Até Breve

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Querido Gael, estou escrevendo essa carta, para que saiba, estou escondendo meus sentimentos a muito tempo e sinto que não posso mais fazê-lo.



Sou completamente apaixonada por você, desde a primeira vez que te vi, nos corredores da escola, seus cabelos loiros exibiam pequenos cachos, iguais as de um anjo, seus olhos azuis brilhavam como estrelas no céu, e seu sorriso, ah, ele fez meu estômago embrulhar, como se houvessem mil borboletas voando dentro dele.



Naquele dia você falou comigo, durante a aula de física, disse que não entendia como converter Celsius para Kelvin e perguntou se poderia ajuda-lo, é claro que respondi Sim, antes mesmo de pensar, foi somente então que se apresentou me estendendo a mão e quando fiz o mesmo, você beijou a minha.



A partir daquele momento viramos amigos e desde lá cinco anos se passaram e meu sentimento apenas cresceu, contudo, mesmo estando contigo em todos os momentos, me viu sempre como uma irmã mais nova, o mais perto que chegamos de um beijo, é algo sobre não quero escrever agora, pois estaria colocando a carroça na frente dos bois...



Aqui em meu quarto, olhando para o teto, não consigo parar de pensar, em como fui idiota por não ter lhe falado, por que ser rejeitada não me faria sofrer tanto, como o que sinto agora.



Nossas fotos, estão espalhadas pela cama, em cima de meu corpo, como um enorme cobertor de sentimentos, ainda lembra delas?



Minhas favoritas são: A que estamos andando de patins, lado a lado de mãos dadas; a de nossa viagem para o Canadá, na frente do Lago Louise, de quando fizemos intercâmbio juntos; por último, porém não menos importante, aquela em que você está tocando violão e eu estou sorrindo como boba olhando para ti, até hoje quero descobrir para quem compôs aquela canção, apesar de que em alguns momentos, tenho certeza de que foi pensando em nossos momentos, por que ela os descreve com uma enorme perfeição.



Suas músicas, me tocam de forma profunda e são elas que ouço enquanto escrevo isso, elas são a única maneira que encontro de não me sentir tão só, as fotografias retratam nossos momentos, mas as músicas, eternizaram em melodias suaves, a rouquidão em sua voz, que contrasta perfeitamente com cada acorde tocado por seu violino.



Gael, sinto tanta sua falta...



Sei que nunca fui a mulher com quem sonhou, sou chata, insegura, mandona, mudo de humor rapidamente, vejo apenas meus defeitos, mas ainda assim me amava... Quanto a ti, sempre foi muito mais do que desejei, não apenas atendeu todas minhas expectativas, como as superou, parecia até mesmo que havia saído de um daqueles livros clichês que eu não largava.



Te fiz sorrir durante anos e vice-versa, todos nos viam como um casal, menos a única pessoa que precisava ver isso. O mundo inteiro sabia o que lutava para esconder, toda via como sua mãe (e a minha também) dizia: "Você não é todo mundo".



A cada dia que passávamos juntos ficava mais difícil esconder, pois quando te via, meu coração parecia pular de meu peito.



Não sabe como queria ter dito isso antes, queria ter lhe confessado tudo quando ainda tinha chance, mas agora do que isso adianta?



Até agora, não sei bem o motivo de estar escrevendo isso, se sei que nem ao menos a lerá, não porque está ocupado, ou com outra pessoa, mas por que simplesmente não pode...



Terei que enterrar meus sentimentos à sete palmos a baixo da terra, assim como enterrei seu corpo, frio e sem vida.



Quem diria que seu coração pararia de bater?

Um coração tão jovem...

Como pode parar de bombear sangue?



Porque correu tanto a ponto de fazê-lo enfartar?



Sua família não sabe que você sentia dores no peito à um bom tempo, mas eu sim, e não me perdoo por não te ter arrastado até um hospital, porém não imaginava que fosse te perder, 23 anos é muito cedo para alguém partir.



Fui tão irresponsável e me sinto tão culpada, por ter te deixado ir embora naquele dia, estava tudo indo bem, até eu dizer que me mudaria para Londres, e não poderia mais te ver, pois meu novo namorado tinha ciúmes...



Como deixei uma paixão de verão me controlar? Por que simplesmente não fui atrás de ti, quando gritou que me amava?



Não merecia seu amor, me convenci disso por tanto tempo, que cheguei acreditar, pensei ter te esquecido, até ver seu corpo tremer e seus olhos ficarem vermelhos de tanto chorar, mas ainda assim não fui atrás, pois meu orgulho não deixou.

O último e primeiro beijo que lhe dei, foi em sua testa, segundos antes de fecharem seu caixão pela última vez.

Me arrependo tanto Gael, sinto-me sufocada com tudo o que está aqui dentro e não tive coragem de dizer. Ah se eu pudesse voltar no tempo, meu Deus, como eu desejo voltar para aquele instante e fazer tudo diferente...



Quando soube que seu corpo havia sido encontrado caído na rua, sem vida, meu mundo desabou, os médicos disseram que o enfarte aconteceu por causa de uma doença congênita, que até então seus pais não faziam ideia de que carregavam, todos sempre tão saudáveis, sem preocupações elevadas, com problemas como todas as famílias, mas que sabiam resolver juntos... Eles sentem tanto a sua falta...



Eu sinto muito a sua falta.



Mas meu amor... Em breve estarei aí com você... não posso dizer como farei isso, pois sei que o que farei agora te decepcionaria, você me ensinou a lutar contra meus demônios interiores, e agora eu simplesmente os havia acolhidos novamente e todos dizem o mesmo na minha mente, não tenho motivos para continuar na terra.



Se tivesse aqui me diria para não ser tão impulsiva, que ainda tenho uma vida longa pela frente, porém não está aqui fisicamente, e sinceramente não vejo um futuro, uma vida sem você.



Gael, estrela mais brilhante que habita minha galáxia, em alguns minutos farei parte do seu universo... Até breve.



Para sempre sua, Stella.

Estilhaços de mimWhere stories live. Discover now