XXIX - Pêndulos

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Nenhuma das outras se mexeu. Fui eu, quem teve que abraçar Livie enquanto ela chorava e gritava e chamava de forma incoerente o nome da irmã – E de alguma forma, como um dia eu fizera com o nome de Isis, eu sabia que era Lilie que era chamava.

Foi Isabel quem deu a notícia, com os olhos cheios de lágrimas que eu já não podia dizer que eram apenas de tristeza pela morte de Lilie, ou alegria por Livie finalmente ter despertado após quase duas semanas. Quando Apolo avisou que ela havia acordada, todas nos pomos a correr para a enfermaria sem lembrar-se da noticia dolorosa até que ela perguntou.

"Onde está minha irmã?". A pergunta ressoava na minha mente enquanto as lágrimas atravessavam o busto do meu vestido e passavam para minha pele. A expressão de Napho, com pelo menos uma semana de barba por fazer e claramente mal alimentado, deixava a entender que ele havia tido a decência de não contar. Não era o papel dela, era o nosso. Nós éramos as irmãs que restavam para ela.

-Livie... - Todas nos viramos para Napho. Imaginei que como eu, todas estivessem presas naquela nuvem que se estendia ao redor de Livie, e havíamos esquecido a presença do embaixador.

-O que você ainda está fazendo aqui? – Isabel o fuzilou com os olhos. Se ela olhasse sobre o ombro, provavelmente gritaria com todos em todas as macas que olhavam com pena e tristeza para nós. Todos naquela enfermaria sabiam como era perder alguém, ou ao menos como era temer esta perda.

Não era algo privado. Não precisava ser. Eu sabia que não precisávamos esconder a nossa dor, mas também sentia aquela vontade sufocante de esconder Livie do mundo. Ela grunhiu algo contra meu abraço, e soltei um pouco os braços que envolvia ela.

-O mandem sair – ela soluçou, apertando as mãos em punhos. Isabel me empurrou, se abaixando e pegando as mãos dela, a forçando a abrir até revelar as marcas roxas que as unhas haviam deixado na palma dela.

-Você deveria ir – Alicia falou se aproximando de Napho – Ela precisa ficar...

Sozinha. A palavra que Alicia engoliu foi sozinha. Não, Livie não ficaria sozinha, não com todas nós ali, não com todos que estavam naquela enfermaria. Nós não a deixaríamos ficar sozinha nem se ela quisesse, mas não ficaria com Napho.

-... Com a família – falou Tina, se aproximando da conversa também – Nós. A família dela.

-Mas eu preciso... – ele passou a mão, prendendo nos cabelos emaranhados – Preciso explicar pra ela, contar que...

Respirei fundo, vendo a confusão no rosto das duas, olhando para Livie e para Napho sem saber o que fazer. Passei com cuidado por trás de Isabel, sem encostar nela como se como um lobo ela pudesse me atacar a qualquer momento – Você, embaixador, precisa de um banho – falei, parando ao lado de Alicia.

-E se barbear – complementou Alicia, com um sorriso de desculpas.

-E muito provavelmente comer e dormir – Tina o mediu de cima a baixo com desgosto.

Passei o braço pelo de Napho, o puxando – Eu lhe acompanho até a porta, embaixador – Ele assentiu estático, enquanto eu lhe afastava em silêncio até o corredor e então soltava seu braço.

-Ela me culpa – ele falou, por fim, os olhos em geral brilhantes e cheios de vida estavam ocos.

-Ela está em choque, Napho, a deixe passar por isso em um lugar seguro – pedi, sem saber o que falar para ele além da verdade – Livie é boa e esperta, ela não vai te odiar por isso, ela apenas não precisa dos seus motivos e de explicações agora. Ela precisa chorar pela irmã.

-Nunca me senti assim – ele suspirou, olhando para os próprios pés – Nunca no mundo, Bethany. Tive amantes e amores, fugi do meu próprio casamento um dia, e nunca quis tanto ser aquele no qual uma garota derramava suas lágrimas.

A Rainha Da Beleza - A Rainha da Beleza Livro I [NÃO REVISADO]Where stories live. Discover now