Cornualha

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O dia que se passou após a notícia que Lara se casaria com o rei da Cornualha, seguiu com todos empacotando roupas. Mary disse às filhas para não levarem nenhuma das poucas joias que lhes sobraram, que Lara seria uma rainha e ganharia muitas joias novas e poderia dar as irmãs.

— Mas mãe, não é só pelo valor, nós gostamos de algumas... — Dóris argumentou, olhando para seu único colar.

— Sua irmã mais velha lhe dará muitos outros, tenho certeza — respondeu Mary, não animando muito a caçula.

As três irmãs colocaram seus melhores vestidos, a mando de Mary, e desceram para despedir-se dos pais. Sean estava à espera.

— Sei que o senhor padre irá cuidar de vocês. O rei enviou soldados para protegê-las até lá — informou Joseph. — Vocês não vão se despedir? Vão ficar com raiva de mim para sempre? Acreditem que fiz isso para o bem de Lara e do resto da família.

— Principalmente seu bolso – retrucou Dóris. Ruby olhou para irmã a repreendendo.

— Está na hora de irem — disse Mary. — Que Deus as guardem. — Deu um beijo na testa de cada filha. — Vão logo para chegaram lá ainda hoje.

Ruby não conseguia encarar o pai depois da tapa que ele tinha lhe dado um dia antes e se sentia culpada por não conseguir sentir-se mal por estar se afastando da mãe.

Na frente da decadente mansão duas carruagens as aguardavam, escoltadas por dez soldados ingleses a cavalo. Todos com os brasões da casa real da Inglaterra, casa de Wessex. Elas e Sean entraram na da frente e a de trás levaria as bagagens.

— É isso. Despeçam-se de Londres — disse Sean.

— Será que demoraremos a voltar? — Perguntou Dóris para Ruby.

— Não sei querida — respondeu Ruby.

— Eu provavelmente demorarei mais que vocês — disse Lara. — Nem sabemos a que tipo de lugar estamos indo. E o senhor padre? Lá é terra de hereges! Como irão recebê-lo?

— Acredito que não terei problemas. O Rei Henry pode ser herege, mas burro não é. Não faria mal a um representante de Roma — respondeu Sean.

— Assim espero — disse Lara. — Não quero mais ninguém sofrendo por causa dessa loucura.

— Lara, como se sente? — Perguntou Sean.

— Amanheci mais disposta, menos enjoada.

— Menos mal — comentou ele.

Ruby olhava através da janela. Uma série de casebres amontoados e algumas casas de pedra da nobreza faziam parte da paisagem. Será que a corte do rei Henry fedia como Londres? Ela viu um grupo de meninas sujas sentadas na escada da igreja do seu bairro. Poderiam ser elas. Será que de alguma forma seus pais estariam fazendo a coisa certa?

A carruagem sacudia bastante ao chegar à estrada que levava ao oeste. Dóris encostou a cabeça no ombro de Ruby e dormiu. Lara não tirava os olhos da janela. O que ela estaria pensando? Ser entregue assim a um homem desconhecido. Não, seus pais não poderiam estar certos. Ruby olhou para a floresta e para Sean que lia a bíblia.

— Obrigada por vim conosco — disse Ruby.

— Um clérigo de Londres teria que ir. Afinal o rei Edgar quer que esse casamento una os dois reinos. Já que ele ainda não tem filhos, vocês são suas familiares mulheres mais próximas. Quando eu soube, fiz o possível para que eu fosse esse clérigo.

Entre Vidas III: Ruby (Degustação)Where stories live. Discover now