1 - O pior dia do ano?

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— Por enquanto não... — respondi depois de pensar um pouco.

— Talvez não se mudar daqui, mas procurar mais além. Ir atrás de outras oportunidades, outras editoras, sei lá. 

— Eu acho que desisti. Se não desisti, não vou tentar de novo tão cedo.

— Olha, não importa o que faça, só não desista de seus sonhos. — ela apoiou sua mão em meu ombro e sorriu pra mim. — Você já tá cansado de saber de pessoas que tiveram seus sonhos recusados e depois se tornaram bem sucedidas. 

— É verdade, mas será que tenho a mesma sorte? 

— Não vai descobrir se não tentar. — Selina sorriu e pegou sua bolsa, se levantando do sofá. — Amigo, preciso ir agora. Tenho que resolver minhas coisas. 

— Obrigado por passar aqui, tá bom? — Levantei e dei um abraço dela. Seu perfume estava doce como sempre. 

— Foi um prazer, bobo. 

Levei minha amiga até a porta e me despedi. Fiquei pensando nos conselhos dela. Será mesmo? Tentei limpar os pensamentos, já estava muito mexido com tudo isso e talvez fosse melhor deixar pra resolver depois, outro dia.

Me joguei no sofá e então acabei cochilando. Acordei assustado algumas horas depois, tudo por culpa de um pesadelo. De repente, me lembrei do jantar que tinha marcado com meu namorado, Mark. Peguei o meu celular e vi a hora. Estava dez minutos atrasado! 

Sempre fui uma pessoa muito pontual. Atrasar com responsabilidades era algo ruim, mas pra mim, acabar fazendo isso com namorado ou amigos seria pior ainda! Fui correndo vestir minha roupa, escovar os dentes e então saí apressado de casa.

Peguei um ônibus e cheguei na casa dele depois de meia hora. Toquei a campainha. Fiquei surpreso ao ver quem me atendeu: seu amigo, Kenny. 

— E aí, grande Artie!

— Oi. — disfarcei um sorriso.

— Entra aí, relaxa! — respondeu, abrindo a porta pra mim. Entrei.

Mark sempre andava com seus amigos héteros. Eu não tinha nada contra eles, só não era nem um pouco próximo de nenhum. Eles não ligavam pelo fato do meu namorado ser gay, respeitavam ele e a mim também. Esses amigos estavam em sua casa, bebendo e conversando com uma música de fundo. 

Vi Mark sentado, rindo. Então, ele olhou pra mim e sorriu com um olhar de surpresa. 

— Oi, amor, que ótimo que você veio me visitar! — ele falou, vindo me abraçar e logo em seguida me deu um selinho.

Seus amigos me cumprimentaram em um tom alto, enquanto estavam sentados nos sofás que ficavam na sala. 

— E aí! 

— Olha só o Artie!

— Artie, chega aí!

— Aê, mais gente!

Dei um tchauzinho com a minha mão direita e voltei meu olhar para Mark, que sorria pra mim.

— Mark, você esqueceu? — sussurrei pra ele. 

— Esqueci do quê? — ele arregalou os olhos. 

— Do nosso jantar... — respondi, um pouco decepcionado. 

Mark era um pouco mais alto que eu e um ano mais velho. Ele tinha a pele quase do mesmo tom que a minha, mas um pouco mais rosada do que branca. Principalmente suas bochechas. É, elas eram muito rosadas. Achava isso muito... fofinho. O cabelo dele era curto, liso e escuro. Seus lábios eram finos e tinha olhos castanhos.

— Minha vida, eu... eu esqueci. — ele respirou fundo.   — Me perdoa, me esqueci completamente. 

— Não acredito nisso. — bufei e tentei me afastar, mas ele segurou minha mão. 

— Vamos. Eu me despeço dos meus amigos e a gente sai pra jantar. 

— Não precisa, Mark. Agora você já chamou eles pra sua casa, vocês podem se divertir. 

— Tem certeza?

— Tenho.

— Você não quer ficar com a gente, pelo menos? 

— Não, eu não tô num bom dia pra isso, parece que só acontecem coisas ruins a cada hora que passa.

— Artie, não fala assim, o que houve? Por que você não me contou nada? 

— Escuta, eu não consegui nenhuma editora que aceitasse a proposta do meu livro, tá? — expliquei meio estressado.

— Nossa... Por que não? Eu gostei dele. 

— Você leu também? 

— Sim, terminei hoje, foi legal. 

— O que você achou dele? 

— Bom. 

— Só... bom? — perguntei.

— Sim. — Mark me respondeu, e antes que eu pudesse perguntar mais alguma coisa, ele completou com mais palavras. — Olha, eu gostei, só não cheguei a me emocionar, gostar tanto assim da história ou algo do tipo, mas tá bom, você só precisa melhorar. 

— Melhorar o quê, Mark? 

— Não sei... tudo? A história, talvez o jeito que você escreve, o livro ficou muito grande também, parece que você enrolou demais... 

— Ah, por Deus. — eu disse, já sem paciência. — Parece que a Selina mentiu pra me agradar, só pode. 

— Hã? Não estou entendendo. 

Eu estava me afastando pra ir embora. 

— Mark, não precisa se preocupar. Aproveita a noite, preciso ir pra casa descansar. 

— Está tudo bem? 

— Não, mas obrigado por ler o meu livro e... me ajudar, eu acho. — disse, meio indeciso. 

— Tá bem, espero que fique melhor logo. — ele me falou com uma expressão de preocupação. 

Não respondi mais nada e fui caminhando para casa. Foram longos 50 minutos andando, mas eu não tinha nada pra fazer mesmo. Tentei deitar pra dormir, mas só fiquei várias horas rolando na cama enquanto pensava em muita coisa.

Eu amava Mark, mas parece que ele não me amava da mesma forma, era muito estranho. Será que era tão difícil pra ele lembrar das coisas que combinamos fazer? Será que era difícil tentar dar uma força e elogiar o namorado? Eu não sei... ultimamente eu realmente me pergunto se estou sendo feliz com ele. Eu estou com um pessoa que amo, me importo, me preocupo. E ele? Será que sente tudo isso por mim também? Se eu continuar me sentindo dessa forma enquanto presencio essas coisas, não vou ter escolha. Vou ter que conversar com ele. 

Acabei decidindo trabalhar em algo na área de administração mesmo, pelo menos por enquanto. Então, peguei o meu celular e enviei meu currículo para várias empresas na cidade de Vienna. Acabei caindo no sono e acordei de manhã com uma notificação.

Era um e-mail. 

"Senhor Cavill

Nos interessamos muito pelo seu currículo.

Está convidado para a entrevista de emprego na nossa empresa, hoje às 15h ou 20h, o que for melhor para o senhor."

Sabe quando você fica animado com algo, mas ao mesmo tempo desanimado? Então, estava me sentindo assim. Se fosse uma oportunidade como escritor eu estaria mais feliz. 

Enfim, bola pra frente. O que será que me espera nesse lugar?

FIM DO CAPÍTULO

Gente, perdão pela demora. Tive muitos imprevistos durante esse tempo e a inspiração demorou a voltar também. Espero que entendam! Obrigado pela compreensão. 

Próximo capítulo em breve.

Dois homens, um coração (Romance Gay)Where stories live. Discover now