O sexo é certo

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Eduardo acordou ansioso.

Poucas coisas tinham esse poder sobre ele, que enfrentava com a mesma cabeça erguida conflitos amorosos e ataques homofóbicos. Sua vida sexual ativa e seus trejeitos considerados pouco masculinos sempre o colocaram frente a ambos os problemas. As paixões, por um lado, esvaneciam-se sem demora quando do surgimento de algum novo coração ou corpo para ocupar os pensamentos. Já as ofensas de sujeitos inconformados com a existência de outras pessoas no mundo passavam em branco e viravam fragmento de memória em questão de instantes.

Desde pequeno Dudu lutara pelo seu direito de existir entre pessoas que não compartilhavam de seus desejos ou tampouco entendiam seus movimentos hiperbólicos. O olhar alheio dos outros era a plateia para o seu espetáculo particular, mesmo quando o resultado obtido não fossem os aplausos esperados. Não que agisse em busca de atenção, esse é um pensamento que sempre recusara. Sua personalidade extrovertida e a força de caráter para defender a sua posição no mundo é que o destacavam e exigiam providências daqueles menos aptos à tolerância.

 Embora a experiência houvesse lhe ensinado a lidar constantemente com a dor e também a escondê-la habilmente por baixo de uma camada de ousadia e irreverência, foi ao mesmo tempo a fronteira e abismo entre ele e sua família. No dia em que as discordâncias com seu jeito tornaram-se físicas por meio da mão de seu pai, Eduardo juntou uma mochila com algumas roupas e deixou sua casa e cidade. Aos doze anos era tão do mundo quanto se poderia esperar de alguém que não pertencia a ele. Voltou à residência três semanas depois com a promessa de que nunca mais seria encontrado com as calças arriadas e algum vizinho lhe penetrando. Não foi mentira: nunca mais seus pais o flagraram durante suas vivências sexuais. Isso não significou uma redução em suas aventuras e explorações de corpos e prazeres, apenas deixou-o mais atento aos sinais de perigo. Seus pais, talvez inconscientemente, passaram a mantê-lo informado sobre onde estavam e especialmente a que horas chegariam em casa todos os dias.

O silêncio entre os parentes foi convenientemente disfarçado ou substituído pela compra de um computador, o qual passou a absorver bastante tempo e atenção de Eduardo. Sem demora ele descobriu as facilidades que a internet oferecia para explorar outros mundos e conhecer pessoas de todos os lugares, em especial de cantos ainda inacessíveis da cidade.

Junto ao computador Dudu passou a explorar a sua própria imagem em comparação com outras tantas que encontrava virtualmente. Era um jovem tipicamente bonito, loiro, olho claro, pele lisa quase de moça. Aproveitara-se de suas características físicas desde que se podia lembrar, praticando uma provocativa arte de sedução. Se antes do acesso à internet encontrava-se com vizinhos, primos e eventualmente professores inclinados aos mais jovens, após conectar-se ao mundo passara a conhecer também advogados, vendedores, médicos e outros adolescentes entediados e sedentos por sexo.

Finalizados os estudos do Ensino Médio, Dudu dedicou-se a estudar para o vestibular. Pairava sobre sua casa uma esperança de aprovação motivada pela libertação de filho e pais. A liberdade chegou somente um ano depois, quando já trabalhando por conta própria, foi aprovado no vestibular para o curso de Publicidade e Propaganda e anunciou em casa que se mudaria para mais próximo da faculdade. Não caíram lágrimas nem se apertaram abraços, embora os corações de todos estivessem aquecidos com aquela notícia.

Os cinco anos seguintes foram dedicados aos estudos do Ensino Superior, culminando no dia em que enfrentaria a banca de defesa de seu trabalho de conclusão de curso. Dudu estava mais do que preparado para argumentar sobre suas escolhas e caminhos na pesquisa monográfica que empreendera para encerrar seus estudos, mas ainda assim não conseguia deixar de sentir ansiedade frente ao fato de que teria um renomado professor como membro da banca. Conhecido pelas suas críticas ferrenhas e muitas vezes desproporcionalmente duras, o professor Afonso Guerreiro causava um efeito estranho sobre Eduardo, uma ansiedade ainda sem nome. Ele próprio havia requisitado à sua orientadora que chamasse o sujeito, desafiador como de costume. Aceito o convite, porém, a iminência do encontro ganhou uma proporção diferente da imaginada inicialmente.

Ai ajuns la finalul capitolelor publicate.

⏰ Ultima actualizare: Jul 14, 2014 ⏰

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