— Vem, moço, vou te mostrar meu quarto, que a minha mãe fez, lá podemos imaginar de tudo — disse puxando a mão dele animada.

Na verdade, o quarto dela tem uma cama simples de solteiro e uma pequena cômoda usada, que comprei no brechó. O resto é imaginação. Não tinha boas condições para dar um quarto cheio de brinquedos para minha bebê, sempre dizia a ela para imaginar e quem sabe um dia, poderíamos ter tudo o que desejássemos.

Malú ia levando Miguel para o quarto, eu a barrei no meio do caminho.

— Não, não, mocinha. Olha como ele está todo sujo, precisa urgentemente de um banho.

O guiei até o corredor dos quartos e lhe entreguei uma toalha, uma camisa e um short masculino que eu tinha guardado para meu uso. São meio gastos porque são roupas que eu uso para ficar em casa. Porém, estão em melhores condições do que as que ele usa neste momento.

Peguei uma toalha limpa, escova de dente e sabonete para a sua higiene e ele apenas assentia, nunca olhando nos meus olhos, aceitava tudo calado como se estivesse com vergonha.

Minha casa era simples, dois quartos e uma sala-cozinha. Bem pequena, mas aconchegante e o melhor de tudo, minha.

Estava preparando a janta, um macarrão com molho e frango, que minha pequena ama, quando Miguel sai do banheiro visivelmente mais limpo. Notei também alguns machucados em seu rosto.

— Está melhor?

— Sim, obrigado. Agora posso voltar para a rua.

— Não. Estou terminando a janta. Se você se sentir bem, tem o quarto da minha filha. Ela não dorme lá, está livre.

— Não quero abusar de sua boa vontade — respondeu meio desconfortável.

— Não é abuso.

Coloquei os pratos no balcão que era a divisa com a sala e chamei Malú para vir jantar.

Miguel estava silencioso, não abria a boca para falar um "a", enquanto minha pequena espoleta lhe contava acontecimentos de seu mundo imaginário. Ele estava atento a tudo.

Comemos ouvindo sobre uma joaninha que era preguiçosa e que se deu mal quando o elefante quis tomar banho.

Malú é uma criança maravilhosa, se adapta a qualquer situação e não precisa muito para agradá-la. Eu me sinto orgulhosa da sua criação.

Eu sei que é loucura minha colocar um estranho dentro de casa, tendo uma filha pequena, ainda mais na cidade de São Paulo, onde você encontra um doido a cada esquina, mas eu vi o medo em sua expressão, parecia tão perturbado de alma.

O seu desespero quando me pediu ajuda e o fato de que ele não olha nos olhos das pessoas, por medo, me partiram o coração.

Eu vou arrumar a cama da Malú para que durma lá, mesmo que ela seja aparentemente pequena para ele. Porém, acho que seja melhor do que as noites geladas na rua.

— Você pode dormir aqui. — Apontei a cama para ele.

— Eu não quero causar desconforto.

— Vai me causar desconforto se não aceitar. — Ele só assentiu.

Entrou no quarto e fechou a porta.

Eu fiz o mesmo, e mesmo que não sentisse medo por sua presença, eu tranquei a porta.

— Mamãe?

— Oi, meu amor.

— Miguel é nosso amigo?

Pensando em dar uma resposta sincera, acabei adormecendo.

Acordei no outro dia cedo, como de costume, para preparar o café da minha filha, que se encontrava atravessada na cama com as pernas na minha barriga e a cabeça no meio da cama.

AMOR FEDERAL ( DISPONÍVEL NA AMAZON)Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin