- Vai já para cima se arrumar. Agora! Vista aquele vestido rosa que fica lindo em você e pelo amor de Deus, arruma esse cabelo! - Gritava a mulher.

- Mas mãe...

- Nada! Ou você faz o que mando e participa do café como uma boa moça ou está de castigo! Não vai sair e não vou deixa-la ir a escola amanha fazer essa prova. - Disse Dolores ameaçadora, arrancando o vidro de pepino da mão da filha.

- A senhora não pode! É obrigatório! Eu reprovo se não fazer. - Disse Allie chocada, evitando chorar com a grosseria da mãe.

- Não to nem aí! Agora você vai se arrumar. Agora Decker! - Gritou ela, apertando o pulso da filha, fazendo suas unhas compridas cravarem na pele dela.

A garota tentou puxar a mão e a mãe deu-lhe um tabefe. Allie subiu as escadas chorando. Dolores gritava que ela era um desgosto como filha e que preferia Finn que era um rapaz embora ele estivesse saindo da linha. Ela ficou arrumando os aperitivos, com muita pressa e agilidade. Deixou a mesa perfeita, com uma toalha bordada com rosas e tudo arrumadinho em pratos transparentes e de cerâmica. Eles não eram ricos, mas até viviam bem conforme dava. Felix era um segurança no teatro da cidade e ganhava bem. Bancava a casa, os filhos e a esposa. Sobrava pouco, mas Felix fazia render. A campanhia tocou e ela tirou o avental. Arrumou o cabelo, dando uma leve puxada com os dedos em seu penteado. Conferiu a maquiagem e o batom no espelho da sala e na segunda batida ela correu atender. Eram elas.

- Olá Dolores ! - Disse a senhora Stefanine, sua melhor amiga e a mais fofoqueira de todas. Ela usava um vestido apertado e mesmo velha, não polpava no decote. Seu chapéu era igualmente pavoroso, mas estava na moda e era de marca. Aquelas mulheres fúteis gostavam daquilo.

- Olá querida, entre. - Disse ela, dando dois beijinhos na bochecha da amiga. Fez o mesmo com as nove demais e por ultimo, cumprimentou Luzianna, a mulher bem de vida que desejava ser a sogra de sua filha.

As senhoras se sentaram nos sofá e demais cadeiras deixadas pela sala. Dolores tinha a mesa do centro da sala preparada com aperitivos e bebidas. Ofereceu a ela e cada uma pegava um pratinho e se servia. Margerry era uma mulher mais jovem das demais, com trinta e oito anos, mas era bem rechonchuda. Um amor de pessoa e Allie não entendia o porque dela andar com a sua mãe e as demais. Enquanto as mulheres conversavam, fumavam um cigarro e bebiam chá, Allie desceu as escadas, fazendo um grande Oh na sala. Sua mãe foi a ultima a vê-la e o choque foi dos maiores. Enquanto suas amigas cochichavam e outras riam de sua filha, Luzianna encarava Allie com repulsa.

- Allie! Querida, pode terminar de se arrumar, nós esperamos. - Disse Humbridget querendo parecer calma, mas estava morrendo de vergonha e ódio.

- Já estou pronta mamãe. - Disse ela, pulando os três últimos degraus da escada, deixando as mulheres ainda mais horrorizadas.

- Decker! - Gritou a mãe, surtando em direção a filha que servia um prato enorme de comida, enquanto enfiava vários doces na boca.

- Hum? - Perguntou ela, sem entender. Ela estava faminta e o que mais gostava era da comida de sua mãe, só por isso aturava aquelas palhaçadas.

- Sua filha parece uma porca de granja Dolores! - Comentou Tatiane, a líder do conselho de mulheres, fazendo todas rirem.

- E saber que ela quer casar essa menina com meu amado filho. Lucca nunca olharia para sua filha, lamento. - Disse Luzziana, horrorizada com o estado da filha da amiga.

Allie estava usando o vestido horrível que sua mãe mandou, mas sem meias e com aqueles tênis all star. Allie não tinha depilado as pernas, deixando os pelos aparecerem. Seu cabelo estava solto, embora fosse liso estava só jogado. A filha para piorar comia sem parar. Dolores surtou e avançou em Allie pelos seus cabelos. A garota não entendia o que havia feito de errado, Dolores a puxava pelos cabelos, em direção a escada. Então ali se soltou e confrontou a mãe narcisista pela primeira vez:

- Me solta Dolores! - Gritou ela, chorando.

- Cale a boca e suma para seu quarto! Vista algo descente só desça depois de pronta. Não vê que temos visitas?! - Gritava Dolores toda vermelha igual tomate, quase espumando de raiva e vergonha da filha.

- Nós estamos de saída. Até mais ver, Humbridget. Vamos meninas, melhor do que essa festa de baixaria. - Disse Tatiane, pegando sua bolsinha e chamando as demais mulheres para ir embora.

- Esperem! Não, por favor! Luzianna, por favor! Allie é uma boa garota, de uma chance a ela. - Implorava Dolores, fazendo Allie finalmente entender.

- Espera, você estava tentando me casar com o filho dessa senhora? - Perguntava Allie chocada, toda descabelada e com o rosto já inchado de chorro.

- Sim, sua mãe queria casa-la com meu querido filho. Mas ele nunca olharia para uma criaturinha assim como você. Desculpe. - Disse a mulher esnobe, saindo primeiro enquanto as outras a seguiam rindo.

- Boa tentativa querida, mas acho melhor você trocar de filha. Ela parece uma espiga de milho! - Ria Tatiane, se sentindo vitoriosa uma vez que odiava Dolores e só a aturava por ser obrigada pela igreja.

Quando ela saiu por ultimo, fechando a porta, Dolores deu o grito. Ela estava em fúria. Foi até a filha e a pegou pelos cabelos, gritando com ela. Allie tentava se soltar e sua mãe dizia o quanto ela era uma coisinha nojenta e que estragava sua vida. Dizia que ela merecia mais de uma filha e que preferia uma lebrosa a ter Allie. Ao ouvir tal coisa, Allie chorrou ainda mais. Empurrou a mãe com força e essa caiu com tudo no degrau da escada. Dolores gritava de dor, com dificuldade se levantar.

- Eu não amo você Dolores. Você nunca foi uma boa mãe para mim. Eu vou embora dessa casa! - Disse Allie correndo, subindo as escadas.

Enquanto Allie fazia uma trouxa de roupas, pegava sua mochila e jogava os livros que ela tinha e cadernos. Fechou a mochila com tudo misturado e ainda chorando, mas agora de raiva, ela trocou aquela roupa, por algo que gostava. Vestiu os tênis e penteou o cabelo, fazendo um rabo de cavalo alto. Com toda coragem que tinha, saiu do quarto e desceu as escadas. Dolores estava tomando uma taça de vinho tinto quando viu Allie descer com uma mochila nas costas.

- Se você sair por essa porta, esqueça que tem uma casa e uma mãe. - Disse ela ameaçadora.

- Você nunca foi uma mãe. - Disse Allie indo para porta. Dolores correu e a pegou pelo braço.

- Nunca mais volte. Você é um horror! - Disse Dolores com raiva fincando as unhas pintada de vermelho no braço da filha.

- Não voltarei. Você é uma mejera! - Disse a garota encarando a mãe, essa deu-lhe um tabefe.

- Adeus, Dolores. - Disse Allie saindo porta a fora. 


           A mulher ficou eufórica. Queria ir busca-la pelos cabelos mas subiu as escadas apressada. Entrou no quarto de allie e fitou as duas estantes com cinco prateleiras de livros. Em um surto de raiva, jogou tudo no chão e um por um, ela rasgava as folhas e estragava a capa. Ela gritava de ódio, sabia que o que a filha mais adorava era esses livros. Mas eram muitos e ela não tinha mais força. Deixou tudo ali, jogado no chão. Pulou em cima dos livros, pisando com furia e desprezo. Pegou as roupas do guarda roupa e levou tudo para a sala. 

      Depois de descer as escadas e passar a cozinha, jogou todas as roupas na lareira. Pegou um fosforo que ficava ali em cima da lareira e riscou nessa. Jogou na larreira e viu as roupas queimarem. Subiu ao quarto e os livros que ainda estavam inteiro elas amontoou numa trocha com o lençol de cama da filha. Jogou as demais roupas intimas da gaveta e o que tinha no guarda-roupa. Fez um nó e levou o grande bolo de roupa para lareira. Na sala, ela tentava queimar tudo de uma vez, mas a lareira era pequena e não cabia udo.  Com raiva e fúria, chutava tudo tentando socar. Mas o cansaço e a pressão alterada a fizeram parar. Ela pegou a garrafa de vinho e bebeu no gargalo, subindo as escadas. 

      No dia seguinte, Allie não apareceu. Felix falou com a filha e essa ficou na casa de uma senhora que trabalhava na biblioteca da escola. Allie fez a prova e algumas semanas depois recebeu o resultado. Tinha sido aprovada no terceiro lugar da cidade. Com a nota tão alta, ela entrou em um curso militar no verão e saiu definitivamente de casa, indo para Chicago. Ela nunca mais voltou para casa dos pais. Se formou e fez faculdade. Com estudo e experiencia no exercito, ela decidiu seguir carreira de policial. Fez outro curso e se especializou em detetive e depois em agente especializada. Anos se passaram e Allie nunca mais pisou em casa. Entretanto, ela recebia ligações do pai e as vezes de Finn até que esse se perdeu na droga e a abandonou também. 

Vamp: O INÍCIO  - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora