Destinos Traçados

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Ruby estava na feira com sua irmã mais nova, Dóris. Era uma manhã quente em Londres. Ela não via a hora de terminar e voltar para casa. Aquele fedor nas ruas a deixava nauseada. As duas andavam desviando dos buracos que havia no chão de barro. Comprou as frutas e ervas que sua mãe mandou, usando as poucas moedas que ela lhe entregou. Torcendo para que fosse o suficiente, Ruby chegou à última barraca.

— Preciso de alguns morangos — disse Ruby ao feirante.

— Esses estão bons? — Perguntou ele apontando para um punhado da fruta.

— Sim, estão. — Ruby contou as últimas moedas de cobre que tinha.

— Não sabia que o duque havia chegando a esse ponto. — Desdenhou o homem.

— Não é da sua conta! — Gritou Dóris. Ruby segurou o braço da irmã com força.

— Aqui estão as moedas. Obrigada — agradeceu Ruby e o homem continuava a olhar com cara feia para a menina de doze anos.

As duas seguiram para a casa com as compras que teriam que bastar para toda a semana.

— Dóris, eu já lhe disse para não falar assim com as pessoas!

— Ele quis humilhar a gente! — Defendeu-se a menina.

— Você sabe que precisamos da boa vontade dos feirantes. Nosso pai...

— Está falido, eu sei — disse Dóris desanimada.

— Se você não quer passar fome, controle-se!

Chegaram a uma casa, outrora bonita. Ficava perto do palácio do rei. Entraram e foram direto para a cozinha.

— Acho que consegui tudo — informou Ruby, colocando as compras em cima da mesa.

— Certo — disse a mulher de meia idade a sua frente. Mary lembrava muito sua casa, era óbvio que foi uma mulher muito bonita, mas estava descuidada, com os cabelos sempre presos de qualquer forma, as roupas velhas e presa àquela cozinha. O que a deixava com um péssimo humor, já que sempre tiveram criadas. Até que seu marido perdeu todas as posses, só sobrando a casa.

Joseph era um comerciante, mas desde que os vikings dominaram os principais portos de saída da Grã-Bretanha, se viu obrigado a vender todos barcos e dispensar funcionários. Com três filhas mulheres para sustentar, tudo estava cada vez mais complicado. Porém, não era só o Joseph que minguava. A Inglaterra estava falida. Sem conseguir fazer comércios com os vizinhos, ficava dependendo da saída ao mar pela Cornualha, que possuía uma monarquia própria e sempre cobraria pela utilização do seu porto. De nada servia os títulos de nobreza num país naquela situação.

Ruby foi ao quarto que dividia com as irmãs. Sua irmã um ano mais velha, estava há dias de cama com uma doença sem explicação.

— Como está se sentindo? — Perguntou Ruby.

— A minha cabeça ainda está doendo muito, mas o enjoo melhorou um pouco — Lara era uma moça de vinte e três anos. Loira, com longos cabelos cacheados e olhos azuis. Às vezes perguntavam se ela e Ruby eram gêmeas. A irmã do meio era apenas um pouco mais baixa, tinha o cabelo menos cacheados e os olhos verdes.

— Vamos tentar comer alguma coisa? — Lara acenou que não com a cabeça. — Você não comeu nada ontem! Não vai passar hoje de novo sem comer!

— Está bem...

— Vou preparar uma sopa então. — Ruby colocou as mãos na testa da irmã. Estava sem febre. — Papai disse que padre Sean vem hoje aqui lhe ver.

Entre Vidas III: Ruby (Degustação)Where stories live. Discover now