Capítulo 21 - A fé ❤

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- Pode ser - Ri, um tanto desconfortável.

- Se você estiver com essa cara por causa do valor, eu vou embora. Eu vou pagar tudo hoje, então não ouse se negar e nem muito menos ficar desconfortável com isso. Eu tenho dinheiro de sobra e, pelo menos uma vez, quero usar ele para algo legal. - Argumentou, como se lesse meus pensamentos. - Com licença! - Chuck levantou a mão e a moça voltou. - Qual é a sugestão do chef?

- Ah, frango a molho pardo. É uma receita que tem como principal ingrediente o vinho tinto e é típico de Minas Gerais. - Informou e ele pareceu se agradar e apenas consentiu, deixando-a sair com os cardápios.

Eu apenas sorri de leve e abaixei minha cabeça, observando como minhas mãos ainda estavam suadas, mas menos do que antes já que ele sabe exatamente como quebrar o clima tenso.

Ficamos conversando aleatoriamente sobre algumas coisas. Tive a ousadia de perguntar sobre a irmã de Chuck e vi nos olhos dele o quanto ele a amava de verdade. Soube também que ele, quando mais novo, tentou levar um sapo para escola para mostrar a diretora, pois a chamavam de "Sapa gosmenta" na sala. Eu ri litros com isso.

Ele me perguntou coisas, mas muitas delas eram dolorosas demais, pelo menos pude contar da minha amizade com uma diretora do orfanato e como ela lutou pelo meu bem-estar até eu sair de lá enquanto ela esteve lá. E minha amizade com o melhor homem do mundo, que me deu um lar e emprego quando eu precisei.

- Com licença - A garçonete voltou com os dois pratos.

Serviu a mim primeiro e em seguida a ele.

- Espero que apreciem. Seu vinho será trazido em breve. Por conta da casa - Sorriu e saiu. Alguns segundos depois, um rapaz trouxe o vinho, que eu não sabia pronunciar o nome e nos serviu numa taça que deve custar vários anos de mensalidade da faculdade.

Começamos a comer e continuamos a conversa agradavelmente. É bom conhecer um Chuck completamente diferente do que eu vejo normalmente. Agora ele me conta que já ajudou uma nerd a fugir da escola porque ela sofria bullying. Quem poderia imaginar? Tem muito mais por trás dessa casca de arrogante e mulherengo dele.

- Me conta mais sobre você. Já falamos demais sobre mim e eu estou cansado. - Pediu.

Chuck narrando.

- O que quer saber de mim? - Ela perguntou depois de bebericar seu vinho, graciosamente eu diria.

Porque ela estava tão bonita hoje? Quando a vi de longe no portão da universidade quase tombei de tonto que fiquei.

- Bom, como era seu relacionamento com sua mãe? - Senti que peguei no ponto fraco dela e me arrependi de perguntar quando vi seus olhos desviarem do meu. - Desculpa. Eu só estou curioso.

- Eu sei. Tudo bem. É... - Pigarreou. - Minha mãe era incrível, diria que era a melhor pessoa do mundo. Eu me lembro dela me levar a um parque uma vez, e nós ficamos lá o dia inteiro. Ela me comprou um sorvete e me deixou brincar até cansar. Ela nunca fazia isso, mas aquele foi o melhor dia.

- Ela parece que era uma mãe legal - Disse e ela voltou a me olhar.

- E era. Ela era. - Respondeu.

Um silêncio constrangedor invadiu a mesa então eu comecei a pensar em algo para quebra-lo.

- Titanic.

- Han?

- É assim que eu quebro o gelo.

- Não faz nenhum sentido você querer quebrar o gelo com essa piadinha com alguém que você já beijou bêbado num beco, não acha? - Tive que gargalhar.

- Ok. Você está certa. - A mesa garçonete de antes já havia tirado os pratos e agora nos trazia uma sobremesa.

Ambrosia. O típico manjar dos deuses do sul. Queria que ela experimentasse de tudo antes de nós irmos aproveitar a feira e eu poder encher ela de qualquer coisa que ela passar o olho e gostar.

Depois de mais um pouco de conversa, agora sobre sonhos futuros. Acabamos a sobremesa e eu me senti completamente satisfeito em ver a cara de felicidade dela após acabar de comer.

Agora estávamos andando no meio da feira, ela olhava tudo com muita apreciação. As pequenas pulseiras feitas em casa e as bonecas de pano que eram caseiras também. Ela também ficava encantada por livros do século passado sobre romances que devem ser estranhos, mistérios clichês e poemas sem nexo.

- Você tem um gosto peculiar. - Segurei sua mão, tomado de coragem do momento.

Ela não se esquivou, apenas fingiu que era algo totalmente natural.

- Hum, bem... Como você sabe, eu sou peculiar. - Ela falou ainda mirando um livro de poesia.

Esse era o que ela tinha ficado mais tempo olhando.

- Me vende esse, por favor. Embala para presente, também. - Pedi ao vendedor apontando para o livro com titulo de "Dom Casmurro"

- Chuck - Olhei para ela reprovando sua futura reclamação e ela se calou.

Enquanto eu pagava, ela se distanciou de mim - soltando minha mão, o que não gostei - e foi para uma banca que só tinha cds e livros. Quando me aproximei dela, vi que eram bíblias e cds gospel.

- Você curte isso também? Coisas de igreja? - Perguntei.

- Não... - Suspirou, com ar entristecido. - Minha mãe que gostava - Passou a mão por uma bíblia de capa rosa.

- Sério? Aprendeu algo com ela? - Entreguei a sacola com o presente na mão dela.

- a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos - Ela falou, porém não entendi bem.

- Como assim?

- Foi isso que eu aprendi. Ela dizia isso o tempo todo. A fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos. - Olhou para mim e sorriu largamente, me deixando mais admirado com ela.

Em seguida ela pegou a minha mão, o que me deixou totalmente surpreso.

Caminhamos mais um pouco pela feira. Comprei uma coroa de flores para ela e tive o prazer de tirar uma foto dela, mesmo depois de muita insistência. Quando ela ficava de costas para o sol e sorria, enquanto o vento leve batia no cabelo dela, ficava incrível. Talvez eu mude de profissão só para poder tirar fotos dela.

Comprei uma câmera antiga para nós dois. Onde tirei muitas fotos Polaroid. Eu não sei exatamente se um encontro deveria ser assim, mas se é, estou feliz que eu esteja fazendo com ela. Meu primeiro encontro com a primeira garota que mexe comigo de verdade.

Assim que a tardinha chegou, levei-a para tomar um sorvete na barraquinha que tinha do outro lado da rua, com um banco que era perfeito para dar uma relaxada e olhar de longe as pessoas na feira.

- Obrigada. - Ela disse enquanto olhava as fotos - Sério, obrigada. - Reiterou e eu apenas balancei a cabeça.

Mal sabe ela que eu sou muito mais grato.

- Como eu posso retribuir? - Perguntou.

- Se você está feliz, está ótimo para mim. - Ela me olhou desconfiada.

- Sei. - Riu de leve, agora com um pote de sorvete na mão.

Depois daqui voltaremos a realidade, mas acho ótimo que ela se livrou do pensamento de que amanhã é o grande dia.

Continua...

Castelo de pedraWhere stories live. Discover now