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O resto da semana para a morena, foi simples, cumprindo apenas a rotina do custume. Chegar a casa às tantas da noite devido às longas limpezas no restaurante, fazer o jantar, realizar a higiene pessoal, dormir e retomar o trabalho.

Sem ter energia nem tempo para qualquer outra atividade, os seus dias eram monótonos e repetitivos dando uma sensação de que tempo não passava para a rapariga de Évora.

No entanto, num dia à noite, durante a última semana, recebe uma chamada do pai algo que, por si só, nunca é razão de festejo já que os dois indivíduos não conseguem manter uma conversa civilizada.

Naquele dia, não foi exceção.

— Então, a grande cidade do Porto já mostrou à minha rica filha que a carreira de cozinheira não é para ela e que devia continuar os estudos de medicina? — a voz convencida e esperançosa do pai de Vi é a primeira coisa que lhe chega aos ouvidos o que faz com que o cansaço após um longo dia de trabalho se transformasse em irritação.

— Lamento informar o pai que a minha decisão já se encontra tomada definitivamente desde à seis meses. A sua rica filha vai seguir o seu sonho e não uma carreira onde só o dinheiro ganho importa. — a irritação é perfeitamente ouvida pelo pai, que faz com que ele solte um gemido de frustração ao mesmo tempo que a ruiva se senta no sofá.

— Já te disse que a carreira de cozinheira que tanto queres não te vai proporcionar as mesmas oportunidades que a medicina. Além de que destrói toda uma geração de excelentes médicos da família Vaz. — e assim, o sermão que já é repetido semanalmente desde a sua mudança para o Porto recomeça.

— A mãe não se importa que siga culinária, ao contrário do pai. Questiono-me sobre quem realmente se encontra no bem estar da filha.

— Não te atrevas a dizer que não coloco o teu bem estar acima de tudo e de todos Violeta Alexandre Vaz! Todas as conversas que tenho tido contigo nos últimos meses são sobre o teu bem estar! — a fúria na voz do pai é palpável, no entanto não retém Violeta de dizer realmente o que sente após meses e meses de pressão psicológica.

— O pai só quer saber do meu bem estar financeiro, não do de espírito! — a rapariga aumenta o tom de voz interrompendo o início de mais uma leva do novo Sermão de Santo António aos Peixes. — É apenas isso que lhe interessa! Todo a vida foi assim, apenas lhe interessava quem exercia medicina ou altos cargos e quem lhe daria mais retorno financeiro! Fico entristecida por não ter os mesmos interesses do pai e sermos a família feliz que sempre tentou demonstrar para os de fora, acredite. — o ambiente fica pesado e silencioso. A rapariga sabe que foi demasiado dura com o pai, contudo não consegue sentir remorsos com o que acabara de sair pelos seus lábios. Como poderia se vem da alma?

— Se não se importa, vou desligar. A conversa não vai muito longe e o meu dia de trabalho foi muito cansativo, embora o pai não queira saber disso. Boa noite. Mande beijinhos à mãe por mim. — e, dessa maneira, mais uma conversa com o médico acaba, ficando psicologicamente exausta.

O dia seguinte a essa conversa telefónica, a tão desejada sexta feira, não lhe correu bem.

Embora tivesse chegado cedo relativamente à sua hora de entrada, ao contrário de dias passados, Violeta não tinha feito outra coisa senão asneira. Durante as várias repetições de lavar a cozinha, já tinha partido várias loiças, as suas ações não se encontravam rápidas o suficiente para a fluência de movimento provocando comentários desagradáveis por parte de colegas e, ainda pior, do seu chefe.

— O quê que se passou para estares assim? — Andreia perguntou quando faltavam três horas para o turno de ambas terminar. Felizmente hoje saiam ambas antes da hora do jantar começar.

— Queres ir a uma esplanada tomar um café ou umas bebidas quando sairmos? — a loura perguntou para alívio da rapariga na lua, já que esta aceitou necessitando de sair da rotina e desabafar sobre a conversa de ontem.

A rapariga ruiva não poderia estar mais aliviada quando colocava o avental dobrado no seu cacifo. O turno acabou e a onda de azar da rapariga não poderia fazer mais estragos... Bem, pelo menos no seu local de trabalho.

Assim, entrelaça o seu braço no braço contrário de Andreia e ambas deslocam-se até ao carro de cada uma que irão utilizar para irem, juntamente, ao centro do Porto, mais concretamente a uma esplanada junto ao rio.

Ao chegarem pedem as bebidas desejadas e Violeta começa a contar toda a sua conversa com o pai na noite passada. As sobrancelhas encolhidas de Andreia dão-lhe razão por se encontrar tão perdida nos seus pensamentos durante o turno e também a garantia que toda aquela situação era demasiado "fodida", palavra da loira.

— Realmente o teu pai já andava a precisar de um abre olhos. Quem é que ele pensa que é para te obrigar a desistir do teu sonho? — a voz de Dy encontraase uma oitava acima que o normal sendo o único motivo que desperta uma gargalhada a Violeta.

— O melhor médico do país vindo de uma linhagem de grandes médicos que fizerem descobertas enormes no seu tempo...

— Sabes o quê que o teu pai podia fazer com toda essa informação? — a cara interrogativa da morena é suficiente para Andreia continuar. — Enfia-la no caralho!

— Andreia!

— Peço desculpa, mas as minhas raízes minhotas não sabem mais o que fazer com o teu pai senão isso...

Ambas as raparigas entram em riso sendo o começo perfeito para o entrelaçar outros temas maus leves e sorridentes. Contudo esse ambiente é mais uma vez deitado ao lixo, quando uma mensagem é recebida.





6 de Abril, 16h22
Afonso (?)
Mensagem multimédia

"Gostava de dizer que o teu sorriso envergonhado era para mim

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"Gostava de dizer que o teu sorriso envergonhado era para mim..."

Cookie Girl || André SilvaWhere stories live. Discover now