começo e fim

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foi como um gole de vinho. seco; irregular; breve.
meus dedos percorriam tuas palavras em busca de linhas retas. mas tudo que tateavam era bambo ou cheio de espinhos.

já eram 3 horas.

ouvia teu olhar hesitante, como notas que se sobrepõem mas não se complementam. era a melodia errada, tocada em dó menor.
você não compareceu; fui recebida por seu espectro nessa mesma sala de estar.
os ladrilhos sob meus pés formando imagens do que não te disse. os quadros e bandeiras preenchendo essas paredes entonando impulsos que não confessei.

soa o alarme: 4 e 15.

vejo o aroma do que me veste e esses botões me parecem irônicos. não abotoam o peito aberto nem disfarçam as fissuras por baixo do pano. conto 8; em tempo.
preencho os espaços vazios com mais espera. você sai de foco.

diviso uma orelha, um cadarço, uma mesa de canto. o que capto é um embolado de impressões não lineares. teus ombros retesados chegam a mim com duas semanas de antecedência.
tela azul. é o espelho do mar na janela, que nada parece saber de nós.
teus pés, sem convicção, avançam. eles calçam minha reclusão e lembram que já passou das 5. permanecemos, como bibelôs de vidro prestes a estilhaçar.

penso em luz e a projeção do que somos é mais real que este momento. seus dedos são brilho, não veem.
a garganta desbota ao mesmo passo que os nós. depois os cotovelos e então, os desejos.
escorri, mas não encontrei ralo ou lenço pra desaguar.
o que sobrou dos teus joelhos foi dúvida. incerteza formando sombras em repetição. sobras.

são 6 horas: parti. 

despedidaWhere stories live. Discover now