Quadrilha

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— Manuel, mas a igreja? Você tem certeza disso? — Tobias estava incrédulo. Não era possível que essa era a ideia.


— É a melhor opção Tobias. — Quando Manuel colocava uma coisa na cabeça, não adiantava discutir. O carro sacolejava enquanto atravessavam o caminho da cidade.

— Mas qual Igreja Manuel? — Tobias estava inquisitivo. As pernas tremiam mais que o carro.

— A do caminho da roça. — Bem na hora, Manuel tomou a entrada da direita, pegando uma estrada de terra. O furgão não era adaptado para aquele tipo de terreno e ouviu vozes de protesto na parte de trás.

— Pô Manuel, segura a onda aí cara. O equipamento é sensível, você sabe. — Um homem parrudo reclamava enquanto testava o gatilho de um dos equipamentos. Estava sentado ao lado dele Heitor, um rapaz novo e esguio que manejava uma maleta. Luzia terminava de preparar as roupas.

— Mesmo que balance, segure bem. Tudo tem que estar pronto quando a gente chegar, Josué. Não podemos cometer erros. É entrar e sair.

Tobias ainda não havia digerido bem a informação. O procedimento em si não era novidade, mas uma igreja? Aquilo era diferente. Muito diferente.

— Mas na Igreja de São Cristóvão? — Tobias gaguejava. — Tem muita gente, não vai dar.

— Mas é claro que vai Tobias, tá com medo do que? — Zombou Luzia. Tobias fez uma careta.

— Olha, eu chequei com o pai da moça. A informação é quente. — Ponderou Manuel.

— Você me garantiu isso daquela vez no Banco e era mentira! Até hoje minha perna não ficou boa. — Tobias apertou a coxa.

— Aquela foi uma situação divergente. As pessoas saíram do controle porque a Luzia estava ausente. Ela só precisa fazer a atribuição dela. — Heitor completou com uma voz rouca e sonora. Tobias sabia que ele tinha razão, mas não se conformava.

— Façam o que vocês quiserem, eu só vou dar apoio. Não vou tomar parte de nada. — Reclamou mais uma vez.

— Você sabe que você é essencial para que tudo funcione, Tobias. — Heitor era sempre tão formal e calmo nessas horas que dava vontade de socá-lo, mas Tobias jamais faria isso. Ele era o verdadeiro gênio por trás do grupo. Sem ele, nada do que haviam conseguido seria possível.

O furgão passava com dificuldade pelos buracos. Em pouco tempo chegariam. Era só atravessar a ponte e....

— A ponte quebrou! — Gritou Manuel de repente, enfiando o pé no freio. A sequência de xingamentos veio como uma onda do banco de trás. Josué foi jogado na porta do veículo. A pancada fez um barulho estrondoso de metal. — Foi mal aí pessoal, é mentira. É que estão reformando um pedaço e achei que não dava pra passar.

— Manuel, espera aí. Acho que o Josué machucou a patinha. — Luzia alertou, com malícia. O motorista suspirou, desceu do furgão e abriu as portas de trás, entre lamentos e lágrimas de Josué.

— Desce aí Jô, deixa eu ver esse braço. — O braço do grandalhão parecia um pedaço de macarrão, de tão mole. — É, não vai ter jeito. Vamos ter que imobilizar. Luzia, me arruma uma tira de pano aí.

— Tá doendo muito Manuel. Será que eu vou perder o movimento do braço? — Um homem daquele tamanho fazendo cena seria cômico se não fosse trágico. Manuel segurou uma risada.

— Você deve ter quebrado algum osso, só isso. Não é tão grave assim. — Acalmou Manuel. A essa altura, Tobias apertava os nós dos dedos e suava frio no banco do passageiro do veículo.

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