girassóis e lavanda

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Nicole Haught conseguia desfazer sua pose estratégica de pessoa mais organizada da família e nem era por muito. Geralmente, sua bagunça triplicava nas Terças e Quintas, quando seu dia começa bem mais cedo que o normal e quando também a ruiva faz de tudo para estar na soleira de sua casa às seis e trinta e cinco em ponto, muito bem uniformizada, portando o melhor sorriso possível. E hoje não foi muito diferente.

O despertador tocando Spice girls soou às cinco da manhã, ela praguejou o mundo inteiro por ter dormido tarde examinando relatórios da delegacia, tomou um extenso banho gelado para despertar de vez, vestiu a farda azul e encontrou com o monte de pelos ruivos empoleirados em seu sofá, ressonando como uma rainha.

Calamity Jane nem sequer deu-se o trabalho de levantar o olhar para fitar sua mãe, apenas ronronou baixinho quando um carinho lhe foi dado no topo da cabeça.

- Bom dia, CJ. Parece que você dormiu melhor do que eu, garota - ela solta uma risada anasalada e parte até a cozinha.

Prós de morar sozinha: você mora sozinha. Não tem irmãos te enchendo a paciência noventa e nove porcento do seu tempo.

Contras de morar sozinha: você mora sozinha! Você é a responsável de ir ao mercado, comprar o minino de sustento para as solitárias que moram em seu estômago. Às vezes Nicole esquecia-se disso e deixava tudo ao acaso. Hoje foi um desses dias.

A geladeira estava repleta de garrafas cristalinas vazias, uma caixa de morango já podre e uma maçã que logo foi pega por ela.

- Melhor isso à nada - a ruiva balbucia, mordendo um pedaço grande da maçã meio amarelada. Não tinha jeito, o café da manhã seria aquilo.

Pelo menos a comida de CJ ainda tinha no grande pote preto. Isso nunca faltava, e era fato. Calamity era totalmente vingativa, Nicole não queria morrer pelas patas de uma gata raivosa por estar com fome. Por isso, colocou uma grande quantidade da ração no pratinho azul, colocou mais água no outro recipiente e fitou o relógio na parede.

Seis e trinta e três.

Ouviu um barulho longe, porém claro, e arregalou levemente os olhos, jogando o resto da maçã no lixo e recolhendo suas coisas com uma pressa incalculável, fazendo CJ assanhar os pelos pelo susto.

- Volto em algumas horas, CJ. Vê se não come minhas plantas, por favor - e fecha a porta atrás de si em um baque absurdo. Suas bochechas coram ao ver o par de olhos desejados por ela há meses, a fitando com atenção - Bom dia, vizinha! Desculpa pelo susto - ela fala sem graça, apertando as botas nas mãos. Não teve tempo sequer de calçá-las.

- Bom dia, vizinha! Dia ruim? - a voz irrompe o silêncio mórbido da rua. Nicole nega com a cabeça, enquanto encosta o quadril na soleira da porta para ter apoio para conseguir calçar as botas marrom.

- Dia agitado. Gatos. Sabe como é - a morena solta uma risadinha, afirmando algumas vezes com a cabeça. Seus cabelos soltos, quando batidos contra o sol, ficavam tão mais belos do que qualquer um que Nicole já vira - por mais clichê que parecesse. Era impossível alguém ser bonito assim em pleno raio de sol primário. Não deveria existir, mas existia. Waverly Earp era o nome do anjo. Waverly e todos os seus aventais de flores, seu regador amarelo, seu cabelo bonito contra o sol, seu sorriso animado já pela manhã e suas roupas meio indies que Nicole, particularmente, achava um charme só.

- Eu sempre fui mais do tipo que tem cachorro em casa. O Vênus é exemplo disso - Nicole fecha a feição em brincadeira e a outra ri. Uma risada que ecoa pelas casas ainda de portas fechadas pela ressaca de uma Segunda cansativa.

VenusWo Geschichten leben. Entdecke jetzt