1. O Pedido de um Anjo Guardião

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Felipe está pensativo sobre o curso que vai escolher. Um deles é o acompanhamento de um grupo de estudo-tratamento de espíritas que fracassaram na última encarnação por negarem a mediunidade e seu convite ao autoconhecimento e à espiritualização. É um curso de difícil acesso. Será assistido no quarto andar do Colégio. Quem conhece as normas do colégio, sabe, lá imperam três regras centrais: não se atira pérolas aos porcos; sinceridade absoluta; mérito do esforço próprio. E essas normas estão refletidas em todos os setores do colégio, inclusive, no acesso aos diversos andares.

Pensa mesmo em desistir, mas lembra-se do convite de Gabriel Delanne que lhe disse que poderiam trabalhar juntos na Terra. Uma proposta como esta, trabalhar com um espírito missionário, mesmo que exija muito sacrifício, ele por nada perderia...

O curso tem três módulos e em cada módulo a conduta de alguns espíritas será avaliada. Não para a condenação, mas com objetivo de socorrê- los. Durante o curso haverá muitas regressões de memórias para que se entenda os motivos de seus erros recentes.

Como chegarei ao quarto andar? É pensando nisso que Felipe, no jardim do colégio, aguarda a oportunidade de falar com Gabriel. Quando espera, distraído em seus pensamentos, alguém lhe toca o ombro, ele se vira.

– Gabriel! Estava pensando em você.

– Eu sei, responde Gabriel sorrindo.

– É... Felipe entende que ele captou seus pensamentos.

– Com o tempo, você se acostuma com a comunicação telepática. Diz com bom humor. Afinal, vamos trabalhar juntos, não é?

Felipe sorri feliz com a certeza que seu amigo realmente deseja que ele o ajude e pergunta: eu sei das dificuldades para se chegar aos três primeiros andares, mas não tenho nenhuma ideia sobre o quarto andar... Fala Felipe timidamente.

– Não há dificuldade. Quem não está preparado, simplesmente não chega.

Explica com alegria.

– Mas... Como eu farei... Na verdade, nunca pensei em alcançar um curso acima do terceiro andar...

– Sei disso. Hoje, você não teria condições de estar lá... Comenta Gabriel.

– E como eu conseguirei...Felipe não está entendendo nada.

– Calma, amigo. Eu explico. Muitas vezes, quando o espírito mostra dedicação e sinceridade, ele pode ter acesso a um aprendizado a título de empréstimo... De fato, você não tem ainda condições evolutivas plenas para participar deste curso, mas por causa de sua conduta, quero dizer, de sua dedicação, pai Joaquim, a quem todos ouvem com muito respeito, conseguiu esse "empréstimo" da Misericórdia Divina para você.

– Ah! Quer dizer que agora estou ainda mais "endividado"?! Brinca Felipe.

– Exatamente. Neste caso, o avalista é seu guia espiritual. Conclui Gabriel.

Ambos riem.

– E quanto as escadas... Fala Felipe.

– Não se preocupe. Até o terceiro andar é com você, depois é comigo. Felipe o abraça com gratidão.

– Calma aí. Quando estivermos trabalhando juntos é que quero ver sua gratidão, brinca Delanne.

Despedem-se.

Felipe tem uma semana para se preparar. Todas as noites ora e com o amparo de pai Joaquim vai estudar nas bibliotecas da escola. Em uma destas noites, quando sai da biblioteca do segundo andar, pai Joaquim o aguarda.

– Pai Joaquim! Diz Felipe feliz.

– Hoje nós vamos visitar um amigo seu. Comenta o nobre mentor.

– Quem? Indaga curioso.

– Avelino. Fala pai Joaquim sem explicar qualquer detalhe. Partem.

Felipe mal pode conter a curiosidade. Qual seria o motivo da visita? Logo chegam ao apartamento do amigo. Entram com tranquilidade, pai Joaquim cumprimenta o guia espiritual do jovem, que os espera a entrada e, em seguida, orienta telepaticamente a Felipe que se prepare para não julgar, enquanto caminham para o quarto de Avelino. Entram. Felipe tem vontade de gritar. Acalme-se. Orienta pai Joaquim.

Apesar de bela decoração, da vista deslumbrante, o ambiente espiritual é terrível. No quarto, moram entidades muito sofredoras e necessitadas. Algumas viciadas em sexo que estimulam Avelino ao hábito da pornografia.

– Eles não podem nos ver. Explica pai Joaquim. Trouxe você aqui a pedido de Aureliano, o guia espiritual de Avelino. Ele tem esperança que você consiga mostrar-lhes o quanto o cultivo da inferioridade traz intensas angústias emocionais.

– Mas, como posso fazer isso? Indaga Felipe.

– Nossa obrigação é socorrer aqueles que desejam ser amparados e nunca impor nosso desejo na vida dos outros. Explica pai Joaquim e pede, observe a estante de livros.

Felipe curioso percorre os títulos dos livros e para sua surpresa ali vê o Livro dos Espíritos e o livro Renúncia, psicografado por Francisco Cândido Xavier.

– Se ele for capaz de ler com desejo sincero de aprender estes dois livros, a vida dele mudará completamente. Avelino tem a missão de trabalhar como médium de cura, mas se continuar cultivando suas paixões inferiores, em breve arruinará a própria missão reencarnatória. Explica Aureliano com uma voz que expressa preocupação por seu protegido.

– O que nós te pedimos é que o incentive a ler estes livros que foram um presente que Aureliano inspirou que dessem ao pai dele na empresa que trabalha.

– Como farei isso? Indaga Felipe curioso.

– Nós faremos que, em uma conversa entre vocês, o assunto mediunidade surja "ao acaso". Quando isso acontecer, basta que você se permita ser inspirado e pai Joaquim dará as orientações. O mais importante é que você consiga incentivá-lo a ler estes livros. Pelo menos, O Livro dos Espíritos. A partir daí terei condições de o orientar melhor. Explica Aureliano.

– Podem contar comigo! Diz Felipe feliz em poder ajudar e em ver como são dedicados os guias espirituais.

Se todos soubessem que existem espíritos elevados cuidando de cada um de nós... Pensa Felipe.

– Saberão, responde Aureliano, e seu trabalho com o Gabriel vai ajudar muitos a entenderem isso. Conclui.

Felipe olha para pai Joaquim espantado não com a leitura de seu pensamento, mas com aquela revelação, como ele saberia sobre sua ligação com Gabriel?

– Ora, Felipe, diz Aureliano descontraído. Você não acha que trabalhamos isolados, acha?! Meu Avelino vai trabalhar com vocês no mesmo centro espírita! Essa é a programação dele.

– Está explicado. Diz pai Joaquim feliz com mais um compromisso assumido por Felipe. Ele sabe que apenas nos ocupando cada vez mais com as tarefas do bem é que crescemos.

Felipe acorda feliz. É sexta-feira. Na escola, durante a aula, começa a lembrar mais detalhes do sonho com o guia de Avelino. Ora em silêncio e envolve Avelino em boas energias. É o início da ajuda. À noite, sente-se um pouco sozinho. Lembra-se de que no futuro terá amigos com as mesmas afinidades. Resolve ouvir um podcast espírita, o PodSim e depois, ler um bom livro. Domingo será sua primeira aula. Quero estar preparadíssimo! Pensa antes de dormir.

Medo e Mediunidade - Se a Mediunidade Falasse 4Where stories live. Discover now