as bonecas pelos cabelos. Pelo menos eu não te peguei pelos cabelos. — rebate.

Rindo deles, vejo o sorriso da minha mãe ao me ver feliz. Sorrio de volta pra ela, mais que grata por ela ter me ensinado que família é quem te ama e te apoia nos melhores e piores momentos. Graças a isso sei que tenho mais de uma família, e ter quase todos que considero parte aqui reunidos hoje... é a ação mais graciosa que eu poderia receber.

Recebo uma mensagem inesperada, uma foto da Lindsay com o filho dela, o que me faz querer chorar, gritar, pular... mas opto pela reação mais comum e só mando uma mensagem em resposta mesmo. O Will vê a foto e pede pra ver de perto.

— Eu ia falar com quem o bebê se parece, mas acho que é melhor não.

— É a cara de uma das bonecas da Gwen. — a Heaven ameniza a minha reação a fala do namorado, sabendo que sei bem quem é. — Aquela de cabelo azul.

Enquanto o meu celular roda pelas mãos das pessoas na mesa, que fazem comentários similares sobre a criança, já que ele tem mesmo a cara do pai e é o que todos veem, eu agradeço pela saúde da minha amiga. Quando o celular me é devolvido, mando uma mensagem dizendo que sinto a falta dela. Ela responde dizendo que também sente a minha falta, e que vai me visitar em Boston, desde que eu não diga ao Victor sobre isso.

Mais animada que nunca, agradeço aos céus também pelas amizades que não são destruídas pelos erros alheios.

"Eu te amo Noelle, obrigada por tudo, inclusive por ser uma das únicas da escola a falar comigo depois que terminei com o Zack, tantos anos atrás. Vou fazer o seu nome ser uma das primeiras palavras do bebê. Diga a Brittainy e a Heaven que os delas também serão."

Aperto o celular contra o peito, controlando o tamanho do meu sorriso. Nunca tive tantas coisas para agradecer na Ação de Graças, principalmente uma que começou tão mal, e uma amizade tão intensa e verdadeira é a primeira vez. Um amor tão grande e incrível também é. Uma família gigante e amoras... bem, nunca achei ruim o tamanho reduzido da minha família, mas uma família gigante e amorosa como todos aqui presentes e mais minha amiga e o filho dela é a primeira vez. E eu posso muito bem ficar mal-acostumada sem me preocupar em ser excluída, como fui pela minha progenitora. Encosto a cabeça no ombro do Peter, e ele afaga meu cabelo, ainda conversando com o Zack, e fecho os olhos.

— Tá tudo bem, gata? — um sotaque alemão sussurra no meu ouvido.

— Melhor impossível.

Ele sorri, feliz por mim, e é um sorriso verdadeiro, ainda que pequeno, que contraria o que eu disse e melhora tudo ainda mais.

— Me desculpa por estar feliz hoje. — digo.

— Não diga isso. Felicidade sempre é bem-vinda, e eu nunca vou reclamar disso. Me deixa feliz ver você feliz, mesmo que eu achasse que não poderia ficar feliz hoje. Isso é o quanto você é incrível.

Me sinto tão bem ouvindo isso que só tenho uma certeza: O impossível é sempre possível quando há amor envolvido.

Je t'aime. — digo no pescoço dele.

Ich liebe dich.

Me faz sorrir de uma maneira muito inapropriada me dar conta do quanto o amor é universal, e pode ser percebido em uma frase em uma língua desconhecida. Também me deixa aliviada saber que ele tem este meu amor para ser a âncora dele neste momento horrível. E me faz sentir um pouco egoísta ficar feliz por ter o dele de volta, mas não me importo muito com este último. A gente sempre é um pouco egoísta, querendo ou não, e se é pra ser, que seja com coisas que não prejudicam a gente.

E o amor nunca prejudica ninguém.

<3

Provocando Amor - Série Endzone - Livro 4Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora