EPÍLOGO

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DOZE ANOS DEPOIS

-Amor, você viu minha calça preta? –Mel pergunta do nosso quarto. Estou na cozinha preparando o café da manhã para nós. Hoje ela tem uma audiência muito importante e está super nervosa.

-Não sei meu bem, já olhou no guarda-roupas? –Respondo enquanto termino de fazer os ovos mexidos, não quero que ela desmaie no meio do tribunal por não haver comido o suficiente.

-Eu acabo de olhar e não estou encontrando! –Grita novamente.

Desligo o fogão e vou até o quarto. Abro a boca até o chão ao ver a bagunça que ela fez. Caramba essa mulher é um furacão!

Entro dentro do closet e procuro por alguns minutos até que voilá, a calça estava pendurada em um cabide.

-Aqui está. –Entrego a peça preta e ela puxa da minha mão e a coloca sem nem ao menos agradecer. –Mel... –Tento chamar a sua atenção, mas ela nem desvia o olhar do botão da calça. –Meu bem, -tiro suas mãos do zíper e a obrigo a olhar para mim. –Você vai arrasar, não precisa se preocupar, você é a mulher mais foda que eu conheço, e olha que conheço muitas... –Brinco e recebo um tapa na barriga.

-Engraçadinho. Argh, essa calça não quer fechar! Mas que droga! Eu não tenho tempo para procurar outra! –Me olha desesperada. Tento ajudar a fechar o zíper, mas realmente ele não sobe de jeito nenhum.

Pensando bem, Mel deu uma engordada esses dias. Será que é pelo estresse da audiência? Esse caso é muito importante para ela, pois trata de uma menina negra que foi discriminada por um colega da escola, foi tão horrível que ela inclusive tentou se suicidar.

-Meu anjo, senta lá na cama que eu vou procurar outra calça para você, Okay? –A empurro levemente até a cama e ela senta resignada.

Procuro novamente e acho algumas peças que podem servir.

Mostro cada uma para ela, porém ela rejeita todas, dizendo que não combinam com a parte de cima. Sugiro mudar a parte de cima e ela quase me bate. Mulheres.

Acho outra calça preta bem parecida com a que ela tinha que usar e coloco no seu colo.

-Que tal essa? –Prendo a respiração.

-Acho que essa serve. –Ufa.

A calça sobre bem até a cintura, mas na hora de fechar o zíper, nada. Ele continua sem subir.

-Mas que merda! O que diabos está acontecendo? –Mel joga a calça do outro lado do quarto e para minha surpresa começa a chorar.

-Ei, calma meu bem, a roupa não importa, o que importa é o que você vai dizer, vamos colocar aquele babaca na cadeia! –Tento reconforta-la.

-Ele é menor de idade princesa, não irá para a cadeia... –choraminga –Isso está acontecendo a alguns dias já, nenhuma roupa está me servindo mais! Eu não sei o que é! Eu nem estou comendo tanto, na verdade cada coisa que como, me dá vontade de vomitar e.... oh não! –Ela coloca as duas mãos na boca e me olha super assustada.

-Mel o que foi? O que aconteceu? –Pergunto nervoso.

-Eu não tenho certeza... espera. –Se levanta e começa a procurar alguma coisa nas gavetas e eu estou totalmente perdido. –Achei! –Levanta uma caixinha rosa no ar.

-O que é isso? –Me aproximo dela e tiro a caixa da sua mão. –Teste de gravidez? Quando você comprou isso Mel? –Agora quem está assustado sou eu.

-Faz alguns meses quando minha menstruação atrasou, mas no dia seguinte que eu comprei ela veio e eu acabei guardando, não quis jogar fora...

-Você acha que... –Não consigo terminar a frase. Estou literalmente tremendo.

-Não sei... mas é melhor eu fazer o teste só para garantir....

-Tudo bem, eu te espero aqui. –Incentivo e ela entra no banheiro lentamente.

Como todas as unhas dos meus dedos enquanto espero os supostos três minutos que parecem quase uma eternidade. Mel está demorando demais para sair, porque ela está demorando tanto? Me levanto e bato na porta chamando o seu nome, mas ela não me responde. Tento novamente e nada. Quer saber? Que se foda, eu vou entrar. Giro a maçaneta e suspiro de alivio ao ver que ela não trancou a porta.

A cena que vejo quando entro seria cômica se não se tratasse de um assunto tão sério. Mel está sentada no chão do banheiro segurando um bastão branco e chorando tanto que sua blusa chega a estar encharcada.

-Meu bem, o que aconteceu? Você está bem? Se machucou? –Reviso todo o seu corpo, mas não encontro nenhum sinal de que ela tenha caído ou coisa parecida.

-Ariel... –diz entre soluços –Eu.... acho... que.... nossa família.... acaba de... aumentar.

Arregalo tanto os olhos que minha testa começa a doer. Como assim? Tiro o bastão da sua mão e há duas linhas vermelhas pintadas nele bem nítidas. Oh meu Deus! Eu vou ser pai. EU VOU SER PAI!

-Nós vamos ser papais! –Exclamo e ela se levanta no mesmo instante. Nos abraçamos e começamos a pular como dois loucos que escaparam do hospício. Mas eu não estou nem aí, eu vou ser pai, porra!

NOVE MESES DEPOIS

-Meu Deus como dói! –Grito enquanto Ariel segura firme minha mão. As contrações estão cada vez mais curtas e eu sei que está quase na hora de conhecermos o nosso anjinho. –Ahhh! –Grito novamente e se não estivesse sentindo tanta dor nesse momento, até daria risada da cara de Ariel. Ele está mais desesperado que eu! Começa a correr de um lado a outro procurando sabe Deus o quê. –Amor para de andar por favor! Está me deixando doida! –Digo e ele volta a ficar do meu lado.

-Me desculpa meu bem, quer água? Quer que eu chame o médico? Quer...

-Eu só preciso que você fique calmo, Okay? –Aperto meus dentes com a nova contração e ele assente com a cabeça. O médico finalmente chega e começamos todo o procedimento. Depois de quase três horas de trabalho de parto, meus olhos se enchem de lágrimas ao escutar o choro dele. De repente, toda a dor sumiu e deu lugar ao sentimento mais insano que já tive na minha vida. Um amor tão grande que não cabe no meu peito.

Depois de limpar o meu anjinho, o colocam em cima do meu peito e ele imediatamente se aconchega e começa a mamar.

-Meu Deus, ele é tão lindo! –Ariel segura o seu dedinho enquanto o observa mamar maravilhado com a imagem.

-Sim, ele é a sua cara... –Respondo acariciando sua cabecinha diminuta. Seus dedinhos são perfeitos, ele é perfeito.

-Eu te amo tanto Mel, eu que pensei que havia conhecido o amor mais puro, mas vendo vocês dois aqui, eu sei que estava totalmente enganado. Obrigado por me dar esse presente meu amor.

-Eu também te amo muito Ariel, nosso anjinho é a prova disso. Nós vamos amá-lo até o fim das nossas vidas.

A enfermeira chega algum tempo depois para leva-lo para fazer todos os exames de praxe e eu sinto um vazio tremendo quando o levam para longe de mim. Ariel sente o mesmo, pois seus olhos não deixam ao nosso bebê um minuto sequer.

Depois de quase meia hora, ela volta com um berço com rodinhas e coloca nosso pacotinho de amor bem do meu lado.

-Bom, ele está muito saudável, parabéns papais! Já fizemos todos os exames, agora só precisamos saber o nome dele para colocar nos registros.

Ariel e eu nos olhamos e como se um lesse o pensamento do outro, dizemos em uníssono.

-O nome dele vai ser... Jonah. 

Melissa - Completo Where stories live. Discover now