"Eu vou e volto rapidinho." Beijo seu rosto cansado e faço o mesmo com o papai. Ambos estão deitados abraçadinhos na cama como o casal unido e apaixonado que são. Um é o alicerce do outro e não há nesse mundo quem seja capaz de destruir o amor deles.

"Divirta-se e não solte a mão do Gabriel. Não quero buscar meu raio de sol no hospital com algum osso quebrado." Só não respondo a provocação de mamãe por causa da sombra de seu sorriso, que é melhor que nada. "Não esquece do casaco."

"E não exagere no sorvete." Falo antes que papai o diga, pois passei a vida toda ouvindo isso. "Eu amo vocês."

"Também te amamos e não corra na escada."

Por não ouvir o conselho de papai quase escorrego no último degrau da escada e por pouco não caio de bunda no chão. É nisso que dá não escutar os pais já que eles sempre têm razão.

Aceno para meus irmãos e primos esparramados no tapete da sala e quase paro para tirar uma foto de Alicia sentada no sofá de mãos dadas com Isaac, mas escuto o som da buzina do carro de Gabriel. Ao abrir a porta de casa, o vento frio me atinge e aperto mais o casaco tentando me proteger. Agradeço ao entrar no carro quentinho e por mim não sairia nunca daqui.

"Acho que no lugar do sorvete eu vou querer chocolate quente e uma torta de limão." Retiro meu par de luvas brancas de dentro da bolsa e as balanço ao ritmo da música melancólica de Adele.

"Boa noite para você também. Meu dia foi bastante corrido, mas estou bem. Obrigado por perguntar." Eu já disse que detesto esse humor ácido do Gabriel? E ele diz tudo com um sorriso para amenizar o impacto de suas palavras, com tantas qualidades para herdar do pai tinha que ser logo a cara de pau.

"Esse rostinho bonito é só para enganar as garotas. Se te conhecessem tão bem quanto eu, elas sairiam correndo quando te vissem." Troco a estação da rádio, mas em todas a voz de Adele impera. "Será que estão todos sofrendo por um amor impossível? Cadê Paramore, Coldplay, Michael Jackson? Não que eu não goste da Adele, só quando estou meio deprimida, de TPM, ou sei lá. Quando eu quero chorar é só colocar a música do Jack e da Rose egoísta. Daria para os dois ficarem em cima daquela tábua."

"Ela não suportaria o peso dos dois, por isso Jack preferiu morrer e deixar a amada viva. Foi o que você disse na nonagésima vez que assistimos aquele longo drama." Ele reclama, mas todas às vezes assiste comigo até o final e sempre tem uma nova visão sobre o filme. Só não o chamo para assistir a nenhum filme baseado nos livros de Nicholas Sparks porque Gabriel detesta a mania que o tio Nick tem de matar um dos protagonistas. Ele meteu na cabeça que o autor sofreu algum tipo sério de desilusão amorosa ou perdeu algum amor e até hoje não superou. Já eu não acho é nada porque sou curiosa por natureza e não quero endoidar por ficar pensando nesse tipo de coisa. "Como estão as coisas na sua casa?"

"Estão indo. Meus primos estão lá com os meninos, mamãe e papai no quarto. Ela não saiu de lá o dia todo. Está tão triste que me dá vontade de chorar." A mão quente de Gabriel aperta a minha levemente antes de voltar a dirigir com bastante cuidado por causa da estrada escorregadia dos poucos flocos de neve que caem lá fora. "Acha que sou idiota por ser tão sensível, por não saber lidar com a morte logo eu que trabalho em um hospital e já presenciei casos que gelam até a alma?"

Gabriel para o carro próximo a uma calçada em frente à uma residência e se vira no carro para me olhar. Ele tem um ar calmo e um sorriso acolhedor que aquecem o meu peito, principalmente quando leva a mão até meu rosto e acaricia minha bochecha direita, como fazia quando éramos crianças e eu chorava quando os meninos do colégio não me deixavam jogar bola com eles, ou as meninas ficavam me chamando de machinho porquê eu só andava com Jeremy e Gabriel na escola.

Série Corações Feridos: Não me esqueça (Vol. 4) ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora